Em 1974, perto da antiga cidade chinesa de Xianyang, no Distrito de Lintong, em Xi'an, província de Shaanxi, agricultores que escavavam um poço de água a leste do monte Lishan encontraram fascinantes estátuas. A partir desta descoberta, escavações posteriores revelaram um exército virtual de guerreiros presumivelmente destinado a proteger eternamente ao primeiro imperador da China, Qin Shi Huang, após a sua morte.
Seu nome era Ying Zheng, tendo ele adotado ao título de "Shi Huangdi" ("Primeiro Imperador"), sendo assim Qin Shi Huang Di seria 'Primeiro Imperador Qin'. Ele nasceu ou em novembro ou em dezembro de 260 a.C. (há controvérsia em relação à data exata dos registros) e sabe-se que morreu em 10 de setembro de 210 a.C.. Ele foi o rei do estado chinês de Qin de 247 a 221 a.C., tendo posteriormente se tornado o primeiro imperador de uma China unificada de 221 a 210 a.C., reinando sob a alcunha de "Primeiro Imperador".
Em 259 a.C. o território da China era dividido em 7 estados que viviam em guerra para controlar uns aos outros, no período da história chinesa conhecido como "Período dos Estados Combatentes". Um desses estados se chamava Qin, e na família real de lá nasceu Ying Zheng, o príncipe que se tornou rei aos 13 anos, e governou com o auxílio de um regente até os 22, quando assumiu o controle total de Qin. Durante mais de uma década, ele se dedicou completamente a tomar os demais estados e a unificar a China sob sua autoridade. Metodicamente, conquistou um por um os demais estados: Han, Zhao, Wei, Chu, Yan e Qi.
Então Qin Shi Huang e seu primeiro-ministro, Li Si, iniciaram uma série de reformas significativas para a fortificação e a estabilização da unidade política chinesa, ordenando projetos de construção gigantescos, tendo entre outros iniciado a própria Muralha da China. Entre estas construções de grandes proporções está o Complexo Funerário do Imperador, ao qual fazem parte as estátuas descobertas em 1974.
O relato mais antigo, datado de 89 a.C., de Sima Qian, na obra Registros do Historiador, não menciona as estátuas dos guerreiros, mas descreve que o imperador teria mandado sacrificar as concubinas para serem enterradas junto a ele (7 por esta descrição) e faz referência a terem sido enterrados juntos de artesãos do complexo para os impedir de relatar a faustosa construção de sepultamento que tinham ajudado a criar.
A partir da descoberta em 1974, nas décadas seguintes os arqueólogos descobriram vários sepultamentos em massa no Complexo Funerário do Imperador, que tem uma área de 56 quilômetros quadrados.
O local de descanso final do imperador permanece intocado. No túmulo do imperador, os registos históricos referem que Qin Shi Huang criou uma réplica do seu reino para a sua morada final. Os arqueólogos ainda não escavaram este ponto, temendo que a exposição possa danificar o espólio. É plausível que a câmara mortuária possa incluir um féretro de bronze, réplicas de palácios, rios de mercúrio, e "utensílios raros e objetos maravilhosos" (como dito na descrição do texto do Século I a.C.). As escavações têm revelado muitos poços no interior e exterior do complexo muralhado, tendo sido descobertas carruagens de bronze (5), armaduras de pedra (9) e acrobatas de terracota (8), junto a restos mortais de cavalos verdadeiros e de outros animais.
A morte do imperador teria acontecido durante uma viagem para o leste da China à procura das lendárias Ilhas dos Imortais, onde pretendia descobrir o segredo da imortalidade. Supostamente, Qin Shi Huang teria morrido ao beber uma poção preparada pelos médicos da corte que deveria torná-lo imortal, contendo altas taxas de mercúrio, às quais acabaram por envenená-lo. A morte teria ocorrido no Palácio de Shaqiu, que ficava a aproximadamente dois meses de distância, por terra, da capital Xianyang.
O primeiro-ministro Li Si, que o acompanhava, temendo as consequências da notícia de sua morte, dados ressentimentos da população pelas brutais políticas utilizadas no império por Qin Shi Huang que a forçava a trabalhar em projetos gigantescos, como o próprio mausoléu do imperador, decidiu ocultar sua morte até que a comitiva houvesse regressado em segurança à capital, o que levaria dois meses para acontecer. Li Si ordenou que duas carruagens contendo peixes fossem levadas uma atrás e outra na frente da carruagem do imperador para que ninguém sentisse o cheiro exalado pelo seu corpo sem vida, e todos os dias ele próprio entrava na carruagem e fingia discutir assuntos políticos. Tendo o imperador sido um homem bastante retraído e de poucas aparições, o estratagema de Li Si funcionou. Após dois meses, a corte imperial estava novamente em Xianyang, e só então neste momento é que foi anunciada a morte do imperador.
Supostamente, foi exatamente este fator de ressentimento geral com a tirania autocrática de Qin Shi Huang que teria levado à preocupação com a construção de um exército de estátuas de pedra que protegessem o sepulcro do "Primeiro Imperador". A tumba de Qin Shi Huang fica junto a uma pirâmide de terra com 47 metros de altura e 2,18 quilômetros quadrados de área. O complexo do mausoléu teria sido construído para servir como um palácio ou corte imperial, sendo dividido em várias salas e outras estruturas, e cercado por uma muralha com diversos portões, sendo a estrutura protegida por um exército de soldados em terracota (argila cozida no forno sem ser vitrificada).
A construção do mausoléu teria começado em 246 a.C. e acredita-se que 700 mil trabalhadores e artesãos levaram 38 anos para a completar. No relato histórico de 89 a.C. mencionou-se que o imperador foi enterrado junto a grandes tesouros e objetos artísticos, numa réplica do mundo na qual pedras preciosas representavam aos astros, pérolas aos planetas e lagos de mercúrio representavam os mares. Estudos científicos mais recentes teriam detectado altos índices de mercúrio no solo, comprovando este relato do historiador.
Para entender o simbolismo que o "Complexo Funerário do Imperador" e o Exército de Guerreiros Xian têm para a história chinesa, é preciso entender o peso que Ying Zheng tem e o quanto seus feitos se perpetuaram pelos milênios seguintes. A História Antiga da China, anterior a Zheng, o Qin Shi Huang, é dividida em três períodos: as Dinastias Xia (2.070 a 1.600 a.C.), Shang (1.600 a 1.046 a.C.) e Zhou (1.046 a 256 a.C.). A partir da unificação dos 7 estados sangrentamente executada por ele, inicia-se a História Imperial da China, que se estende de 221 a.C. até 1.911 d.C., quando é consolidada a República da China.
A história imperial se inicia com Qin Shi Huang, e a partir dela pelas subsequência de dinastias que controlaram a China unificada: Dinastias Qin (221 a 2016 a.C.), Han (206 a.C. a 220 d.C.), Três Reinos de Wei, Shu, e Wu (220 a 280 d.C.), Jin (265 a 420 d.C.), Dinastias Norte e Sul (420 a 589 d.C.), Dinastias Sui (581 a 618 d.C.), Tang (618 a 907 d.C.), Song (960 a 1.271 d.C.), Yuan (1.271 a 1.368 d.C.), Ming (1.368 d.C.), e Qing (1.644 a 19.11 d.C.). A magnitude da construção de seu mausoléu representa a proporção de seus atos para a história da China.
O Exército de Guerreiros de Terracota de Xian é composto por mais de 8 mil estátuas, todas em detalhes e tamanho natural, com cada peça pesando em média 260 quilos. A altura dos combatentes de terracota variava, incluindo os mais baixos, de 1,7 metros, até gigantes soldados de 2 metros de altura. Nenhum deles era igual ao outro, com a fisionomia das obras variando minuciosamente. Todas as estátuas tinham armas realistas feitas em bronze. E havia também figuras de animais: mais precisamente 520 cavalos, totalizando uma quantia de 130 carruagens, todas modeladas artesanalmente. Originalmente, o exército funerário era colorido. O exército só resistiu ao tempo devido a um revestimento especial de cromo, que ganhava maior propriedade em combinação com o pH relativamente alto do solo, favorável à preservação contra a corrosão do tempo. Além dos guerreiros, no mausoléu também havia artefatos do governante, como objetos em cerâmica, ouro, prata, bronze e jade. Tinha também armas e tripés militares e ainda objetos domésticos, como colheres, pratos e chaleiras.
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