A máscara funerária do rei egípcio Tutancâmon foi feita de ouro, pedras semipreciosas e pasta de vidro colorido, tendo 54 cm de altura e 39,5 cm de largura, e tendo sido esculpida, segundo se estima, em algum momento entre os anos 1.350 a.C. e 1.324 a.C.. Atualmente é conservada no Museu Egípcio, na cidade do Cairo, no Egito.
Três detalhes se destacam nela:
- Nemes: tradicionalmente usado pelos faraós, é feito em ouro e lápis-lazuli - material tão caro que já foi chamado de "ouro azul". Os faraós eram considerados a encarnação de deus na Terra, por isso, usavam azul. Eles também eram associados ao deus do sol e, por isso, utilizavam o ouro.
- Cobra e Abutre: a cobra, elemento tradicional para enfeitar a cabeça de um faraó, era uma deusa protetora do Baixo Egito. Ao seu lado está o emblema da deusa abutre Nekhbet, espírito encarregado de proteger o Alto Egito.
- Cabeça de falcão na gola: a gola e a ombreira do exemplar, feitas com cerâmica e ouro, estão conectadas por um falcão. O animal é símbolo do deus do céu e, por associação, da condição divina do faraó.
A preservação corporal era considerada essencial para que a alma do faraó pudesse renascer após a morte. Por isso, a máscara foi grudada ao corpo com uma resina espessa. Ela era tão forte que, quando ela foi descoberta pela primeira vez, só pode ser removida depois que a cabaeça da múmia foi separada do corpo.
Encontrada em 1922, a máscara mortuária do jovem governante guardava os segredos de um rei que, em vida, pouco fez. Tutancâmon ou Tutankhamon – "o que ama a imagem de Amon" - inicialmente chamado de Tutankhaten, foi um faraó de menor importância da 18ª dinastia do Egito que tinha tudo para ter sido esquecido pela história. Ele assumiu o trono aos 9 anos e os sacerdotes restauraram o culto aos antigos deuses e recuperaram os privilégios tirados por seu pai. Exames em sua múmia revelaram que o faraó teria entre 17 e 19 anos quando morreu.
Seu pai, Amenófis IV ou Amenotepe IV (nas diferentes possíveis grafias) mudou seu nome para Aquenáton ou Akhenaton – "aquele que serve a Aton" – e tentou instaurar a religião monoteísta no Egito, venerando ao deus Aton, em detrimento do politeísmo que era praticado até então. Ele morreu aos 18 anos, em 1.327 a.C.. Todos aqueles ligados ao faraó revolucionário quase foram apagados da história egípcia e assim, mesmo com Tutancâmon tendo restaurado o culto aos antigos deuses, seu nome teria tido pouca importância para a posteridade. Entretanto, o que o fez se transformar em um faraó dos mais conhecidos foi a descoberta de sua tumba em 1922.
No dia 16 de fevereiro de 1923, a câmara funerária de Tutancâmon foi aberta revelando ao mundo o sarcófago do faraó guardado havia mais de 3.300 anos. Os primeiros sinais da existência da tumba – que recebeu o nome de KV62 – foram descobertos em 4 de novembro de 1922 pelo arqueólogo britânico Howard Carter. Seguiram-se semanas de trabalho para retirar os numerosos objetos que atulhavam a antecâmara. Eram caixas, cadeiras, vasos, sofás, carruagens desmontadas e estátuas – a maioria de ouro.
A tumba era pequena, pois provavelmente haveria tido um espaço maior reservado para abrigar o corpo de Tutancâmon, usurpado por um de seus sucessores depois de sua morte precoce, após cerca de 10 anos de governo sob a influência do conselheiro real Ay, que o sucederia no trono. Apesar do espaço menor do que o de costume para a tumba de um faraó, e da decoração menos impressionante do que a encontrada em outras sepulturas, os seus tesouros foram encontrados praticamente intactos (talvez até por conta de ser uma tumba mais discreta) tendo sobrevivido aos ladrões de túmulos. Os defuntos eram enterrados com uma multitude de objetos que precisariam na vida após a morte, desde roupas e joias até comida e bebida. Nessa tumba, foram encontrados cerca de 3.500 artefatos que levaram 10 anos para serem catalogados pelos arqueólogos.
Ao remover a porta selada da câmara funerária, a primeira visão foi de uma grande caixa de madeira dourada de 5 metros de comprimento, 3 metros de largura e 2,75 metros de altura. Nas laterais, junto ao santuário estavam 11 remos para a Barca do Sol, recipientes para incenso, lanternas decoradas com imagens do deus Hapy (filho de Hórus). O santuário não era uma peça única: dentro dele havia outros três santuários. O último deles, mais interno, media 2,90m de comprimento e 1,48m de largura. Suas paredes estavam decoradas com imagens funerárias e, no teto estava Nut, a deusa do céu, abraçava com suas asas o sarcófago de granito.
Dentro dos santuários estava o sarcófago de Tutancâmon, feito de um único bloco de pedra medindo 2,75 metros de comprimento, 1,33 metro de largura e 1,49 metro de altura. Era fechado com uma tampa de granito rosa pesando 1.250 quilogramas. Dentro do sarcófago de pedra havia três caixões antropomórficos, um dentro do outro. Os dois primeiros feitos de madeira de cipreste e o último feito de 110,4 quilogramas de ouro puro. Este último continha a múmia de Tutancâmon com a máscara mortuária de ouro, lápis-lazúli, cornalina, quartzo, obsidiana, turquesa e vidro, pesando 11 quilos. A peça mais impressionantes do tesouro era sem dúvida a máscara funerária de Tutancâmon – confeccionada em ouro maciço –. Pedras semipreciosas foram incrustradas para criar os detalhes de seus olhos e sobrancelhas, do colar e da serpente em sua coroa, além de pasta de vidro como lápis-lazúli no nemes.
Esses adornos são os típicos dos faraós: a mitra chamada de nemes, que fica em volta do rosto, com suas listras evoca os raios solares de Amon, o deus sol ao qual os faraós eram assimilados; a tiara com o uraeus – a serpente – e o abutre que indicam seu papel como o governante do Alto e do Baixo Egito; a barba cerimonial que atesta seu caráter divino; e, por fim, um colar de 12 voltas concêntricas.
O ouro foi usado em abundância tanto na máscara quanto nos caixões – um deles de ouro maciço e dois outros de madeira recoberta uma fina camada de ouro – pois acreditava-se que os deuses eram dourados, sendo representados frequentemente em amarelo, em alusão ao ouro e ao sol, em pinturas nas tumbas. Assim, a máscara duraria para sempre, como a alma do defunto, que poderia reconhecer seu corpo através do retrato estilizado do morto e voltar até ele, garantindo assim sua ressureição. Acreditava-se que as almas dos faraós viveriam junto aos deuses após sua morte. Personagens menos importantes não tinham suas máscaras feitas de metal, mas sim de tecido coberto com gesso. Na parte de trás da máscara, há hieróglifos com um feitiço do "Livro dos Mortos", reforçando assim a proteção ao defunto e sua ressureição.
Era a manhã do dia 25 de novembro de 1922 quando a porta selada foi removida e o que encontraram foram pedras e lascas de calcário até o topo. Removido o entulho, perceberam que era uma passagem de 6 metros que chegava a outra porta selada, semelhante à primeira. Carter abriu um pequeno buraco no canto superior esquerdo e inseriu um bastão de ferro para ver se havia mais entulho no local, mas o bastão não encontrou obstáculo.
O local parecia vazio e Carter abriu um pouco mais o buraco, o suficiente para inserir uma vela acesa e ver o que havia ali dentro. Ele relata o que aconteceu, então:
"Logo que meus olhos se acostumaram à luz, detalhes da sala surgiram lentamente da névoa, animais estranhos, estátuas e ouro – em todo lugar o brilho de ouro. (...) Fiquei mudo de espanto, e quando lorde Carnarvon, incapaz de suportar o suspense por mais tempo, perguntou ansiosamente – "Você consegue ver alguma coisa?" – tudo que eu pude dizer foi: "Sim, coisas maravilhosas".
Na manhã seguinte, dia 26, a porta foi removida revelando a antecâmara atulhada de caixas, cadeiras, vasos, sofás, carruagens desmontadas, estátuas – a maioria de ouro. A tumba KV62 (Kings' Valley 62) do faraó Tutacâmon havia sido descoberta! Na parede oposta, havia duas estátuas de guardiões, em tamanho natural, uma de frente para a outra. Entre elas, uma porta também selada. Ela levaria semanas para ser aberta. Antes disso, era preciso remover todos os objetos da antecâmara.
Os trabalhos na câmara duraram 8 anos. A remoção da tampa de cada peça foi tarefa cuidadosamente planejada. A múmia de Tutancâmon só foi revelada em 28 de outubro de 1925, quase três anos depois de encontrado o acesso à tumba. A múmia estava embrulhada em 16 camadas de bandagens de linho e dentro de cada camada havia numerosas peças de joalheria e amuletos, figuras divinas e dois punhais de ouro. A múmia usava peitoral, colares, braceletes, brincos e tinha os dedos das mãos e dos pés cobertos com dedeiras douradas.
Referências:
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https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/aberta-a-camara-funeraria-de-tutancamon/
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https://artrianon.com/2021/01/06/obra-de-arte-da-semana-mascara-funeraria-de-tutancamon/
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https://www.nationalgeographic.com/culture/people/reference/tutankhamun/
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https://egymonuments.gov.eg/en/monuments/tomb-of-tutankhamun
“Tutankhamun Death Mask” in King Tut Exhibition, [Online]. Consultado em 05/01/2021.
https://kingtutexhibition.com/news/tutankhamuns-death-mask/
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