segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A origem dos aborígenes e papuas da Oceania


Os aborígenes australianos e os povos papuas seriam os humanos vivos com origem mais antiga no Planeta Terra. Um amplo estudo genético de populações humanas mostrou que os aborígenes provêm de uma migração africana anterior a todas as demais que espalharam o Homo Sapiens pelo planeta. O chefe destes estudos foi o biólogo dinamarquês Eske Willerslev, do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague, que afirmou sobre os aborígenes: "Eles são os únicos sobreviventes da primeira onda migratória. Perto deles, europeus e asiáticos não passam de um fenômeno recente. A análise do DNA revela que os ancestrais dos aborígines australianos se separaram dos ancestrais de outras populações humanas entre 64 mil e 75 mil anos atrás".


Estas populações humanas estiveram pouco representadas nos estudos genômicos, como os primeiros povoadores da Austrália. A primeira leitura do genoma de 83 aborígenes daquele continente, e outras 25 pessoas de Papua-Nova Guiné, resultou em um tesouro científico. Os aborígenes australianos diferem entre si tanto como um brasileiro de Rondônia difere de um chinês de Pequim. Isso significa que os aborígenes ocuparam a Austrália há muito, mas muito tempo atrás, tanto tempo que eles representam a população viva mais antiga do planeta, e teriam saído da África bem antes do resto da humanidade.

A teoria original "out of Africa" (fora da África) postulava que toda a humanidade que vive fora deste continente provinha de um pequeno grupo de Homo Sapiens que saiu do continente africano há uns 50.000 anos. Os estudos avançaram e os cientistas passaram a considerar que teria havido não uma, mas quatro migrações para fora da África, que teriam ocorrido ao longo dos últimos 120.000 anos. E as quatro tiveram relação com mudanças climáticas associadas às variações da órbita terrestre.


Segundo um modelo construído por Axel Timmermann e Tobias Friedich, da Universidade do Havaí, em Honolulu, as migrações representam quatro ondas associadas às grandes glaciações desse período, que abarcaram estes quatro intervalos: 106.000-94.000, 89.000-73.000, 59.000-47.000 e 45.000-29.000 anos atrás. Os resultados de seu modelo se encaixam muito bem com os dados paleontológicos e arqueológicos.

Assim, o destino da humanidade estaria escrito pelo cosmos, já que estes ciclos gelados são causados diretamente por alterações periódicas da órbita terrestre. Outras mudanças climáticas de menor escala se associam a migrações de população de um caráter mais local. Saber quantas vezes a humanidade saiu da África, quando ocorreram essas migrações e o que ocorreu com elas, é uma das perguntas essenciais sobre o passado da espécie humana.

Os cientistas apresentaram na Revista Nature, em 4 pesquisas, a melhor resposta que permite nos aproximarmos do conhecimento desta história. O chefe de um destes trabalhos foi Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, que garantiu que a pesquisa "foi fascinante, porque comprovaria que os aborígenes australianos são a população viva mais antiga do planeta".


A comparação dos genomas aborígenes com os do restante da humanidade, incluídos seus vizinhos asiáticos e oceânicos mais próximos, mostra que "emigraram da África antes" dos demais humanos modernos, há 60.000 anos ou mais, quando as atuais Austrália e Papua-Nova Guiné estavam unidas em um só continente. Muitos milênios depois, quando a elevação do nível do mar isolou a Guiné da Austrália, os dois grupos interromperam seu fluxo genético – deixaram de fazer sexo –, o que fez com que sua distância genética se tornasse similar, hoje, à que separa europeus e asiáticos orientais.

Os aborígenes australianos seriam a mais antiga civilização contínua na Terra, com origens que remontam a mais de 50 mil anos. Pistas deixadas nos genes de populações modernas na Austrália e na Papua Nova Guiné permitiram aos cientistas traçar a notável jornada feita pelos primeiros exploradores humanos.

A análise do DNA mostrou que seus antepassados eram provavelmente os primeiros humanos a atravessar um oceano e revela evidências de ligações pré-históricas com um primo hominídeo ainda desconhecido.

O professor Eske Willerslev, geneticista evolutivo que conduziu o trabalho, afirma: "Esta história esteve ausente por um longo tempo na ciência. Agora sabemos que seus parentes foram os primeiros exploradores humanos reais. Enquanto nosso ancestrais estavam sentados, sendo uma espécie com medo do mundo, eles partiram nesta jornada excepcional cruzando a Ásia e os mares".


As descobertas de Willerslev, com base numa nova análise da população (83 aborígenes australianos e 25 papuas) mostrou que estes grupos podem traçar suas origens até as primeiras levas, chegadas do continente há cerca de 50 mil anos e que permaneceram quase que totalmente isoladas até cerca de 4 mil anos: "Eles são provavelmente o grupo mais antigo do mundo que você pode conectar a um local em particular", afirmou o cientista.

No caminho para a Austrália, os primeiros seres humanos teriam encontrado uma variedade heterogênea de outras espécies de hominídeos itinerantes, incluindo um parente humano ainda desconhecido, apresentado agora como tendo contribuído com cerca de 4% do genoma aborígene australiano. Os cientistas já sabiam que a espécie humana transporta de 1 a 6% do DNA Neandertal. Agora está provado que há também DNA de outros hominídeos.

Em outra pesquisa, Luca Pagani e seus colegas do Biocentro Estoniano de Tartu, mostraram que os atuais habitantes de Papua-Nova Guiné portam em seu genoma sinais apreciáveis (mais de 2% do DNA) de uma população humana mais antiga ainda, um grupo humano que se separou dos africanos antes que os eurasiáticos o fizessem.

Os cientistas estonianos deduzem que esses fragmentos genômicos provêm do sexo que deve ter ocorrido entre os ancestrais dos papuanos e uma migração que fez o mesmo percurso antes: uma migração que havia saído da África há uns 120.000 anos. As quatro pesquisas apresentadas na Nature são assinadas por equipes de investigação genômica de 35 países, e revelam a crescente complicação que a genômica está imprimindo à história do Homo Sapiens.

Quando a humanidade se pergunta de onde veio, a resposta é a África. Os primeiros ossos iguais aos dos humanos modernos já estavam ali há 150.000 ou 200.000 anos. Mas, então, por que o Homo Sapiens só saiu da África dezenas de milênios depois? Isto é um tempo enorme, muito mais que a totalidade de nossa existência fora do continente que viu a humanidade nascer. Aqueles Homo Sapiens originais só se pareciam conosco na aparência? Seu cérebro ainda tinha de evoluir até nossos padrões?

David Reich, da Universidade Harvard, e seus colegas, apresentaram também na Revista Nature os genomas de 300 pessoas de 142 populações que, como os aborígenes australianos, tinham estado pouco ou nada representados nos estudos da variedade humana. Seu principal achado foi notável: demonstra que os humanos atuais começaram a se diferenciar há 200.000 anos. Isso se encaixa à perfeição com a data estabelecida dos primeiros crânios iguais aos nossos. E confirma que nossos primeiros pais não se extinguiram, mas continuam vivendo em nosso genoma.

A equipe da Universidade de Harvard exibiu com sofisticação matemática um dado assombroso: a velocidade de mutação genética aumentou em 5% desde que os humanos saíram da África. A explicação é bem curiosa: o tempo entre gerações diminuiu, ou seja, tendo-se filhos mais jovens que os ancestrais africanos. Quanto mais o ser se reproduz, mais oportunidades de mutação dá à descendência. Daí que os vírus sejam os mestres da evolução na Terra.

A história da dispersão do Homo Sapiens pelo planeta é extremamente complexa, e muito difícil de ser contada em detalhes. Não existe uma linearidade evolutiva. Há indícios de mistérios ainda maiores por serem revelados a partir de estudos de DNA que identificam a presença de genoma aborígene e melanésio em civilizações indígenas da América do Sul. Estas populações que partiram em migrações muito antigas, e que indiscutivelmente cruzaram por travessias marítimas longas atrás de embarcações rudimentares para se espalhar pela Oceania, poderiam ter também seguido margeando o litoral e chegado a lugares ainda mais longínquos. Mas este é um outro mistério a mais a estar por ser desvendado. 


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