BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História das Guerras. Editora Fundamento, 2014. (237 páginas)
- O historiador italiano Luigi de Porto dizia: "sempre ouvi dizer que a paz traz a riqueza; a riqueza, o orgulho; o orgulho, a raiva; a raiva, a guerra; a guerra, a pobreza; a pobreza, a humildade; a humildade, a paz; a paz, como já dito, traz a riqueza; e assim por diante; como um perigoso carrossel de orgulho".
- O sociólogo russo Pitirim Sorokin se deu ao trabalho de fazer uma conta: durante mil anos, desde 901 d.C., a Rússia tinha estado em guerra por 46 anos em cada 100, e a Inglaterra, desde o tempo de Guilherme, o Conquistador, tinha estado em guerra em algum lugar da Europa ou dos trópicos por 56 anos em cada 100.
- As guerras normalmente começam quando duas nações discordam quanto à sua força relativa, e normalmente acabam quando as nações envolvidas concordam quanto à sua força relativa. Concordância ou discordância resultam da combinação do mesmo grupo de fatores, com cada fator sendo capaz de promover a guerra ou a paz.
- Uma pesquisa de causas comuns a várias guerras do Século XVIII revela um detalhe: a morte de um rei era frequentemente prenúncio de guerra, as denominadas Guerras de Sucessão. Apenas 4 guerras de sucessão neste período não foram precedidas pela morte de um monarca: em 1700, quando os governantes de Saxônia, Dinamarca e Rússia iniciaram uma luta armada contra a Suécia, em 1741 quando tropas da Suécia invadiram a Rússia, em 1786 quando Áustria e Rússia atacaram a Turquia, e em 1792 na guerra da França contra a Áustria. Enquanto 8 guerras neste período foram de sucessão, quando um longo reinado acabou sucedido por uma liderança visivelmente fraca.
- Já entre 1815 e 1939, houve 31 guerras precedidas por tumultos civis sérios buscando revoluções ou revoltas em uma das nações que entraram em conflito. Ainda que neste período tenha havido guerras não precedidas por agitações civis, assim como nem sempre agitações tiveram como consequência à guerra, tendo sido relevante a quantidade de conflitos gerados por este motivo durante o Século XIX e o início do Século XX.
- Desde a Guerra dos Cem Anos, que começou em 1328, até a Guerra do Vietnã, que durou de 1955 a 1975 (mais de seis séculos depois) uma importante e frequente causa de conflitos internacionais é uma nítida tendência a favorecer a guerras no exterior como uma forma de desviar a atenção de mazelas internas de uma nação, numa busca à criação de bodes expiatórios estrangeiros para se tornarem alvos quando a manutenção de poder está ameaçada internamente.
- As nações não estão propensas a lançar um ataque e iniciar uma guerra se sua posição financeira é ruim, ou quando a sua população enfrente sérias dificuldades econômicas. Na maioria das vezes, há uma estabilidade financeira como pré-requisito para o início de um ataque que vem a culminar numa guerra.
- O tempo também impacta a estratégia de ataque numa guerra. Os países ao norte do Trópico de Câncer - um território que compreende Europa, Sibéria, Japão e América do Norte - foram o palco das batalhas de pelo menos 44 guerras internacionais entre 1840 e 1938, e um levantamento destes ataques demonstram um padrão simples: 16 guerras na primavera, 15 no verão, 10 no outono, e somente 3 no inverno. A maior frequência é verificada nos quatro meses entre abril e julho, tendo mais da metade dos conflitos (26 de 44) sido iniciados nestes meses, sem que absolutamente nenhuma guerra tenha se iniciado entre os meses de dezembro e janeiro, quando é inverno no Hemisfério Norte.
-No Século XIX, dois longos períodos foram notavelmente pacíficos: um entre a Batalha de Waterloo (1815) e as guerras curtas de 1848 ou a Guerra da Criméia em 1853, o outro desde o fim da Guerra Franco-Prussiana de 1871 até o fim do século, embora a opinião mais comum aponte o ano de 1914, que marcou o início da Primeira Guerra Mundial, como a data de encerramento deste longo período de paz.
- Os períodos de paz no Século XIX apontam a influência de poderosos estadistas. No primeiro período, lorde Palmerston, da Inglaterra, teria sido o pacificador, e no segundo período, Otto von Bismarck, da Alemanha. Mas os talentos de ambos como estadistas dependeram das ferramentas militares oferecidas pela nação de cada um: Palmerston tinha o apoio da mais poderosa Marinha do mundo naquele momento da história, enquanto Bismarck contava com o Exército mais poderoso.
- Em geral, as evidências gerais sugerem que quando o vencedor de uma guerra é forte o bastante para impor termos de um tratado de paz mais severo, a probabilidade de se prolongar o período de paz nos pós-conflitos é maior. Tratados de paz severos parecem ser basicamente o resultado de uma guerra encerrada com uma vitória decisiva. Uma vitória mais contundente tende a promover uma paz mais duradoura.
- Guerras decisivas deixaram o poderio militar das alianças rivais desequilibrado e mal distribuído, o que apresentou uma tendência a produzir longos períodos de paz internacional. Guerras de final duvidoso, ao contrário, tendem a produzir períodos mais curtos de paz. Durante combates mais prolongados, alianças têm maior dificuldade de derrotar a aliança rival, com muitas destas guerras terminando praticamente em impasses, com um poderio militar mais equilibrado dos dois lados.
- A Guerra de Sucessão da Polônia, basicamente uma guerra inútil entre a França e a Áustria, foi seguida, em cinco anos, pela Guerra de Sucessão da Áustria, a qual depois de oito anos foi tão inconclusiva na maior parte das frentes de batalha, que o tratado de paz assinado em 1748 praticamente confirmou a mesma situação anterior ao conflito para todos os lados. Esta guerra vã foi seguida, apenas oito anos mais tarde, pela Guerra dos Sete Anos, que terminou com uma clara vitória da Grã-Bretanha no mar e além-mar, embora em solo europeu o resultado possa ser considerado duvidoso. Mesmo a paz entre ingleses e franceses que se seguiu ao Tratado de Paris em 1763, não durou muito, terminando após quinze anos, quando a revolta das colônias norte-americanas terminou com o predomínio da Inglaterra sobre a França. Por mais de um século, não houve grandes conflitos tão decisivos quanto as guerras revolucionárias francesas, que a partir de 1792 alastraram-se durante uma década por toda a Europa e além-mar, os quais terminaram com a França dominante no continente europeu, e a Inglaterra dominante nos mares, na América e no oriente, mas sem se resolver a questão crucial: qual era a nação mais poderosa, França ou Inglaterra? O Tratado de Amiens, assinado em 1802, durou pouco mais de um ano, quando começaram as Guerras Napoleônicas, que finalmente produziram vencedores incontestáveis e um agradável período de paz na Europa.
- Há historiadores que defendem que a Guerra dos Sete Anos não era desejada nem por Inglaterra e nem por França. O longo conflito que expulsou a França do Canadá e que preparou o caminho para a Independência dos Estados Unidos, teria sido não intencional. As duas nações se esforçaram por um caminho de paz, porém ambas queriam mandar na América do Norte, já que para ambos os governos o controle das colônias vinha em primeiro lugar. As declarações em favor da paz que encheram as malas diplomáticas foram sinceras, mas foram sufocadas pela certeza de que haveria mais a se ganhar através da luta do que de negociações dados os interesses econômicos em torno da geração de riquezas na América do Norte.
- Uma grande verdade na história das guerras é que o otimismo exagerado é fator causal da geração de conflitos. A Primeira Guerra Mundial muito provavelmente é o exemplo mais clássico. Às vésperas de uma guerra que mataria mais soldados e envolveria mais nações do que qualquer outra antes dela na história, acreditava-se que a guerra iminente seria curta, de três a seis meses no máximo. Se a duração e a crueldade da Primeira Grande Guerra tivessem sido previstas, os esforços para preservar a paz em 1914 teriam sido muito mais vigorosos. Uma das razões pelas quais não se imaginava uma guerra longa era a crença generalizada de que a opinião pública civilizada se rebelaria contra os transtornos provocados pelo conflito. Mas o consolo seria a vitória, que ambos os lados esperavam obter convictamente. Mesmo a Rússia, a França e a Áustria, derrotadas na última guerra imponente da qual tinham participado, esperavam vencer. Enquanto os generais alemães previam que, decorridas as primeiras seis semanas do início da guerra, sua linha de frente se aproximaria de Paris, muitos generais franceses tinham certeza de que levariam mais ou menos este mesmo tempo para chegar ao rio Reno. Todas as frentes estavam otimistas às vésperas do combate, a ortodoxia era a necessidade de uma vitória rápida e decisiva, pois a impossibilidade econômica de uma guerra longa era ortodoxia de todos. A explicação para o otimismo se encontrava não só na série de guerras curtas travadas havia pouco tempo na Europa, como na crescente rede de integração comercial e financeira no mundo ocidental. Na posição de maior potência financeira mundial no início do Século XX, a Inglaterra acreditava que seria a última nação a sofrer as consequências de um colapso econômico decorrente da guerra, em sua lógica os adversários, afetados primeiros, buscariam a rendição antes de um estrago maior. Já os alemães, apostavam em sua moderna tecnologia militar, a mais avançada naquele momento, para gerar um conflito curto. Todos erraram suas previsões, e todos sofreram severas consequências.
- Embora muitas guerras longas no Século XVIII também tivessem se iniciado com declarações otimistas, a maioria das guerras do Século XIX na Europa tinham sido breves, e isto parece ter apagado o conhecimento de tempos mais remotos. Em 1700, quando as províncias do norte se uniram para atacar à Suécia, uma vitória rápida parecia bem provável, mas os conflitos levaram 21 anos. Em maio de 1702, em Londres, quando o conselho de ministros ingleses elaborou uma declaração de guerra à França, esperava uma batalha rápida e uma "boa paz em pouco tempo", a guerra durou mais de uma década. Os governantes da Rússia estavam certos de que a invasão à Polônia em 1733 não encontraria resistência. Os líderes de Inglaterra, França, Prússia, Áustria, Portugal e Espanha quando começaram a se enfrentar em 1756, não previam que o conflito se tornaria a Guerra dos Sete Anos.
- Uma diferença vital entre as guerras dos Séculos XVIII e XIX é que neste último os conflitos tenderam a ser mais decisivos, o que explica em parte um período repleto de guerras seguido por outro de relativa tranquilidade. Enquanto no Século XVIII houve guerras longas e inconclusivas, seguidas por curtos períodos de paz, a partir de 1815 se notam guerras mais curtas e decisivas. Fato é que os avanços tecnológicos e o aperfeiçoamento das táticas militares em função de tais avanços, contribuíram também para uma maior discrepância entre os lados envolvidos nos conflitos, estimulando as vitórias a serem mais contundentes e decisivas.
- Uma das facetas mais impressionantes da era das maravilhas mecânicas foi o ganho de agilidade nas manobras de guerra. Nos navios de guerra, o vapor substituía as velas, e o ferro à madeira; em terra, as ferrovias substituíam as carroças, e o telégrafo elétrico tomava lugar aos mensageiros. A organização dos exércitos ficou mais eficiente, e seus equipamentos foram substituídos pelo fuzil de retrocarga, pelas metralhadoras e pelos canhões. As armas estavam tão avançadas, que muitos analistas acreditavam que as guerras de longa duração pertenciam ao passado.
- O Século XIX foi uma época de rápidas inovações mecânicas nos armamentos. Para a indiscutível melhoria de seu poderio naval, a Inglaterra construiu navios de guerra caríssimos, que fizeram os navios anteriores parecerem impotentes. A melhor embarcação existente em 1867 correspondia a toda a esquadra britânica de 1857, e a melhor de 1877 tinha o poder de fogo igual ou superior à combinação de todos os navios de guerra de dez anos antes. Em 1905, foi lançado ao mar em Portsmouth o H.M.S. Dreadnought, um navio de guerra de 18 mil toneladas que superou tanto a todos os anteriores, que obrigou à Alemanha e à própria Grã-Bretanha a reformarem inteiramente todas as suas esquadras.
- Entre 1700 e 1815, a Europa experimentou 7 guerras que duraram 7 anos ou mais cada uma, mas desde então nenhum conflito na Europa prolongou-se tanto, os meses de guerra passaram então a ser menos numerosos, porém mais letais. Estas 7 guerras que duraram 7 anos ou mais foram guerras gerais, isto é, travadas por muitas nações. Durante os 99 anos que separaram a derrota de Napoleão e o começo da Primeiro Guerra Mundial, houve apenas 1 guerra geral no Hemisfério Norte: a Guerra da Criméia, significativamente a mais longa na Europa naquele período.
- Considerando o conceito de guerra geral como sendo a participação de ao menos 5 potências, 3 das quais de grande porte, entre 1700 e 1815 houve 9 guerras gerais, e o período de 1815 a 1930 teve 2, a Guerra Austro-Prussiana e a Primeira Guerra Mundial. Com uma definição mais rigorosa, sendo guerra geral os conflitos envolvendo 8 nações, sendo 4 das quais de grande porte, teriam sido 6 guerras gerais entre 1700 e 1815, e o período de 1815 a 1930 teria tido somente 1, a Primeira Guerra Mundial.
- Por que as guerras gerais eram frequentemente mais longas? Por algumas razões: primeiro, em um conflito com muitas nações envolvidas, a força militar tendia a ser distribuída com mais equilíbrio entre os dois lados, e quanto mais equilibradas as forças, mais improvável é uma conclusão rápida; segundo, porque uma guerra geral costumava envolver várias frentes de batalha, tanto no mar quanto em terra, dificilmente havendo vitórias contundentes em todos os palcos envolvidos, prolongando o tempo até um dos lados obter supremacia; terceiro, porque numa aliança entre muitas nações a coordenação das campanhas não tinha a mesma eficiência, por serem múltiplos tomadores de decisão, levando-se mais tempo para se obter consensos na definição das estratégias a serem escolhidas.
- Guerras sempre impuseram custos elevados à população civil, e a grande maioria provocou consequências internas às nações quando tais custo sobrepuseram limites aceitos pela sociedade. As revoluções nos Estados Unidos na década de 70 e na França na década de 90 - ambas do Século XVIII - foram em parte iniciadas pela revolta da população em relação aos altos impostos que as guerras anteriores tornaram necessários.
- No século seguinte à Batalha de Waterloo, as guerras mais longas foram travadas fora do continente europeu. Os conflitos nas colônias começaram a dominar o calendário. Embora o número de vítimas e o custo anual de um destes embates fossem frequentemente inferiores a um mês de guerra na Europa, muitos deles se tornaram sérios e surpreendentemente difíceis de serem dominados. Talvez a mais longa guerra internacional do Século XIX tenha sido entre França e Argélia, que em 1830 era uma república independente cujo território ia dos limites do Deserto do Saara até a acidentada costa do Mar Mediterrâneo. Por gerações, piratas argelinos partiam de seus portos para atacar a navios e portos franceses. Em maio de 1830, então, o governo da França enviou 9 navios de linha, 56 fragatas, corvetas e brigues, 8 barcos a vapor e uma flotilha de pequenas embarcações, no total envolvendo 37 mil homens e 4 mil cavalos. Os portos foram logo conquistados, entretanto a conquista total da Argélia só aconteceu depois de 17 anos e muitas campanhas, porque se um território pequeno com população esparsa era mais facilmente conquistado, um território extenso e com milhões de habitantes era muito mais complicado; assim, com 965 quilômetros de extensão e então com 3 milhões de habitantes, a Argélia não era presa fácil a um invasor. Os verões extensos e o solo rochoso também favoreciam à defesa, além de que era uma nação relativamente unida pela fé em comum no islamismo. O poder do exército invasor não dependia da superioridade em diversas técnicas de guerra. A força da artilharia francesa, vital em tantas guerras na Europa, era menos devastadora na Argélia, onde o transporte de armas pesadas para o interior do país era árduo, além de ser um prenúncio em alto e bom som para a defesa sobre os planos de ataque franceses. Tudo isto, fez a guerra se prolongar pó um período muito maior do que o inicialmente esperado. Situação análoga aconteceria mais de um século depois com os Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
- O "jogo de gato e rato" se intensificou quando a tática de guerrilha foi colocada em prática pelos argelinos pela primeira vez na história, já em 1830, assim como veio a ser feito por Cuba na guerra contra a Espanha entre 1870 e 1890, pelos bôeres contra a Grã-Bretanha na virada do século, e pelo Vietnã primeiro contra a França e depois contra os Estados Unidos, a partir de 1945. A resposta das potências militares à guerrilha era sempre mandar mais reforços, um processo dispendioso e lento.
- Em 1859, o imperador austríaco Francisco José acreditava que sua guerra contra a França e a Itália seria afortunadamente curta, e foi curta, mas para ele não foi afortunada. Em 1866, às vésperas da guerra entre a Áustria e a Prússia, os austríacos novamente esperaram a vitória, que novamente não aconteceu. Quando os Estados Unidos e os rebeldes confederados iniciaram as lutas em 1861, pouquíssimos líderes - ou nenhum, talvez - imaginavam uma guerra que duraria 4 anos e mataria mais de meio milhão de pessoas. De modo similar, a guerra de 1904-1905 entre Rússia e Japão, a guerra de 1911-1912 entre Itália e Turquia, e as duas Guerras dos Bálcãs em 1912-1913 cometeram o mesmo deslize da crença em conflitos rápidos. O otimismo às vésperas da Primeira Guerra Mundial fez parte de uma longa, mas quase despercebida tradição. E as lições do tempo parecem não ter sido totalmente entendidas, pois em 2022, quando a Rússia atacou à Ucrânia, o discurso de um conflito rápido também estava no centro da retórica. Frequentemente, o extremo otimismo do início de muitas guerras está ligado ao extremo pessimismo do final delas.
- A Guerra das Sete Semanas, que aconteceu entre junho e agosto de 1866, entre Áustria e Prússia, foi uma entre algumas numa farta lista de conflitos curtos na segunda metade do Século XIX. Nos Anos 1880 ocorreu uma ainda mais breve, uma batalha feroz com duração de apenas duas semanas entre a Sérvia e a Bulgária. Uma década depois, Grécia e Turquia lutaram um suas fronteiras montanhosas.
- A Guerra das Sete Semanas começou com a invasão da Prússia ao território da Áustria. Em menos de três semanas, mais de 200 mil prussianos ("alemães"), e mais de 200 austríacos e saxões se enfrentavam em Sadowa, perto do rio Elba. Era um confronto entre os dois maiores exércitos que já tinham sido reunidos até então na história em um campo de batalha. Em menos de 12 horas de combate, os austríacos já batiam em retirada e deixavam para trás um quinto de seus homens, mortos ou prisioneiros dos prussianos. Três semanas depois, Áustria e Prússia aceitaram um acordo de paz. Aquele conflito de 1866 mostrou a eficiência dos novos fuzis de antecarga em comparação aos fuzis de retrocarga dos austríacos.
- Em 1870, a Guerra da Prússia comprovou que a meticulosa organização do sistema ferroviário era capaz de agilizar o transporte de um grande exército até o campo de batalha. A rapidez do ataque da Prússia surpreendeu à França e aos analistas militares da época em toda a Europa. Em aproximadamente 17 dias, a Alemanha deslocou à linha de frente de ataque cerca de 440 mil homens, 135 mil cavalos e 14 mil veículos de combate num comboio de 1.200 trens. Após dois meses de combate, a Prússia impôs um cerco a Paris, demonstrando como as novas técnicas militares eram implacáveis, e levavam a guerra a um outro patamar.
- Entre 1860 e 1914, praticamente todas as 9 guerras ocorridas na Europa terminaram em menos de 1 ano. As guerras registradas nas Américas também passaram a ser mais curtas do que as anteriores, ainda que não tão curtas quanto as europeias. Na Década de 1860, a Guerra Civil Norte-Americana, a Guerra do Paraguai e a Expedição Francesa ao México estenderam-se por pelo menos 4 anos cada uma. Em 1879, a Guerra do Pacífico, envolvendo Chile, Bolívia e Peru, também durou aproximadamente 4 anos.
- A Primeira Guerra Mundial foi longa por causa dos impasses nas trincheiras, com a mudança das tecnologias tendo forçado a um foco na defesa, para dificultar a agilidade de deslocamento das tropas.
- Ao final da Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes condenou formalmente a Alemanha e seus aliados como agressores. Os líderes alemães tiveram de concordar com as duras condições impostas como punição a seu país pela agressão praticada, num suposto ato de defesa da moralidade internacional. Suas colônias ultramarinas foram confiscadas e os territórios distribuídos entre cinco vizinhos europeus, navios de guerra alemães foram destruídos, e forças estrangeiras ocuparam uma vasta faixa de seu território.
- Entre 1920 e 1945 ocorreram guerras restritas a poucas nações e curtas, tendo havido três casos como exceção: a guerra implacável entre Grécia e Turquia no início dos Anos 1920 que matou cerca de 50 mil pessoas, a Guerra do Chaco nas planícies da América do Sul entre 1932 e 1935 envolvendo Paraguai e Bolívia que deixou cerca de 130 mil mortos, e a guerra entre China e Japão iniciada em 1937.
- Na década de 1930, foi a depressão econômica mundial que levou o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores, e seu líder Adolf Hitler, ao poder, e que também prejudicou de tal modo o moral e a orientação tanto de França quanto de Inglaterra que os dois países perderam o controle sobre a Alemanha, permitindo o seu rearmamento em uma época na qual seria possível evitar isto.
- Na conclusão da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética avançaram sobre a Alemanha partindo de localizações opostas, numa situação na qual eram tanto aliados quanto oponentes - um como bastião do capitalismo e a outra do socialismo e do comunismo -. Com o fim do conflito, os dois países tiveram que dividir com certo desconforto, o lugar mais alto do pedestal de poder. Ao menos, a condição de aliados na conclusão do conflito dava, para ambos, informações mais realistas sobre o poderio militar do outro, explicando em parte porque nas décadas seguintes esta hostilidade não tenha se traduzido em uma Nova Grande Guerra, ainda que tenha se arrastado por décadas em campos de batalha mais restritos, no contexto da Guerra Fria. Chegou-se à conclusão de que as perdas seriam muito superiores aos ganhos num conflito generalizado de larga escala. Assim, pode-se concluir que a paz não depende de negociações, mas de uma previsão de quais são os custos e os benefícios do conflito, passando pela avaliação da capacidade do inimigo e da conclusão sobre as vantagens e desvantagens do emprego da força militar para a redistribuição de poder.
- Em 1982, as Ilhas Falkland (para os argentinos: Ilhas Malvinas) foram alvo de uma guerra de grandes expectativas. A posse da pequena ilha montanhosa no sul do Oceano Atlântico, então habitada por menos de 2 mil pessoas e defendida por poucos fuzileiros da Marinha Real Inglesa, era reivindicada pela Argentina. Qualquer ajuda da Grã-Bretanha, situada a 13 mil quilômetro de distância demoraria a chegar. Em 2 de abril de 1982, soldados argentinos invadiram as ilhas durante a madrugada, tomando-a sem encontrar muita resistência. Os Estados Unidos tentaram intervir para impedir uma guerra entre dois de seus importantes aliados, mas não tiveram sucesso. Num intervalo de poucas semanas partiram da Inglaterra uma frota com dois navios porta-aviões, navios destroieres e de suprimentos, submarinos nucleares e dois navios transatlânticos de passageiros adaptados para transportar tropas. Em 21 de maio esta frota chegou às Ilhas Falkland, e em menos de quatro semanas o conflito chegou ao fim, com 10 mil soldados argentinos acabando prisioneiros. O excesso de confiança da Argentina lhe levou a levantar estimativas equivocadas e a tomar decisões erradas, falhando na estratégia.
- Em 2 de agosto de 1990, pouco tempo depois de uma vitória sobre o Irã, financiada pelos Estados Unidos, Saddam Husseim, líder do Iraque, levou seu país a invadir o vizinho Kuwait. Muito de seu otimismo se sustentava num apoio dos países árabes, ou ao menos uma neutralidade destes. Ele acreditava que por isso os Estados Unidos não interfeririam, talvez por acreditar numa possível retaliação da Rússia. O Iraque reuniu ali 300 mil soldados. Mas em muito pouco tempo, os Estados Unidos mobilizaram 500 mil de seus soldados na Arábia Saudita. Cinco meses após a invasão ao Kuwait, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um ataque ao Iraque, a chamada Guerra do Golfo. Foram apenas seis semanas de combate, com um bombardeio massivo, que ficou conhecido como "Operação Tempestade no Deserto". Em 28 de fevereiro de 1991, o Iraque estava derrotado e a guerra encerrada. Mais um caso no qual sonhos com grandes triunfos levaram à cegueira de decisões estratégicas muito equivocadas.
- A história das guerras mostra que as nações que entravam em guerra confiantes, costumavam esperar uma vitória rápida, enquanto as nações que só entravam em guerra depois de muita relutância, mais interessadas em evitar a derrota do que em arrebatar a vitória, sempre pareceram mais conscientes de que poderiam estar embarcando em uma longa luta.
- Uma ideia que nasceu no Século XIX e se fortaleceu no Século XX foi a de que a prosperidade da humanidade dependeria de discussões racionais e não de ameaças. Os alicerces da paz seriam as instituições e invenções que promoviam o intercâmbio de ideias e produtos: parlamentos, conferências internacionais, popularização da imprensa e da informação, educação compulsória, bibliotecas públicas, meios de transporte, e o comércio. Uma nação ganhava mais quando sua política comercial enriquecia seus vizinhos em vez de empobrecê-los, construindo uma interdependência entre nações, e não a rivalidade entre elas. A ignorância e os mal-entendidos é que seriam as sementes das guerras.
- Guerra e paz são fases flutuantes de uma relação entre nações. E o oportunismo permeia todo este relacionamento.
- Depois da Segunda Guerra Mundial e dos estouros das duas Bombas Atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, os indícios apontam que as armas nucleares contribuíram mais para haver paz do que para a guerra. Mas basta um louco ou um líder excessivamente confiante para subverter estes indícios. A Era Nuclear oferece uma instável mistura de perigo e segurança, sendo tão enganoso ignorar os sinais de segurança quanto esquecer o perigo.
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