Vikings na América antes de Colombo? Claro!
Fonte: site Incrível História (https://incrivelhistoria.com.br/vikings-america/)
Autor: Eudes Bezerra (artigo original de 31/10/2013, atualizado em 16/03/2019)
Lançando-se em alto mar após infortúnios em terra, os vikings - Erik, o Vermelho, seu filho, Leif Eriksson, e seus homens de confiança - realizaram uma das maiores façanhas da história e ofuscaram a glória total de Cristóvão Colombo, ao pisar na Groenlândia e posteriormente na América (no Canadá, certamente) 500 anos antes ao navegador genovês. Com tal proeza, foi provado mais uma vez que, ao contrário do comumente dito, a História Viking não se resume aos assaltos com machado na mão.
Ousados exploradores — muito mais do que o brevemente ocorrido no Mosteiro de Lindisfarne, em 793 — os nórdicos possuíam um espírito indomável pela aventura e eram os inventores do melhor barco da época, o poderoso e flexível Drakkar (navio-dragão). No comando de seus "dragões", eles foram os primeiros a testemunhar a expansão do mundo conhecido. Embora não se saiba o exato motivo da ocultação de tamanha façanha por séculos, atualmente os Vikings são considerados os verdadeiros descobridores da América (ainda que não tivessem a menor noção cartográfica de que tinham chegado a um continente).
1. O Início da Saga Nórdica
A história que desembocaria nos "descobrimentos" da Groenlândia e da América teve seu início na Noruega (terra Viking), quando o brigão Erik, o Vermelho, assassinou um homem e foi banido de sua pátria. Mudou-se para Islândia (também terra Viking), constituiu família e novamente matou outro homem. Os motivos das mortes ainda hoje são desconhecidos, mas, mesmo para os padrões Vikings - era uma sociedade guerreira- Erik gerava desconfiança e acabou sendo banido mais uma vez.
Erik, o Vermelho (ou Eric ou Erico, o Ruivo) era um guerreiro extraordinário (o temido berserker). Temido nos tempos de paz, era memoravelmente lembrado nos de guerras e saques — registros antigos retratam Erik como descendente do próprio Thor (Deus do Trovão na Mitologia Viking) —. Erik é possivelmente o viking mais famoso da história, e teria nascido em 950 d.C.. A data da sua morte é ignorada.
Revoltado com sua segunda expulsão, Erik decidiu desbravar o Oceano Atlântico e encontrar as supostas terras relatadas por Gunnbjorn Ulfsson (outro viking). Tais terras ficariam a oeste ou noroeste da Islândia e para lá partiu atrevidamente com seus bravos seguidores, o que incluía seu segundo filho, Leif Eriksson (975 a 1.020 d.C.).
Segundo as Sagas Islandesas, no ano de 900, Gunnbjorn Ulfsson, ao se desviar do seu percurso habitual, deparou-se com imensos rochedos desconhecidos. Ulfsson não teria se animado e retornou para casa apenas relatando o ocorrido — ele, na verdade, avistara o que hoje é conhecido como Groenlândia e mais tarde foi homenageado ao ter seu nome emprestado a mais alta montanha da ilha.
2. O "Descobrimento" da América
Desbravando o violento Atlântico Norte além do dito por Ulfsson, Erik, o Vermelho, teria pisado na Groenlândia em 984 d.C. (ou 985). Como havia sido banido da Noruega e da Islândia, objetivou iniciar uma colonização — a descoberta parece não ter sido capaz de livrá-lo das mortes que cometera —. Em 986, Erik trouxe da Islândia 16 drakkar's (eram 25 inicialmente, mas 9 naufragaram) com os primeiros colonos para a ilha que batizou de Greenland ("Terra Verde"; que depois virou Groenlândia).
O descobrimento da América teria ocorrido entre os anos de 986 e 1.000 d.C., sob a liderança de Leif Eriksson, o segundo filho de Erik, que já teria falecido. Leif, seguindo passos semelhantes ao do pai, encontrava-se intrigado com o relato de suposta nova terra a oeste ou sudoeste e lançou-se ao mar — como o pai fizera — acabando por realmente encontrá-la. A terra descoberta por Eriksson foi o continente que mais tarde seria chamado de América em homenagem ao navegador Américo Vespúcio.
À medida que Leif seguia a costa do recém-descoberto continente americano, promoveu batismos — Helluland ("Terra Pedregosa"), Markland ("Terra da Floresta") e Vinland ("Terra da Vinha"), que hoje correspondem, respectivamente, ao sul da Ilha de Baffin, Costa do Labrador e Ilha de Newfoundland, no Canadá. Retornando à Groenlândia, Leif teria confirmado a veracidade do dito por Bjarni.
Para alguns, Leif Ericsson teria percorrido o caminho descrito pelo também nórdico Bjarni Herjolfsson que, por volta de 986, teria partido da Islândia e atravessado o Atlântico para fazer uma visita ao seu pai que acompanhara Erik, o Vermelho.
Bjarni, sem mapa e ao que parece sem qualquer instrumento de orientação marítima, teria partido em direção a Groenlândia, mas teve seu drakkar arrastado por fortes correntezas durante tempestades. Com a mudança de curso, teria avistado terras que acreditou ser a própria Groenlândia. Alguns afirmam que Bjarni teria avistado o Canadá ou mesmo os Estados Unidos.
3. O reconhecimento oficial da presença Viking na América
Ruínas Vikings de assentamentos encontradas na década de 1960 forneceram provas incontestáveis da presença escandinava na Groenlândia e na América.
Em 2 de setembro de 1964, o então presidente norte-americano, Lyndon B. Johnson, autorizado por unanimidade pelo Congresso Nacional, ratificou o documento em que registrou o dia 9 de outubro como dia Leif Eriksson. Os governos canadense e groenlandês executaram atos similares.
Alguns mapas do Atlântico Norte ajudam a entender as possibilidades de navegação que mostram o quão viável foi a travessia para os barcos dos Vikings naquela época (embora todos os mapas abaixo sejam posteriores à aventura náutica viking).
O mapa dos Irmãos Zeno, elaborado em 1398:
Mapa de Abraham Ortlelius, elaborado em 1570:
Mapa daquela que era chamada Frislandia:
Mapa de Johann Theodor de Bry, elaborado em 1612:
Mapa de Nicolas Sanson, elaborado em 1650:
Mapas modernos da região norte do Oceano Atlântico e o contexto das viagens dos vikings à América:
4. Comprovando a presença Viking na América
Comprovando o relatado nas narrativas Vikings, em meados do século XX foram descobertos resquícios de assentamentos nórdicos na América. Em L'Anse aux Meadows [Canadá], foram encontrados na década de 1960 vestígios arqueológicos de uma vila viking, comprovando a ocupação do local por esse povo e a veracidade de suas histórias sobre Vinland. Hoje a vila consiste em Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO. Os vestígios encontrados datam de cerca do ano 1.000 d.C., período que os vikings haviam se estabelecido em Vinland.
Os vikings tinham o hábito de escravizar, quando julgavam necessário. Nisso, outro fato alegado se refere à presença de DNA ameríndio entre os islandeses. Segundo estudo publicado em 2010, no American Journal of Physical Anthropology, por investigadores espanhóis e islandeses e da empresa Code Genetics, a análise do DNA mitocondrial de quatro famílias islandesas e respectivos antepassados (até 1.700) revela que eles partilhavam a linhagem C1e, exclusiva dos ameríndios. O mais provável é que os vikings que chegaram à América por volta do ano 1.000 tivessem sequestrado uma jovem índia e decidido levá-la no regresso à Islândia.
Nos EUA, nos museus de História Natural — como o Smithsonian, em Washington, e o Museu Americano de História Natural, em Nova York — exposições já foram dedicadas ao tema, como a "Vikings, a Saga do Atlântico Norte", descrevendo a milenar façanha dos escandinavos.
Pesquisadores têm se debruçado para saber o real motivo do encobrimento das fantásticas descobertas. Acredita-se que, por serem tidos como bárbaros e principalmente odiados por diversos povos, a suposta divulgação teria sido taxada como lenda. Há também posição no sentido de que simplesmente teriam ignorado o ato de divulgação.
Aproximadamente 500 anos após o desembarque Viking, em 12 de outubro de 1.492, Cristóvão Colombo aportou na América (provavelmente na Ilha de San Salvador, nas Bahamas) e a ele foi creditado o título de "descobridor da América" — mas, na verdade, encontrava-se 500 anos atrasado —.
A aventura na Vinlândia também foi relatada por Jared Diamond em seu clássico livro "Colapso": a mais remota colônia nórdica no Atlântico Norte, um assentamento a milhares de quilômetros da Noruega, sendo longe demais para ser diretamente alcançada pelos barcos vikings, que precisavam partir da colônia por eles estabelecida mais a oeste, na Groenlândia, local também distante da América do Norte para os padrões e tecnologias de navegação que os vikings detinham àquela época, pois havia que se navegar por 1.600 quilômetros de uma até a outra em viagem direta, sendo necessária uma viagem de 3.200 quilômetros margeando o litoral, num trajeto que durava seis semanas para se ir da Groenlândia à Vinlândia, e que só podia ser feito em épocas do ano com condições meteorológicas favoráveis. As viagens à Vinlândia conhecidas e narradas nas Sagas Nórdicas, foram realizadas por dois filhos, uma filha e uma nora de Erik, o Vermelho, quem havia fundado a colônia da Groenlândia em 984 d.C..
Duas sagas descrevem a realização de cinco diferentes viagens dentro de um breve espaço de tempo de uma década, cada uma das quatro primeiras viagens envolvendo um único barco, e a última com dois ou três embarcações. Os lugares ali visitados ganharam os nomes nórdicos de Helluland, Markland, Vinland, Leifsbudir, Straumfjord e Hop. Ao que parece, Helluland era a costa leste da ilha de Baffin, no Ártico canadense, e Markland era a costa de Labrador, ao sul da ilha de Baffin, ambas no Estreito de Davis. Daí seguiram ao sul pelo litoral, tendo alcançado com certeza a Terra Nova, e muito possivelmente também New Brunswick, a Nova Escócia e a Nova Inglaterra. Provas arqueológicas desta ocupação temporária viking na Terra Nova foram encontradas pela primeira vez em 1961 em L'Anse aux Meadows, cuja datação radiocarbônica da construção das 8 edificações ali encontradas remeteu a aproximadamente o ano 1.000 d.C.. Este campo parece coincidir com a descrição nas Sagas Vikings referentes a Leifsbudir, e o tamanho das edificações encontradas pelos arqueólogos poderia abrigar cerca de 80 pessoas. As sagam também descrevem uvas que só crescem ao sul do rio São Lourenço, uvas que lhes levaram a batizar toda a região como Vinland. As próprias sagas relatam o motivo do abandono da região, os constantes ataques de uma grande quantidade de nativos hostis, em volume muito maior contra os quais eram incapazes de lutar e vencer em combate. Na primeira vez que encontraram estas populações de índios nativos, deparam-se com nove indivíduos e os atacaram, matando a oito e tendo um único escapado. Houve um contragolpe com embarcações os cercando a atirando flechas, uma das quais matou a Thorvald, filho de Erik, o Vermelho. Apesar deste começo não promissor em termos diplomáticos de convívio, posteriormente se conseguiu construir trocas comerciais entre os nórdicos e os nativos norte-americanos, até que um novo e definitivo conflito levou os vikings a partir dali. Mas mesmo depois de abandonar a colônia na América do Norte, os vikings seguiram visitando a região pelos 300 anos seguintes para pegar madeira e extrair ferro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERRONI, Marcelo. Os Vikings e a chegada ao Novo Mundo. Acesso em: 4 jun. 2013.
HO, Cheng; MENZIES, Gavin. América: Quem chegou primeiro?. Acesso em: 4 jun. 2013.
JOHNSON, Lyndon Baines. Proclamation 3610 – Leif Erikson Day de 1964. Acesso em: 6 jun. 2013.
SOMMA, Isabelle. A Fúria Viking. Revista Aventuras na História. São Paulo: Abril, n. 47, p. 38-43, jul. 2007.
VILAR, Leandro. A Saga Viking. Acesso em: 11 maio 2013.
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