DIAMOND, Jared. Armas, Germes e Aço. Editora Record, 1997. (427 páginas)
- A história seguiu diferentes rumos para os diferentes povos devido às diferenças entre os ambientes em que os povos viveram.
- A capacidade cognitiva de adultos humanos é fortemente influenciada pelo ambiente social vivido durante a infância.
- Os primeiros utensílios de pedra usados pelos ancestrais humanos são datados de 2,5 milhões de anos atrás, feitos de lascas e pedaços de pedras.
- A história da espécie humana começa verdadeiramente há 50 mil anos, com significativos avanços na tecnologia dos utensílios de pedra utilizados e o surgimento das primeiras joias, cujas amostras mais antigas aparecem primeiro no leste da África, e posteriormente no Oriente Médio e sudoeste da Europa, e a partir de 40 mil anos atrás no sudeste da Europa, num povo chamado de Cromagnon. Todos estes antepassados humanos já tinham características biológicas e um comportamento muito similares aos humanos modernos. Eles combinavam recursos para fazer agulhas, furadores, fixadores, arpões, lanças, e arcos e flecha, iniciando a caça de animais maiores do que eles.
- A ocupação da Austrália e da Nova Guiné, na época uma massa de terra única, remonta ao período entre 40 e 30 mil anos atrás. Apesar do nível dos oceanos estar mais baixo na época, foi um feito que certamente exigiu a existência de embarcações rudimentares feitas a partir da madeira das árvores. E há evidências arqueológicas de que há 35 mil anos atrás houve a colonização de ilhas da Oceania, como em Nova Bretanha, Nova Irlanda, Bismarck e Buka, nas Ilhas Salomão, em travessias que chegaram a ser de 360 quilômetros pelo mar. Posteriormente a este cruzamento intercontinental e entre ilhas, outras provas do uso de embarcações só aparecem há aproximadamente 13 mil anos atrás na região do Mar Mediterrâneo, na Europa.
- A Nova Guiné é uma ilha grande ao norte da Austrália com florestas tropicais pluviais nas terras baixas, e com um interior com geografia acidentada formado por serranias e vales que culminam em montanhas de até cinco mil metros de altitude cobertas de gelo e neve. O terreno acidentado confinou os exploradores europeus que primeiro ali chegaram no litoral e aos rios das terras baixas durante cerca de 400 anos, período durante o qual se supunha que o interior era desabitado e apenas coberto por florestas. Foi um choque quando aviões contratados por biólogos e mineradores voaram pela primeira vez sobre o interior na década de 1930 e os pilotos viram uma paisagem transformada por milhões de pessoas. Vislumbraram áreas densamente povoadas em vales amplos e abertos divididos até aonde os olhos podiam alcançar por plantações separadas por canais de irrigação e drenagem, com terraços de cultivo nas encostas das colinas, e com aldeias cercadas por paliçadas defensivas. Quando alcançaram tal região por terra, encontraram agricultores cultivando taro, banana, inhame, cana-de-açúcar e batata-doce, e criando porcos e galinhas.
- As pessoas que ali viviam não tinham nem reis nem chefes, não tinham escrita, e como vestimenta tinham pouquíssima ou mesmo nenhuma roupa. Não possuíam instrumentos de metal, e faziam suas ferramentas se utilizando de pedras, madeira, bambu e ossos. Aravam o solo e usavam como adubo um composto feito pela fermentação de mato, capim, trepadeiras velhas e outros materiais orgânicos, aplicando lixo, cinza de fogueiras, vegetação de terrenos em descanso, troncos podres e esterco de galinha como cobertura morta fertilizante, com técnicas inventadas ao longo de milhares de anos por tentativa e erro. Faziam drenos verticais para escoar os excessos de água acumulados e evitar encharcamentos, e produziam alimento suficiente para sustentar grandes populações.
- A colonização das ilhas do Mar Mediterrâneo se deu a partir da ocupação de Creta, Chipre, Córsega e Sardenha, entre 8.500 e 4.000 mil a.C.. Nas Américas, a ocupação das ilhas do Caribe parece ter acontecido por volta de 4.000 a.C., na Polinésia e na Micronésia, ilhas mais distantes da Oceania, teria ocorrido entre 1.200 a.C. e 1.000 d.C., e a ocupação de Madagascar teria sido entre 300 d.C. e 800 d.C., embora ainda haja muita controvérsia em torno disto, com suposições de que a ocupação da grande ilha na costa da África tenha sido iniciada bem antes.
- Há presença de antepassados humanos no Alasca há 12 mil anos atrás, seguida por indícios de ocupação há 11 mil anos atrás em áreas que hoje fazem parte de Canadá, Estados Unidos e México. Há indícios incontestáveis de ocupações na Amazônia e na Patagônia, que está a uma distância de 12,8 mil quilômetros ao sul da fronteira Canadá-Estados Unidos, que remontam a 10 mil anos atrás. Mas há muita controvérsia em torno de vestígios de ocupação na América do Sul que seriam ainda bem mais antigas do que estas.
- Registros fósseis indicam o desaparecimento da grande fauna de mamíferos na Austrália há 30 mil anos, e nas Américas isto ocorreu entre 17 e 12 mil anos atrás.
- Os habitantes da Austrália fizeram pinturas rupestres nas cavernas aparentemente na mesma época que os Cromagnon fizeram onde hoje é a França.
- Até o fim da última Era Glacial, por cerca de 11.000 a.C., todos os povos de todos os continentes eram caçadores-coletores de alimentos.
- Talvez a variação sazonal do clima nas altas latitudes apresentasse desafios mais variados do que no mais constante clima tropical. Por conta disto, talvez os climas frios exijam mais inventividade tecnológica para garantir a sobrevivência, porque os indivíduos precisam construir um abrigo quente e produzir roupas para se abrigar, enquanto aqueles que vivem em regiões mais quentes conseguem sobreviver com abrigos mais simples e poucas roupas.
- Os primeiros impérios e sistemas de escrita conhecidos, surgiram junto a sistemas de controle de água associados a organizações políticas centralizadoras, nas áreas de vales de rios, como o Tigres e o Eufrates, no Crescente Fértil, o Nilo, no Egito, o Indo, no subcontinente indiano, o Amarelo e o Yang-Tsé, na China, e nas planícies habitadas pelos Maias na América Central.
- Entretanto, antes destes impérios surgirem, a produção de alimentos e a vida em vilarejos no Crescente Fértil tiveram origem nas montanhas e não nos vales dos rios, para onde só vieram a migrar posteriormente.
- A disponibilidade de mais calorias para consumo implica na formação de maiores aglomerações de pessoas. Um hectare de plantação pode alimentar muito mais criadores e agricultores do que o método de caça-coleta. E nas sociedades humanas que domesticaram animais, ainda havia carne, leite, fertilizantes e força motriz para arar à terra, ampliando as proteínas disponíveis.
- A função das primeiras hortas, por volta de 11.000 a.C., era garantir uma reserva de alimentos para o caso de falta de alimentos silvestres. Não era um propósito substitutivo, mas complementar. Deve-se considerar o início da produção de comidas e a caça-coleta como estratégias alternativas, que não competiam entre si.
- Em todas as partes do mundo onde existem indícios disponíveis, os arqueólogos encontraram comprovação de aumento da densidade populacional associado ao surgimento da produção de alimentos. Mas foi o aumento da densidade que forçou as pessoas a recorrer à produção, ou foi a produção o que permitiu o aumento da densidade populacional? A cadeia de causas atua em ambas as direções. É um processo auto-catalítico, pois os efeitos se combinam e catalisam um ciclo positivo de retorno, que vai se acelerando com o tempo.
- O modo de vida sedentário dos agricultores permitia estoque de comida (dos excedentes de produção), permitindo o surgimento de especialistas em atividades não relacionadas ao cultivo. Este estoque era usado para sustentar soldados, tendo grande importância para guerras de conquista, assim como para sacerdotes e líderes religiosos, que eram aqueles que forneciam justificativas para as guerras de conquista.
- A domesticação de animais e o cultivo de plantas geraram excedentes de alimentos disponíveis e melhores meios de transporte, que foram pré-requisitos importantes para o desenvolvimento de sociedades sedentárias, politicamente centralizadas, socialmente estratificadas, economicamente complexas e tecnologicamente inovadoras, que viabilizaram os impérios, a alfabetização e a produção de armas de aço, fatores que viabilizaram conquistas.
- Há poucos lugares com provas detalhadas e convincentes de que a produção de comida surgiu de forma independente, antes da chegada de produtos e animais de outros lugares vizinhos. Em tempos diferentes, isto parece ter sido o que aconteceu no sudoeste da Ásia, também conhecido como Crescente Fértil, na China, na Mesoamérica (centro-sul do México e América Central), na Cordilheira dos Andes e na Bacia Amazônica, na América do Sul, no leste dos Estados Unidos, na região de Sael, na Etiópia, na África, e na Nova Guiné. As datas mais antigas de produção de alimentos são no Crescente Fértil, onde a domesticação de plantas ocorreu por volta de 8.500 a.C. e a de animais por volta de 8.000 a.C., havendo, de longe, o maior número de datações obtidas por radiocarbono relacionadas ao início da produção de alimentos.
- A maior mudança populacional nos tempos modernos foi a ocupação e colonização das Américas pelos europeus a partir de 1.492 d.C..
- Em 16 de novembro de 1532, em Cajamarca, no Peru, o conquistador espanhol Francisco Pizarro, liderando um grupo de apenas 160 soldados esfarrapados, capturou o imperador inca Atahualpa, monarca absoluto, considerado pelos seus súditos como o deus Sol, e cercado naquele dia por um exército de 80 mil guerreiros. Os espanhóis tinham armas mais poderosas, mas foi esta captura o que viabilizou a conquista do Império Inca, o maior e mais adiantado estado das Américas naquele início de Século XVI.
- Segundo relatos de espanhóis presentes no campo de batalha em Cajamarca naquele dia: "Era tão grande a quantidade de ouro e prata em sua indumentária, que era maravilhoso observar o reflexo do sol sobre ela. Atahualpa estava ricamente vestido, com uma coroa e um colar de grandes esmeraldas. Seus esquadrões começaram a entrar na praça e a ocupar cada espaço vazio. Entoavam cânticos. Esperávamos o encontro escondidos no pátio, cheios de medo, muitos urinaram sem perceber, em estado de absoluto terror. O governador Pizarro enviou ao frei Vicente de Valverde para falar com Atahualpa e pedir para que, em nome de Deus e do rei da Espanha, ele se submetesse à lei de Jesus Cristo. Avançando com uma cruz em uma das mãos e a Bíblia na outra, por entre as tropas indígenas, ele falou a Atahualpa que ensinava aquilo que Deus dizia naquele livro. Atahualpa lhe tomou o livro, e com o rosto extremamente vermelho, atirou-o a uma distância de cinco ou seis passos. O frei então começou a gritar para que aqueles cães inimigos que rejeitavam as coisas de Deus fossem atacados, que Deus absolveria a todos que marchassem contra eles. Pizarro então deu o sinal e começaram os tiros, com a cavalaria e a infantaria neste momento saindo de seus esconderijos. Tinham sido colocadas matracas nos cavalos, animais que os índios nunca tinham visto antes em suas vidas. Com os estampidos das armas, os sons das cornetas, os relinchos dos cavalos, e o barulho das matracas, os índios ficaram apavorados. Tanto que subiam uns nos outros, em verdadeiro pânico. O ataque matou de uma vez a 7 mil índios durante um dia inteiro de carnificina, e muitos outros mais tiveram braços cortados pelas espadas, e outros ferimentos graves. Atahualpa acabou capturado, e Pizarro lhe discursou que eles tinham ido conquistar aquela terra para que todos tomassem conhecimento de Deus e da sagrada fé católica, para que deixassem aquela vida brutal e diabólica que levavam".
- As tropas de Pizarro tinham espadas e armaduras de aço, e outas armas, e tinham cavalos para montar. As tropas de Atahualpa tinham pedras, bronze, machados e tacapes de madeira, e apenas acolchoados como armadura, e não tinham animais para montar. Este desequilíbrio foi decisivo na maioria das batalhas. Ainda assim, os espanhóis não se saíram vencedores em todas elas.
- As vitórias dos espanhóis não se deram só por suas armas. Houve um componente religioso, porque muitos nativos acreditaram que Pizarro era o deus Viracocha que estava retornando, e um componente político, já que tribos subjugadas e inimigas do império se juntaram aos espanhóis para derrubar o imperador. Ambos os fatores, estiveram presentes tanto na vitória de Francisco Pizarro sobre Atahualpa, quanto na de Hernán Cortés sobre Montezuma, líder do Império Asteca, no México.
- Em todas as Américas, as doenças que chegaram com os europeus - como a varíola, o sarampo, a tifo e a peste bubônica - mataram 95% da população nativa pré-colombiana. Mas os germes não atuaram só num sentido, a febre amarela, a malária e outras doenças tropicais também mataram muitos colonizadores europeus nas Américas, na África e na Índia.
- Doenças infecciosas como varíola, sarampo e gripe surgiram como germes de seres humanos derivados, por mutação, de germes ancestrais semelhantes que infectavam animais. Logo, os humanos que domesticaram animais foram as primeiras vítimas destes germes, e assim acabaram desenvolvendo resistência a eles. Quando entravam em contato com povos sem resistência a estes germes, provocavam epidemias mortais que devastavam populações inteiras.
- A grande diferença era que os europeus detinham o controle da escrita, um grande difusor de conhecimento, entre os quais os da navegação, enquanto os povos conquistados não tinham domínio da escrita. Nas Américas, a habilidade de escrever estava restrita às elites de alguns povos de onde hoje é o México. E além da escrita, os europeus dominavam também as técnicas de impressão, um grande difusor de conhecimento. Embora Pizarro e seus homens fossem analfabetos, eles tinham acesso a conhecimentos que só puderam ser propagados em função da escrita e da imprensa.
- Uma tragédia muito bem catalogada e registrada, e que serve de referência para outras muito parecidas que devem ter ocorrido ao longo da história humana, em dezembro de 1835, os maoris partiram do leste da Nova Zelândia com 900 homens em embarcações e invadiram as Ilhas Chatman, onde vivia um povo de caçadores-coletores chamado moriori, que foi por eles indiscriminadamente dizimado: idosos e crianças, homens e mulheres, independente de idade ou gênero, foram todos mortos. Uma resistência organizada dos moriori poderia ter resistido e evitado o massacre, pois eles tinham o dobro de homens para lutar e se defender, mas suas tradições envolviam resolver todos os problemas e conflitos pacificamente, sempre reunidos num conselho. E assim decidiram não lutar, porque acreditavam que poderiam resolver da mesma forma; pagaram com suas vidas por tal decisão. Os maoris eram uma numerosa população de agricultores, cronicamente envolvidos em constantes guerras ferozes, tinham tecnologias e armas melhores, e agiam organizados sob uma liderança forte. Os morioris só tinham artefatos rudimentares, e eram inexperientes em matéria de guerra. O resultado final era previsível. Os maoris chacinaram os morioris. O curioso, é que um milênio antes, estes dois povos tinham a um mesmo povo como ancestral comum, eram ambos povos polinésios que migraram por volta do ano 1.000 d.C. para estas ilhas da Oceania após partirem da Austrália. É uma experiência humana em pequena escala de como o ambiente afetou a evolução organizacional das sociedades humanas ao longo da história.
- A Oceania foi um grande laboratório humano, pois espalhadas pelo Oceano Pacífico há milhares de ilhas muito diferentes em termo de áreas, isolamento, elevações, clima, produtividade da terra, e recursos geológicos e biológicos.
- Por volta de 1.200 a.C., um grupo de agricultores, pescadores e homens do mar do arquipélago de Bismarck, ao norte da Nova Guiné, conseguiu alcançar e iniciar a ocupação de algumas das ilhas cerca. Ao longo de alguns séculos, seus descendentes colonizaram praticamente cada pedaço de terra habitável do Oceano Pacífico. As últimas ilhas foram habitadas por volta do ano 1.000 d.C.. Os ancestrais dos habitantes das ilhas da Polinésia compartilhavam essencialmente as mesmas linguagens, culturas e tecnologias, porém, a adaptação e evolução foi específica para o habitat encontrado em cada uma das ilhas. Nas ilhas maiores e de clima mais quente, houve grande densidade populacional, agricultura e técnicas mais sofisticadas de uso de ferramentas e utensílios.
- Os recursos marinhos eram muito importantes na maior parte destas ilhas, exceto nas ilhas de Páscoa, Pitcairn e Marquesas, onde as pessoas dependiam da comida que produziam.
- Nas ilhas mais ao sul, de clima mais frio, a agricultura não vingou e teve que ser abandonada, com os habitantes voltando a viver de caça-coleta e de pesca.
- Outras ilhas tinham solo rico, mas geografia não suficientemente alta para que houvesse rios ou córregos para irrigar as plantações, e seus habitantes desenvolveram métodos intensivos de agricultura, com erguimento de terraços, adubação e rotatividade de culturas, para preservar o solo. Foi o que aconteceu nas ilhas de Páscoa, Anuta e Tonga.
- As economias permaneciam mais simples em ilhas com baixa densidade populacional ou poucos habitantes, ou com a combinação de ambos. Nestas sociedades, cada unidade habitacional produzia somente para atender às suas necessidades, sem especializações. Nas ilhas maiores e mais densamente povoadas surgiram as especializações, com artesãos construtores de canoas, navegadores, pedreiros e tatuadores. As distinções sociais e os poderes dos chefes aumentavam nas ilhas mais densamente povoadas, que tinham grandes unidades políticas. A mais complexa era no Havaí, onde as divisões chegavam a oito níveis hierárquicos distintos.
- A arquitetura na Polinésia se desenvolveu na mesma direção das pirâmides do Egito, da Mesopotâmia, do México e do Peru. As estruturas polinésias não tinham a mesma escala que as pirâmides egípcias alcançaram milhares de anos antes, só porque seus chefes não podiam recrutar a mesma quantidade de trabalhadores para edificá-las. Ainda assim, os habitantes da Ilha de Páscoa ergueram estátuas de pedra de 30 toneladas, uma façanha para uma ilha que tinha tão só 7 mil habitantes naquela época.
- Na Eurásia já havia impérios antes mesmo de que a Polinésia tivesse sido ocupada. Enquanto na América do Sul havia sociedades especializadas no uso de metais preciosos, e eurasianos e africanos usavam o ferro, as ilhas da Polinésia não possuíam reservas de metais em seus solos e subsolos. Na Eurásia e na América Central surgiram escritas nativas, o que não ocorreu em nenhuma população polinésia antes do contato com os colonizadores europeus.
- As plantas cultivadas hoje fornecem frutos maiores do que seus ancestrais silvestres. Através da seleção humana, que escolheu conscientemente os frutos maiores e mais saudáveis para plantar. As ervilhas são 10 vezes maiores do que suas versões silvestres, as maçãs têm o triplo do tamanho, as espigas de milho são dezenas de vezes maiores, este aumento de tamanho frente aos ancestrais silvestres também é bastante nítido em morangos, framboesas e outras frutas, com o aumento de tamanho tendo ocorrido ao longo de séculos, de geração em geração.
- O fato da agricultura ter começado no Crescente Fértil não parece ter sido uma coincidência. O clima mediterrâneo da região é extremamente favorável. Há outras quatro áreas do planeta com clima tão favorável quanto, nas regiões onde atualmente estão a Califórnia, o Chile, o sudoeste da Austrália e a África do Sul, entretanto nenhuma destas áreas é geograficamente tão extensa, sendo o Crescente Fértil a maior área de clima mediterrâneo do mundo, estendendo-se do Oriente Médio ao sul da Europa e ao noroeste da África. Em consequência disto, apresentava uma grande diversidade de plantas e espécies animais, além de ter uma grande variação de clima entre as estações e os anos, o que foi favorável à existência de um alto percentual de plantas com ciclos anuais. A região também tinha uma alta variedade de altitudes e topografias concentradas num espaço relativamente pequeno, aumentando ainda mais a sua variedade de plantas silvestres disponíveis. Estas características também permitiram que a região concentrasse quatro espécies de grandes mamíferos domesticáveis - cabras, ovelhas, porcos e vacas - os quais até os dias atuais representam 4 das 5 espécies de animais mais domesticados no planeta Terra.
- Nem toda sociedade adota prontamente qualquer inovação que lhe seja útil, algumas são mais receptivas e outras mais resistentes perante as inovações.
- A agricultura no Crescente Fértil começou com 8 "culturas fundadoras": os cereais cevada e dois tipos de trigo, o legumes lentilha, ervilha, grão de bico, e ervilha amarga, e a fibra linho. Destes oito, só dois, o linho e a cevada, existiam como espécie selvagem fora do Crescente Fértil. A combinação destas plantas e destes animais forneciam o atendimento a todas as necessidades básicas da humanidade: carboidratos, proteínas, gorduras, roupas, tração e transporte.
- Na Mesoamérica havia apenas dois animais domesticados, o peru e o cachorro, cujas carnes eram muito menos ricas em nutrientes do que as de cabras, ovelhas, porcos e vacas, e só havia um grão disponível, o milho, cuja domesticação é muito mais complicada do que as do trigo e da cevada.
- Cinco mil anos depois da lhama ter sido domesticada na Cordilheira dos Andes, olmecas, maias, astecas, e outras sociedades nativas da Mesoamérica ainda não tinham animais de tração ou variedade de mamíferos domésticos comestíveis, só tinham o peru e o cachorro.
- Na Nova Guiné, a segunda maior ilha do mundo, atrás apenas da Groenlândia, está ao norte da Austrália. Há evidências do desenvolvimento da agricultura na região desde 7.000 a.C., com as culturas de cana de açúcar, banana, castanha e inhame, além de caules comestíveis de ervas, raízes e verduras. Sua fauna não incluía espécies de grandes mamíferos domesticáveis, tendo o porco, a galinha e o cachorro chegado posteriormente, introduzidos por povos migrados a partir da Indonésia. A dieta de proteínas das populações da região era suprida com a ingestão de ratos, aranhas e sapos no interior da ilha, enquanto no litoral havia peixes.
- A leste de onde hoje está os Estados Unidos, a agricultura se iniciou entre 2.500 a.C. e 1.500 a.C., na região dos afluentes do rio Mississipi, com as culturas da abóbora, do girassol, da verdura quenopódio (prima do espinafre), e do sumpweed, um vegetal bastante nutritivo, mas de odor não muito agradável, e cujo manuseio pode provocar irritação na pele humana.
- Ambas as regiões tiveram um boom populacional quando receberam culturas de alimentos com maior valor nutritivo, a batata doce, introduzida na Nova Guiné a partir de populações migradas da Indonésia, e o milho e o feijão, introduzidos nos Estados Unidos a partir de populações migradas do México.
- Dos mamíferos com mais de 40 quilos, só 14 foram domesticados no planeta antes do Século XX. Nova deles um áreas limitadas: o dromedário, o camelo, a lhama e a alpaca (descendentes diferentes da mesma espécie), o burro, a rena, o búfalo, o iaque, o banteng, e o gauro. Apenas cinco espécies domesticadas se espalharam por todo o planeta: a vaca, a ovelha, a cabra, o porco e o cavalo. Uma ressalva: elefantes foram amansados, mas não domesticados. Animais domesticados são considerados aqueles que são criados em cativeiro, sob controle humano de sua procriação.
- Animais verdadeiramente domesticados tiveram sua evolução afetada pela seleção humana, tendo várias diferenças em relação a seus ancestrais selvagens.
- Os 5 animais selvagens que tomaram o mundo têm todos seus ancestrais na Eurásia. Ovelhas e cabras são parentes de ancestrais selvagens do oeste da Ásia, cavalos da região sul de onde hoje é a Rússia, e vacas e porcos tinham ancestrais espalhados por toda a Eurásia e o norte da África.
- Dos 9 animais domesticados que não se espalharam pelo planeta antes do Século XX, 1 estava na América do Sul (a lhama e a alpaca, que são descendentes dos guanacos), e nenhum era original da América do Norte, da África Subsaariana ou da Austrália.
- A grande concentração e variedade de espécies de animais na Eurásia está associada a uma faixa continental que representa o maior volume de terras do mundo, e o de maior diversidade ecológica em termos de variação climática.
- A distância leste-oeste da Eurásia é a maior extensão de terras do planeta.
- Nas Américas, os ancestrais candidatos a domesticação, como cavalos e camelos, existiram mas foram extintos por volta de 12.000 a 11.000 a.C..
- A maioria das espécies animais de grande porte não são domesticáveis por seres humanos por causa de fatores como hábitos alimentares, taxa de crescimento, hábitos de acasalamento não adaptáveis ao cativeiro, nível de agressividade, tendência ao pânico, e características de organização social de seus rebanhos. Só uma pequena porcentagem dos mamíferos teve competitividade em todos estes aspectos isolados.
- A extensão Norte-Sul das Américas é muito maior (14.500 quilômetros) do que a extensão Leste-Oeste. O mesmo acontece, em menor grau, na África. Já o eixo da Eurásia é Leste-Oeste. Esta diferença foi crucial para o ritmo de expansão da agricultura e da pecuária, com consequências diretas sobre o ritmo de expansão das inovações tecnológicas.
- Num eixo leste-oeste há muitas latitudes comuns, com mesmas durações de luz do sol ao longo do dia, e com variações sazonais muito similares, com regimes de clima e volumes de chuva parecidos. Estes fatores facilitaram a disseminação de alimentos derivados de plantas domesticadas por toda a Eurásia e o norte da África. Assim, a maioria das culturas agrícolas originadas no Crescente Fértil teve facilidade de adaptação desde a França até o Japão, mas não tiveram esta mesma adaptação nas latitudes mais frias e nas regiões tropicais.
- As características comuns das mesmas latitudes também facilitaram a disseminação dos animais domesticados, que não tinham grandes barreiras em termos de variação climática.
- Estudos genéticos provaram que a maioria das culturas do Crescente Fértil é proveniente de um único processo de domesticação, cujas culturas resultantes se difundiram tão rápido que evitaram outras domesticações incipientes de espécies correlatas.
- Como exemplo, depois que as culturas agrícolas atravessaram as planícies da Hungria a caminho da Europa central, por volta de 5.400 a.C., espalharam-se tão depressa que os locais dos primeiros agricultores da vasta área que vai da Polônia até a Holanda são quase inteiramente contemporâneos quando se faz a datação de suas cerâmicas típicas com adornos lineares.
- À época de Jesus Cristo, os cereais originários do Crescente Fértil estavam sendo cultivados numa vasta extensão de 13 mil quilômetros, desde a costa do Oceano Atlântico na Irlanda, até a costa do Oceano Pacífico no Japão.
- A maioria das culturas do Crescente Fértil chegou depressa ao Egito e se expandiu para o sul até as frescas regiões montanhosas da Etiópia, mas não foi além disto.
- Ao sul do Deserto do Saara, houve domesticação de plantas silvestres nativas da Zona do Sael, adaptadas às temperaturas quentes, mas não houve diversificação nem intercâmbio com outras regiões mais ao norte da África.
- Nas Américas, a distância que separa onde estão hoje o México e o Equador é de meros 1.900 quilômetros, quase a mesma que separa os Bálcãs da Mesopotâmia. Entretanto, a intercalação de diferentes climas extremos, entre planícies quentes e vastas cadeias montanhosas frias, impediu a expansão das culturas agrícolas e pecuárias entre regiões tão próximas.
- A faixa de terra muito estreita na América Central também foi tão importante quanto o gradiente latitudinal para conter o intercâmbio de produtos agrícolas e de animais.
- Agricultores tendem a ter germes piores, armas melhores e tecnologias mais poderosas, e a viver sob governos centralizados, com elites mais cultas e capazes de empreender guerras de conquista.
- Os principais assassinos da humanidade são os germes, e estes derivaram do contato entre humanos e animais. A proximidade de humanos e animais domésticos acentuou a contaminação. Varíola, gripe, tuberculose, malária, peste negra (bubônica), sarampo, cólera, todas estas doenças infecciosas de desenvolveram a partir de doenças de animais, embora a maioria dos micróbios responsáveis por estas epidemias esteja agora restrita aos seres humanos.
- A grande pandemia da história da humanidade foi a gripe espanhola, que matou 21 milhões de pessoas no fim da Primeira Guerra Mundial. A Peste Negra matou 1/4 da população da Europa entre 1346 e 1352, com o número de mortos chegando a 70% em algumas cidades.
- As doenças epidêmicas têm em comum que elas se transmitem rápida e eficazmente das pessoas contaminadas para as saudáveis próximas a elas, e são doenças agudas, ou seja, num curto espaço de tempo ou o hospedeiro morre ou se recupera logo. Aqueles que se recuperam têm imunidade ou maior resistência a uma nova contaminação. Por isso, para se perpetuarem no tempo, estas doenças para se propagarem precisam de grandes aglomerações, sendo as chamadas "doenças de multidão".
- As doenças de multidão surgiram a partir da formação de densas populações humanas, e começaram com o surgimento da agricultura, a qual sustentou populações humanas muito mais densas do que o estilo caçador-coletor.
- Caçadores-coletores se mudam constantemente de acampamento, deixando seus dejetos com micróbios para trás.
- A relevância de micróbios mortais na história humana é bem ilustrada pela conquista europeia das Américas. Muito mais ameríndios morreram abatidos por germes eurasianos do que pelas armas e espadas no campo de batalha. Em 1519, Hernán Cortés desembarcou no México, e em 1618 a população de indígenas inicialmente de quase 20 milhões já havia sido reduzida a 1,6 milhão.
- Em 1837, a tribo dos Mandans, das Grandes Planícies dos Estados Unidos, contraiu varíola dos tripulantes de um barco a vapor que viajava pelo Rio Mississipi, e em poucas semanas a população da aldeia despencou de 2 mil para apenas 40 habitantes.
- Em 1902, uma epidemia de desinteria levada por um marinheiro do baleeiro Active matou 51 dos 56 esquimós que viviam na Ilha Southampton, na região ártica do Canadá, numa área extremamente remota.
- A população das Américas era quase tão grande quanto a da Europa quando houve o primeiro contato em 1492. Por que os americanos não tinham os mesmos germes de multidão do que os europeus? Uma primeira razão é que as barreiras geográficas impediam que as regiões densamente povoadas das Américas se conectassem e tivessem rotas de comércio. E a outra razão, e principal, é que as doenças de multidão eurasianas se desenvolveram a partir das doenças de rebanho de seus animais domesticados.
- A escrita tornou a transmissão de informações mais fácil, mais detalhada, mais precisa e mais convincente.
- A forma de escrita que se tornou mais comum na humanidade é o alfabeto, que utiliza um símbolo único (letra) para simbolizar cada som básico do idioma (fonema). Já a escrita por logogramas, com símbolos gráficos que representam uma palavra inteira, como nos sistemas chinês e japonês, e no passado nos sistemas hieróglifos egípcios, nos glifos maias e na escritura cuneiforme dos sumérios.
- As duas invenções indiscutivelmente independentes da escrita aconteceram pelos sumérios na Mesopotâmia em cerca de 3.000 a.C. e na Mesoamérica em cerca de 600 a.C.. As escritas egípcias, em 3.000 a.C., e chinesa, em 1.300 a.C., também podem ter surgido de forma independente, todas as demais foram emprestadas, adaptadas ou no mínimo inspiradas em sistemas de escrita já existentes.
- Na Mesoamérica, a mais antiga escrita preservada é do povo zapoteca, ao sul do que hoje é o México, de 600 a.C., mas a melhor decifrada é a dos maias, cuja data escrita mais antiga encontrada se refere a 292 d.C..
- Os primeiros textos preservados de qualquer idioma germânico (família e línguas que incluem o alemão e o inglês) são no alfabeto gótico criado pelo bispo católico Ulfilas, missionário que vivia com os visigodos no Século IV na região onde hoje fica a Bulgária.
- Os alfabetos surgiram aparentemente só uma vez na história humana, entre os que falavam a língua semítica na região que vai nos dias de hoje da Síria até o Monte Sinai durante o segundo milênio a.C..
- No Século VIII a.C., os gregos foram os primeiros a incluir todas as vogais em seu alfabeto, apropriando-se de letras que existiam no alfabeto dos fenícios.
- Após surgir por volta de 3.000 a.C. na Suméria, a 6.500 quilômetros a oeste dos primeiros centros urbanos chineses, a escrita apareceu a escrita apareceu por volta de 2.200 a.C. no Vale do Indo, a cerca de 4.000 quilômetros a oeste. E não se conhece nenhum sistema antigo que tenha existido entre o Vale do Indo e a China.
- Os hieróglifos egípcios também surgiram por volta de 3.000 a.C. a uma distância de apenas 1.300 quilômetros da Suméria, parecendo ter sido produto de uma invenção independente.
- Pouca gente aprendia a usar sistemas antigos de escrita, sendo o conhecimento restrito aos escribas profissionais a serviço ou do rei ou do templo religioso de cada cultura.
- Com a queda da civilização grega por volta de 1.200 a.C., a escrita conhecida como "Linear B", dos Micênicos, desapareceu, e a Grécia voltou a uma época pré-literária. Isso aconteceu justamente porque a escrita era restrita a poucos, e sendo desestimulada pelos que estiveram no poder, não se perpetuou. Quando a escrita reapareceu na Grécia, no Século VIII a.C., a nova escrita grega era muito diferente, já não sendo mais um silabário misturado com logogramas, e passando a ser um alfabeto emprestado (importado) da escrita fenícia.
- Todos os inventores famosos reconhecidos tiveram precursores e sucessores capazes, e fizeram os aperfeiçoamentos numa época em que a sociedade estava em condições de usar suas invenções. A tecnologia evolui de modo cumulativo, não em atos heroicos isolados.
- A roda foi inventada de forma independente na Mesoamérica, e a lhama foi domesticada na região central da Cordilheira dos Andes por volta de 3.000 a.C., mas cinco mil anos depois e o único animal de carga original das Américas e com potencial de tração, e as únicas rodas inventadas no continente ainda não tinham se encontrado, com a tecnologia precisando ser implementada pelos europeus. A geografia fragmentada do continente, com o istmo com apenas 64 quilômetros de largura no Panamá, impedindo que estas inovações se encontrassem.
- Em 1990, a população da Eurásia era de 4 bilhões de pessoas, e do norte da África de 120 milhões. A população das Américas era de 736 milhões, da África subsaariana de 535 milhões, e da Oceania de 18 milhões.
- Por volta de 5.500 a.C. começaram a surgir as grandes tribos centralizadas em poder, reunindo populações bem maiores em torno de si. As pessoas tiveram então, pela primeira vez na história humana, que aprender a conviver com pessoas que não eram consanguíneas ou aparentadas, tendo que passar a se encontrar regularmente com estranhos sem tentar matá-los. Estas tribos tinham chefes, e arqueologicamente são identificados porque eles tinham enterros rituais diferenciados. O marco de surgimento destas chefaturas é a região do Crescente Fértil.
- A característica econômica mais marcante das tribos centralizadas é o surgimento da cobrança de impostos para sustentar o poder político e o zelo pelas regras de convívio coletivo.
- Uma das questões mais estudadas da história da humanidade é a busca do entendimento de porque populações aceitavam pagar tributos para suas elites, tendo sido esta ao mesmo tempo, sempre, uma das principais razões para os conflitos sociais.
- A formação de estados a partir de tribos centralizadas foi observada diversas vezes. Os estados surgiram por volta de 3.700 a.C. na Mesopotâmia, e por volta de 300 a.C. na Mesoamérica, mais de dois mil anos atrás na Cordilheira dos Andes, na China e no sudeste da Ásia, e mais de mil anos atrás na África ocidental. Isto porque os estados antigos deixavam marcas arqueológicas visíveis, como ruínas de grandes templos com desenhos padronizados e cerâmicas.
- A população das tribos centralizadas agrupava de milhares a dezenas de milhares, e a dos estados chegavam às centenas de milhares.
- O surgimento de estados levou ao aumento na quantidade de guerras, e por conseguinte da escravização de outras pessoas de tribos ou estados inimigos. A maior especialização econômica dos estados com mais produção em massa e mais obras públicas, gerava maior necessidade de trabalho escravo, assim como o maior número de guerras proporcionava mais cativos disponíveis.
- Durante os últimos treze mil anos, a tendência predominante na sociedade humana foi a substituição de unidades menores e menos complexas por unidades maiores e mais complexas, com inúmeras mudanças em uma direção ou em outra, com 1.000 fusões para 999 reversões.
- Sociedades com um sistema eficaz para a solução de conflitos, tomadas de decisão e redistribuição de recursos econômicos harmoniosa podiam desenvolver tecnologia mais sofisticada, concentrar seu poder, tomar territórios maiores e mais produtivos, e dominar as sociedades menores.
- As guerras, ou as ameaças de guerra, exerceram um papel fundamental na maioria, se não em todas, as fusões de sociedades que levaram a humanidade a formar organizações maiores.
- A Austrália é o continente mais seco, de menor território, mais plano, mais estéril, climaticamente mais imprevisível e biologicamente mais pobre. Até a chegada dos europeus, abrigara as sociedades humanas mais peculiares e a população menos numerosa dentre todos os continentes.
- A Austrália era o único continente no qual os povos nativos não tinham desenvolvido quaisquer das chamadas "marcas de civilização", vivendo desprovida de agricultura, gado bovino, metal, arcos e flechas, grandes construções, aldeias povoadas, escritas, tribos centralizadas, ou estados políticos.
- Todos os aborígenes australianos eram nômades, ou caçadores-coletores seminômades, todos dependentes de instrumentos de pedra.
- Já na Nova Guiné, os papuas eram lavradores e criadores de porcos, viviam em aldeias, e eram politicamente organizados em tribos.
- A Austrália e a Nova Guiné foram ocupadas há 40 mil anos por humanos que chegaram pelas ilhas da Indonésia e das Filipinas, o que certamente exigiu uma travessia oceânica, feitas supostamente com canoas rústicas feitas de bambu. Depois deste primeiro aportamento, há 40 mil anos atrás, os registros arqueológicos não fornecem nenhuma prova convincente de outras chegadas de seres humanos na Grande Austrália por dezenas de milhares de anos.
- Somente depois de dezenas de milhares de anos surgem outros indícios seguros, com restos de cachorros e porcos levados à região por novas populações oriundas da Ásia, onde estes animais já estavam domesticados há muito mais tempo.
- O isolamento longo é comprovado pela não correlação entre as línguas faladas por aborígenes, papuas e povos asiáticos.
- Os esqueletos de aborígenes e papuas também se difere do encontrado no sudeste asiático. O tronco familiar e comum no leste da Ásia foi sendo substituído por outros povos migrados de outras partes do continente asiático.
- Os aborígenes australianos e os papuas também tinham diferenças genéticas bem claras. Grupos sanguíneos presentes na Nova Guiné são inexistentes na Austrália. O cabelo crespo dos papuas contrasta com os cabelos lisos ou ondulados dos aborígenes. As famílias linguísticas papua e aborígene não têm relação entre si, assim como não tem com as famílias linguísticas asiáticas, com exceção de alguma difusão de vocabulário, nas duas direções, pelo Estreito de Torres. As trocas de genes foram limitadas e bastante tênues.
- A Austrália tem o solo mais antigo e pobre dentre os continentes da Terra, por causa da pouca atividade vulcânica, e pela falta de montanhas altas e geleiras, características que proporcionaram poucos rios e um clima seco.
- As dificuldades geográficas do terreno e um estado de guerra intermitente fizeram que a Nova Guiné tivesse a maior fragmentação linguística, cultural e política do planeta, com a maior concentração de diferentes idiomas do mundo, divididos em várias famílias linguísticas, com línguas isolados tão diferentes entre si quanto o inglês e o chinês o são.
- Com exceção de uma - a China - as 6 nações mais populosas do mundo são caldeirões de raças (melting pots), com a conquista relativamente recente da unificação política em torno de centenas de línguas e grupos étnicos distintos, sendo este os casos de Estados Unidos, Rússia, Índia, Indonésia e Brasil. Já a China, foi unificada politicamente em 221 a.C., tendo tido desde então basicamente só um sistema de escrita. 2/3 de sua população fala mandarim, e o outro 1/3 fala dialetos muito parecidos com o mandarim, assim como um com o outro.
- A China setentrional e a China meridional têm clima e meio-ambiente diferentes. O norte é mais seco e frio, e o sul mais úmido e quente. Há diferenças genéticas que envolveram uma longa história de isolamento moderado entre o norte e o sul.
- Aqueles que usavam a língua chinesa original (o mandarim e seus sete dialetos próximos) eram muito ao substituírem e converterem linguisticamente outros grupos étnicos, os quais eles consideravam primitivos e inferiores. A história registrada da Dinastia Zhou, de 1.100 a.C. a 221 a.C., descreve a conquista e a absorção da maioria da população e das línguas não-chinesas.
- A China setentrional era originalmente ocupada por falantes do chinês e de outras línguas sino-tibetanas, e diferentes partes do sul da China eram ocupadas por falantes das famílias linguísticas miao-iao, austro-asiática e tai-kadai, que foram todas conquistadas e substituídas por falantes sino-tibetanos. Um motim linguístico ainda mais drástico deve ter passado impetuosamente sobre o sudeste da Ásia para o sul da China, pois em Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja, Vietnã e Malásia peninsular, quaisquer que fossem as línguas faladas originalmente ali, devem ter sido completamente extintas, já que todas as línguas modernas destes países parecem ser invasoras relativamente recentes oriundas sobretudo do sul da China e em alguns casos da Indonésia.
- A primeira prova de algo diferente de caça-coleta na Ásia oriental surge na China, onde restos de plantações e ossos de animais domésticos, além de cerâmica e ferramentas de pedra polida, surgem por volta de 7.500 a.C..
- A extraordinária tradição chinesa de metalurgia do bronze teve suas origens no terceiro milênio a.C. (entre 3.000 e 2.000), e resultou na mais antiga produção de ferro do mundo. Cidades fortificadas também surgiram neste terceiro milênio a.C., com a presença de cemitérios muito simples e muito suntuosos, anunciando a existência de diferenças de classes sociais. A existência de sociedades estratificadas, com governantes capazes de mobilizar grandes forças de trabalho, é comprovada por imensas muralhas de defesa, grandes palácios, e o Grande Canal, o mais extenso do mundo, com mais de 1.600 quilômetros de comprimento de norte a sul.
- O conhecimento arqueológico sobre o surgimento das cidades é complementado pelos relatos escritos das primeiras dinastias, remontando à Dinastia Xia, que surgiu por volta de 2.000 a.C.. As três primeiras dinastias da China - Xia, Shang e Zhou - surgiram na parte setentrional, ao norte. Seus estados organizados se espalharam para o sul, culminando na unificação política da China, sob a Dinastia Qin, em 221 a.C..
- Escritas preservadas do primeiro milênio a.C. mostram que o chinês étnico já se sentia culturalmente superior aos "bárbaros" não-chineses. Um escritor da Dinastia Zhou descreveu, no primeiro milênio a.C.: "os povos das tribos selvagens tinham todos suas várias naturezas, que não se pode alterar. Uns usavam cabelos soltos e tatuavam o corpo, outros comiam os alimentos crus, sem cozinhá-los no fogo".
- Os polinésios povoaram as ilhas mais distantes do Oceano Pacífico. Eles eram os maiores navegadores do mundo na era neolítica, sendo as línguas austronésias faladas como línguas nativas em metade da área do globo terrestre, da Ilha de Madagascar, na costa da África, até a Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico, na metade do caminho entre a Oceania e a América do Sul.
- Os primeiros sinais arqueológicos de algo diferente no reino austronésio provem da região onde hoje está Taiwan. A partir do quarto milênio a.C. (entre 4.000 e 3.000 a.C.), ferramentas de pedra polida e um estilo de cerâmica decorativa característico destes povos, chamada ta-pen-keng, surgem em sítios repletos de ossos de peixe e conchas de molusco, assim como chumbadas e enxós próprios para fazer canoas. Este povo evidentemente tinha embarcações próprias para a pesca em mar aberto. Assim, o estreito que separa Taiwan da China foi a base de expansão das habilidades de navegação que levou esta população a explorar os oceanos, levando os artefatos da cultura ta-pen-keng de Madagascar à Ilha de Páscoa.
- A inovação tecnológica que deu início a esta expansão foi a invenção da canoa com duplos flutuadores laterais, formados por troncos menores paralelos ao casco que davam estabilidade para enfrentar ondas fortes.
- Evidências arqueológicas e linguísticas indicam a colonização de Taiwan a partir da costa da China meridional, e na fase seguinte com a colonização das ilhas de Filipinas e Indonésia.
- As três regiões das Américas que abrigavam sociedades urbanas - Andes, Mesoamérica e sudeste dos Estados Unidos - nunca estiveram ligadas entre si por meio de um comércio intenso e volumoso como os que levaram os germes entre as regiões da Eurásia.
- Além do fator dos germes, havia as diferenças em termos de tecnologia, que se originaram em última instância pela história mais longa da Eurásia com sociedades populosas e economicamente especializadas, e politicamente centralizadas. Cinco áreas tecnológicas podem ser destacadas: os metais usados para fabricar ferramentas, a tecnologia militar mais potente, as fontes de energia para operar máquinas, a utilização mecânica da roda, e a capacidade de navegação marítima contra o vento, com velocidade, manobrabilidade e robustez das embarcações muito superior, com bússolas magnéticas, lemes de popa e canhões.
- Embora o cobre, a prata e o ouro fossem utilizados nas Américas, eram utilizados somente para a confecção de adornos. Suas ferramentas eram de madeira, pedra e ossos de animais.
- Nas Américas, a roda só tem utilização comprovada em brinquedos de cerâmica usados por crianças na Mesoamérica.
- Os estados da Eurásia dispunham de escrita, sendo burocracias alfabetizadas que facilitavam a administração política e o intercâmbio econômico, orientando as explorações e conquistas, e disponibilizando uma série de informações e experiências humanas. Nas Américas, a escrita não era um veículo para transmitir informações detalhadas.
- O eixo leste-oeste da Eurásia permitiu a difusão de civilizações sem mudança de latitude e das variáveis ambientais associadas, condições não encontradas no eixo norte-sul das Américas e da África, que além do mais eram continentes mais fragmentados geograficamente por áreas impróprias para a produção de alimentos e a formação de populações humanas densas. Em consequência, não houve difusão de animais domésticos, da escrita, de entidades políticas e de outras inovações, havendo uma difusão muito mais limitada e lenta da agricultura e das tecnologias.
- Na Eurásia, o Império Macedônio de Alexandre, o Grande, e o Império Romano, dos Césares, abrangeram cerca de 4.900 quilômetros cada um, e o Império Mongol, de Genghis Khan, abrangeu quase 10.000 quilômetros.
- Os escandinavos da Noruega colonizaram a Islândia em 874 d.C., a Groenlândia em 986 d.C., e visitaram várias vezes a costa nordeste da América do Norte entre 1.000 e .1.350 d.C.. O único sítio arqueológico viking encontrado na América do Norte está em Terra Nova, possivelmente a região descrita como Vinland nas sagas escandinavas, que também mencionam desembarques mais ao norte, na costa de Labrador e na Ilha de Baffin.
- A África é o único continente que se estende da zona temperada norte do planeta à do sul. Abrange alguns dos desertos mais secos do mundo, as maiores florestas tropicais e as montanhas equatoriais mais altas.
- Os cinco principais grupos humanos que a África abrigava por volta do ano 1.000 d.C.: negros, brancos, pigmeus africanos, coissãs e asiáticos. Estes cinco grupos correspondem a quase todas as grandes divisões da humanidade, como única exceção aos aborígenes da Austrália.
- Os negros ocuparam a maior parte da África a partir de 1.400 d.C.: o Saara meridional e a maior parte subsaariana do continente. Os brancos, entre egípcios e marroquinos, ocupavam o norte do Deserto do Saara. E tanto negros quanto brancos africanos dependiam de atividades agrícolas e pastoris para a sua sobrevivência.
- Os coissãs e os pigmeus sempre se mantiveram como caçadores-coletores, nunca tendo se tornado agricultores, os primeiros ao sul e os segundos no centro do continente. Os pigmeus têm estatura mais baixa e uma pele também mais escura, mas de tom mais avermelhado escuro. Os coissãs tem uma pele mais amarelada, mas também mais escurecida do que a dos asiáticos. E já na Ilha de Madagascar há a presença de povos ancestrais de origem asiático, cujos antepassados miraram para esta região a partir da região de Bornéu, no leste da Ásia, com uma origem austronésia.
- As 1.500 línguas faladas na África podem ser agrupadas em apenas 6 famílias: afro-asiáticas, nigero-congolesa, banta, nilo-saariana, coissã, e austronésia.
- A subfamília linguística semítica, à qual pertence o aramaico, o hebraico e o árabe, tem origem africana, formando uma das muitas ramificações da família afro-asiática. 12 das 19 línguas semíticas sobreviventes estão restritas à região da Etiópia.
- Os povos favorecidos pela localização geográfica que herdaram ou desenvolveram a produção de alimentos, tornaram-se capazes de subjugar os demais.
- Todas as culturas agrícolas nativas da África - a região do Sael, a Etiópia e a África ocidental - têm origem ao norte da linha do equador. Nem um só produto africano teve origem ao sul. É uma pista do motivo pelo qual os falantes das línguas nigero-congolesas, partindo de regiões ao norte da linha do equador, conseguiram expulsar os pigmeus da África equatorial e os coissãs da região subequatorial. A ampla maioria das plantas silvestres destas regiões era imprópria para a domesticação; nem os agricultores herdeiros de milhares de anos de experiência agrícola foram capazes de converter as plantas nativas do sul da África em cultivos.
- O único animal domesticado na região subequatorial da África foi uma ave da família do peru chamada galinha d'angola.
- A expansão dos ancestrais dos agricultores bantos das savanas ocidentais para o sul do continente começou por volta de 3.000 a.C. Eles criavam gado e tinham culturas agrícolas de clima úmido, como o inhame, mas não conheciam metais, e ainda se dedicavam muito à caça, à pesca e à coleta. Posteriormente perderam o gado bovino por causa de uma doença transmitida pelas moscas tsé-tsé, que erradicou seus rebanhos.
- Por volta de 1.000 a.C., os bantos chegaram à região onde hoje é o Quênia e aos Grandes Lagos, onde encontraram um caldeirão racial de agricultores e pastores cultivando milhete e sorgo; eram povos de origem afro-asiáticas e nilo-saarianas. Seguiram se expandindo com suas culturas agrícolas de áreas úmidas, e no século seguinte chegaram e ocuparam o lado oriental do continente.
- Apenas quatro anos depois de chegar à costa oriental da África, em 1498, Vasco da Gama voltou com uma frota cheia de canhões para forçar a rendição do porto mais importante da África oriental, Kilwa, que controlava todo o comércio de ouro do Zimbabwe.
- Depois da ascensão dos estados do Crescente Fértil no quarto milênio a.C., com o centro do poder se alternando entre os impérios da Babilônia, dos Hititas, da Assíria e da Pérsia, com a conquista de todas as sociedades avançadas da Grécia por Alexandre, o Grande, no fim do Século IV a.C., o poder fez sua primeira mudança para o oeste (para o ocidente). Depois seguiu ainda mais para o oeste quando Roma conquistou a Grécia no Século II a.C..
- Grandes partes do que um dia foi o Crescente Fértil são hoje áreas desérticas, semidesérticas, estepes, solos muito erodidos ou salinizados. Em tempos antigos eram áreas cobertas por florestas. Os paleobotânicos e arqueólogos mapearam a transformação: suas florestas foram derrubadas pela agricultura ou cortadas para a obtenção de madeira tenha sido para construções ou uso como lenha. A recuperação da vegetação não conseguiu acompanhar o ritmo da destruição. A agricultura de irrigação no ambiente de baixa pluviosidade favoreceu a salinização do solo. Cometeram um suicídio ecológico destruindo sua própria base de recursos.
- A balcanização geográfica da Europa, ou seja, sua situação geopolítica de intensa fragmentação, resultou em muitos pequenos estados independentes e rivais, e centros de inovação que concorriam entre si. Se um estado não descobrisse uma inovação, outro o faria, e a concorrência levava os vizinhos a tentar fazer o mesmo, tentado se copiar mutuamente, do contrário seriam conquistados ou deixados para trás no aspecto econômico. Assim, a busca por inovação e desenvolvimento de novas tecnologias se alastrava com mais facilidade.
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