Você carrega a marca de sua identidade cultural, queira ou não, e é muito difícil se livrar inteiramente dela. É como um sotaque na hora de falar um outro idioma que não o seu nativo, é muito difícil perde-lo por completo, pouquíssimas pessoas conseguem. É por isto que é chamada de identidade, porque está dentro de nós, e está em nós porque foi parte de nosso processo de formação social e educacional, nas marcas herdadas da geografia da terra aonde nascemos, que nos foram transmitidas por aqueles que nos receberam para a vida em tais terras. Entretanto, são marcas que se transformam ao longo de nossas vidas, pois a nossa identidade cultural não é fator estático, sendo humanamente dinâmica.
Nossas cadências próprias são únicas. Nossa característica animal instintiva alimenta nossa matriz de comportamento e de construção de nossos laços sociais. Nosso universo mostra como a prosperidade em nossa vida depende de nossa capacidade de encontrar e construir alicerces em torno de pontos de equilíbrio e de harmonização entre a nossa capacidade racional, e a nossa estrutura sentimental em alinhamento às nossas referências sociais. Para concluir a reflexão de entendimento de quem somos, precisamos ter a consciência de como somos influenciados pelos elementos característicos da terra onde nascemos e onde crescemos, e pelas crenças e elementos culturais que nos alimentaram intelectual e emocionalmente durante o nosso processo de formação.
Quando nascemos não temos como escolher quem serão nossos progenitores nem onde chegaremos (em qual família, em qual cidade, país ou continente). A única certeza que há é a de que, como seres humanos, chegaremos ao Planeta Terra, o único lugar no universo inteiro que é habitado pela nossa espécie. A partir desta ausência de escolha, crescemos imersos numa identidade cultural do qual aos poucos vamos tomando consciência, primeiro pelo convívio familiar, depois pelo convívio com uma vizinhança e uma unidade educacional, até alçarmos voo solo, já impregnados pela identidade cultural que tais convívios nos proporcionaram. Ter consciência de quem somos, de quem você é, envolve entender a tudo isto.
A medida que cada um toma consciência de sua identidade cultural, e reflete sobre si mesmo, autoconhecendo-se, faz suas próprias escolhas de identificação ou rejeição a alguns traços desta identidade coletiva à qual está imerso. É natural! Como já exaustivamente demonstrado, a transformação constante e a adaptabilidade ao meio estão no cerne de nossa natureza e de nossas características como seres humanos.
Nossa vida é um processo de mudança contínua, seja do que nos foi culturalmente imposto em nossa formação, seja na essência do nosso "eu", aquilo que te diferencia de todos a sua volta, mesmo daqueles que convivem na mesma cultura que a sua.
Cabe a você decidir se a condução deste processo de mudança individual contínua ao longo de sua vida será decisão sua - pautado por suas próprias escolhas - ou uma decisão de fora para dentro. E você não pode se esquecer do que já sabemos sobre a nossa natureza animal: somos uma espécie social, de convívio em bando, logo nem tudo na sua vida será uma escolha exclusivamente sua, há que saber conviver e se relacionar, sabendo ceder no que for importante na hora de construir laços sociais, mas também sabendo zelar pelos seus próprios princípios, aqueles que o formam como pessoa humana, que são a sua essência e fazem parte do seu propósito de vida.
Para conhecermos a nós mesmos, temos que partir da identificação do que é efetivamente o seu "eu" e de quais são os "teus" valores, e diferenciar isto do que é mera reprodução da identidade cultural à qual você está fazendo parte. É um processo central de identificação e superação do cerne das coisas que o cercam nesta vida. Entender o cerne está justamente associado à capacidade de discernir - neste caso equivalendo a discernir você e o seu interior de tudo que está à sua volta em seu exterior - para buscar a harmonia e o equilíbrio dos fatores físicos e abstratos que te formam como pessoa.
Para alcançar a esta consciência, precisamos cruzar a identidade cultural do meio que vivemos com a memória passada de tudo o que foi vivido, para a partir disto entender quem somos, o que construímos e o que nos tornamos. É a partir desta consciência e desta capacidade de autoconhecimento que nos tornamos capazes de fazer as melhores escolhas para definir nossos caminhos e nossa trajetória no futuro.
Em nós, todos temos algo interno, cujo brilho permanece sempre conosco durante toda a nossa vida, e carregamos algo externo, que passa pelas fases vividas por nós. É da interação inteligente entre estes dois elementos que é construída a identidade única de cada ser humano, aquela propriamente exclusiva do seu ser, aquela que diferencia cada um de nós de todos os demais seres humanos que estão passando por esta vida.
A nossa terra, onde nascemos, aonde fomos trazidos à vida, oferece a cada um de nós um pacote de conhecimentos e culturas, a partir da qual separamos aquilo que cada um assimila e integra como parte da sua própria identidade. É conhecendo e dissociando estes dois vetores que carregamos em nós - o interno e o externo - que ficamos prontos para fazer as melhores escolhas possíveis entre cada alternativa que a vida virá a nos apresentar. Nossa identidade cultural nos forma, mas é cada um de nós quem decide a qual caminho se dirigirá perante as crenças e os conhecimentos acumulados que nos foram apresentados.
É este diálogo constante entre você e tudo o que te cerca, o que te guia, através de princípios e valores próprios que te aproximam e te afastam da identidade cultural à qual você pertence, moldando o ser no qual cada um se transforma ao longo da vida. Entender como você se relaciona com a identidade cultural civilizatória que a humanidade construiu, é fundamental para entender quem você é, porque é o que definirá como escolheremos nos relacionar com esta identidade coletiva que nos cerca, com as regras através da qual estas funcionam. O encontro entre os vetores internos e externos é o que nos leva a fazer as melhores escolhas. Aqueles que conhecem profundamente a si mesmos, e sabem se diferenciar dentre tudo aquilo que os cerca, conhecem tudo o que a vida tem a oferecer.
Olhando para nós mesmos, cabe a nós entender o que exteriorizamos e o que realmente somos, entendendo o papel no momento histórico que coube a cada um de nós viver. Não há como lutar contra as construções da grandiosidade da história humana, as quais devemos entender, mas isto não significa que devamos nos conformar e não lutar por transformá-la em algo ainda melhor e ainda maior, dando a nossa contribuição única para a continuidade do progresso humano, aquela contribuição que somente nós, individualmente, podemos dar. Este é o nosso papel, em diferentes escalas. Fazemos isto todos os dias de nossas vidas.
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