HARARI, Yuval Noah. Sapiens - Uma Breve História da Humanidade. L&PM Editores, 19ª edição, 2017. (428 páginas)
- A biologia separa os seres vivos em espécies. Cavalos e jumentos tem um ancestral comum e partilham muitos traços físicos, mas ao acasalarem, geram descendentes inférteis, logo são espécies diferentes. Um buldogue e um spaniel tem uma aparência muito diferente um do outro, mas se acasalam e geram descendentes férteis, logo são a mesma espécie, sendo ambos cachorros. As espécies são agrupadas em gêneros: leões, tigres, leopardos e jaguares são todos espécies diferentes pertencentes ao mesmo gênero. Os gêneros por sua vez são divididos em famílias, como os felídeos (leões, guepardos e gatos) e os canídeos (lobos, raposas e chacais). Todos os membros de uma família têm o mesmo patriarca ou a mesma matriarca.
- O gênero Homo surgiu há 2,5 milhões de anos, como evolução de um gênero ancestral chamado Australopithecus.
- Nos últimos 10 mil anos, o Homo sapiens foi a única espécie do gênero Homo que existiu.
- Em Homo sapiens, o cérebro consome 25% da energia do corpo quando está em repouso, enquanto nos outros primatas consome em média 8%. Isto exige que o corpo direcione mais energia para os neurônios. Assim, um chimpanzé não pode vencer uma discussão com um ser humano, mas num embate físico, um chimpanzé dilaceraria um ser humano. O Homo sapiens só sobreviveu graças à sua capacidade de inovação, criando ferramentas para compensar sua fragilidade física e se impor sobre seus predadores fisicamente mais poderosos.
- O bipedismo com caminhar ereto exigia quadris mais estreitos, que levaram a um grande risco de morte no parto, só sobrevivendo as fêmeas que pariam filhotes mais frágeis. O nascimento humano é precoce comparado ao de todos os outros animais da Terra, o bebê humano nasce mais frágil e leva mais tempo para amadurecer a seus sistemas vitais. Mães solitárias não conseguiam comida suficiente, só sobrevivendo os filhotes que eram cuidados por grupos que davam ajuda constante às mães e ao amadurecimento de seus filhotes. Estes mecanismos de seleção natural levaram a evolução humana a favorecer àqueles com maior capacidade de formação de laços sociais.
- Há evidências de uso esporádico do fogo por hominínios há 800 mil anos. Há 300 mil anos, no gênero Homo, tanto sapiens quanto neandertais quanto erectus dominavam o fogo, a primeira grande inovação humana. Com alimentos cozidos, o tempo de digestão se reduziu de 5 horas para apenas 1 hora, liberando energia para ser utilizada pelo corpo, e incentivando com esta enrergia extra ao desenvolvimento de outras habilidades.
- Há 70 mil anos atrás, o Homo sapiens saíram da África e chegaram para se estabelecer definitivamente no Oriente Médio. Há 60 mil anos chegaram à Ásia, há 45 mil anos à Europa e à Austrália, há 16 mil anos teriam cruzado o Estreito de Bering, há 14 mil anos se estabelecido no centro da América do Norte, e há 12 mil anos chegado à América do Sul.
- Evidências moleculares indicam que humanos modernos no Oriente Médio e na Europa têm de 1% a 4% de DNA neandertal, e que melanésios e aborígenes têm até 6% de DNA denisovano.
- 70 a 30 mil anos atrás: invenção de barcos rústicos, lâmpadas a óleo, agulhas, arco e flechas, além do surgimento das artes, de religiões, do comércio, e da estratificação social (Revolução Cognitiva).
- Há 45 mil anos atrás, o Homo sapiens chegou à Oceania, ocupando ilhas que estavam a 200 quilômetros de distância uma da outra. É certo que usavam embarcações para fazer estas travessias.
- Em alguns milhares de anos após a chegada do Homo sapiens à Austrália, de 24 espécies de animais com 50 quilos ou mais, 23 foram extintas. O mesmo aconteceu após a chegada à América do Norte, quando 34 das 47 espécies de grandes mamíferos foi extinta, e na América do Sul, onde 50 de 60 espécies foram extintas.
- Os Homo sapiens se diferenciaram na história por sua capacidade de cooperar. Em uma briga de um para um, um neandertal derrotava um sapiens, mas no conflito entre grupos, os neandertais não tiveram nenhuma chance.
Obs: da mesma forma serve para as inovações, não importa quem teve ideias novas, importa quem conseguiu construir as relações sociais necessárias para tirar a iniciativa do campo das ideias e materializá-la no campo das ações.
- Da mesma forma, nos tempos atuais, a comparação entre pequenos grupos de indivíduos de chimpanzés e seres humanos são embaraçosamente parecidos. As diferenças significativas aparecem quando se ultrapassa o limite de se agrupar a quantidade de mais de 150 indivíduos. A capacidade de cooperar com uma grande quantidade de estranhos é o que deu ao Homo sapiens sua capacidade inventiva diferenciada, a qual o levou a dominar o planeta.
- Em sítios arqueológicos de habitações de Homo sapiens no interior continental são encontradas conchas, em áreas que estavam a quilômetros de distância do litoral e do mar, indicando que havia escambo (trocas comerciais) entre diferentes populações de Homo sapiens. Sítios com escavações de antigas habitações neandertais jamais sinalizaram a presença de conchas ou produtos indicativos de um escambo intensivo.
- Em sítios arqueológicos na Nova Guiné foi encontrada a presença de obsidianas, vidro vulcânico usado para fabricar ferramentas mais fortes e afiadas, cujos depósitos naturais se encontravam em ilhas da Oceania a 400 km de distância, indicando não só o escambo comercial, como a existência de um fluxo marítimo deste escambo.
- Foi identificado em macacos-verdes padrões de comunicação alertando um para a presença de águias e outro para a de leões, seus dois principais predadores. Reproduzindo gravações destes chamados, sempre que soava o alerta contra águias, todo o grupo de macacos olhava para os céus, e sempre que soava o alerta contra leões, todo o grupo se movimentava conjuntamente em direção à parte mais alta das árvores. Igualmente foi observado alertas falsos dados para que indivíduos do grupo que recém tinham obtido um alimento abandonassem esta comida, que era roubada pelo indivíduo que disparou o alarme falso.
- Para sobreviver, os caçadores-coletores precisavam de um conhecimento pleno de seu território, conheciam cada planta, os hábitos de cada animal, qual alimento era mais nutritivo, mais nocivo, e qual podia ser usado como remédio, e cada indivíduo precisava saber como fazer suas próprias ferramentas. O domínio de cada habilidade requeria anos de aprendizagem e prática. O caçador-coletor médio tinha conhecimentos mais abrangentes, profundos e variados do que um ser humano que viveu milênios depois dele em sociedades mais tecnologicamente avançadas. A coletividade humana conhece no Século XXI muito mais do que os bandos antigos, mas a nível individual, os caçadores-coletores tinham muito mais habilidades.
- 12.500 a 9.500 a.C.: Natufianos viviam em acampamentos permanentes na região do Levante. Estes agrupamentos foram crescendo, e proporcionando mais intercâmbio, e desta forma gerando mais inovações.
- 9.500 a.C.: Templo de Gobekli Tepe, encontrado onde hoje está a Turquia, e foi uma prova de que a religião também era praticada por grupos de caçadores-coletores. O templo reunia estruturas com pilares de pedra de 7 toneladas e 5 metros de altura, e com gravuras esculpidas. Foram encontradas mais de 10 estruturas monumentais, a maior com quase 30 metros.
- 9.500 a.C.: início da Revolução Agrícola
- 90% das calorias e nutrientes que alimentam a humanidade hoje, derivam de plantas e animais que foram domesticados entre 9.500 e 3.500 a.C.
- A maioria das espécies de plantas e animais na natureza não podem ser domesticada
- A Revolução Agrícola proporcionou muito mais alimentos por unidade de território. Com mais alimento disponível, as populações em torno dela se multiplicaram mais, vindo a crescer exponencialmente. Não significa que a agricultura proporcionou mais qualidade de vida, ela proporcionou mais quantidade de pessoas permanecendo vivas.
- Domesticação de animais: os mais agressivos eram logo abatidos primeiro, para que não dessem trabalho, e os mais dóceis eram mantidos por perto, sendo criados junto ao grupo. Esta seleção fazia os mais procriassem e os mais agressivos não, gerando características sociais mais mansas nas espécies, e assim depois de algumas gerações transformando-os em animais domésticos e não selvagens.
- A agricultura permitiu que as populações aumentassem de maneira tão rápida e radical, que nenhuma sociedade agrícola complexa poderia se sustentar de novo só de caça e de coleta. Foi um ponto sem volta, não havia retorno.
- A Revolução Agrícola tornou o futuro muito mais importante do que havia sido até então. Os agricultores precisavam trabalhar em função do futuro, prevendo e antecipando acontecimentos, com base nos ciclos sazonais de produção, com longos meses de cultivo seguidos por períodos curtos de colheitas.
- 3.500 - 3.000 a.C.: sumérios inventaram um sistema para armazenar e processar informações: a escrita. Combinando símbolos, foram capazes de preservar muito mais dados do que o cérebro humano era capaz de se lembrar.
Obs: a mensagem mais antiga já encontrada, registrada numa tábua de argila, dizia: "29.086 medidas de cevada recebidas em 37 meses. Assinado: Kushim". Não se sabe, e nunca se saberá, se Kushim era o nome da pessoa responsável pelo controle, ou se era a designação de um cargo de quem era responsável por este controle.
Obs 2: outros sistemas de escrita surgiram com hieróglifos no Egito, assim como na China em 1.200 a.C., e na América Central entre 1.000 e 500 a.C..
- A Bíblia hebraica, a Ilíada grega, a Tipitaka budista, e a Mahabharata hindu, todas começaram como obras orais, transmitidas por muitas gerações.
- 3.100 a.C.: formação do primeiro reino egípcio, no vale do baixo Rio Nilo
- 3.000 a.C.: a primeira forma de dinheiro que se tem notícia na história foi inventada na Suméria, através de grãos de cevada utilizados como fatores de troca. Posteriormente, na Mesopotâmia, surgiu como dinheiro os siclos de prata, medidos em quantidade de gramas deste metal.
- 2.250 a.C.: Sargão, o Grande, ergue o primeiro império, o Acadiano, que mobilizava um exército de 5.400 soldados.
- Redes de Cooperação em Massa quase nunca era voluntária, e raramente é igualitária. A maior parte destas redes é concebida para a opressão e a exploração.
- 1.750 a.C.: Código de Hamurabi serviu como um manual de cooperação para centenas de milhares de babilônios. O código começa afirmando que os deuses escolheram o rei para fazer a justiça prevalecer, abominar o mau e a perversão, e impedir que os fortes oprimissem os fracos, em busca de um caminho de verdade e retidão.
- 1.500 - 1.000 a.C.: o profeta Zaratustra, o Zoroastro, criou a religião que dominou este período dando sustentação ideológica ao Império Persa. Uma religião dualista, resultado do equilíbrio entre uma entidade do bem e outra do mal.
- 1.350 a.C.: surge a primeira crença monoteísta que se tem registro, quando o faraó egípcio Aquenáton declarou que uma das deidades menores do panteão de crenças egípcias, o deus Aton, era o poder supremo que governava todo o universo sobre os outros. Mas sua revolução religiosa não teve êxito, e após sua morte o Egito voltou a ser politeísta.
- 1.000 a 500 a.C.: formação dos primeiros Mega Impérios, o Assírio, o Babilônio e o Persa.
- 500 a.C.: Sidarta Gautama, o primeiro Buda, criou uma religião baseada na filosofia do poder de evolução e crescimento espiritual do próprio ser humano, sustentada numa lógica de poder de evolução da mente, rumo al alcance do nirvana (cujo significado é: "estado de extinção do fogo").
- A evolução se baseia na diferença e não na igualdade, assim como acontece no reino animal e nos processos de seleção natural impostos pela natureza. Cada pessoa carrega um código genético próprio e é exposta desde o nascimento a diferentes influências no ambiente no qual vivem, e são estas diferenças que moldam suas crenças, levando ao desenvolvimento de diferentes qualidades, que carregam diferentes chances de sobrevivência e reprodução. A ideia de igualdade surgiu somente com o Cristianismo, filosofia na qual todas as almas têm uma origem divina, e todas são iguais diante de Deus. Antes de Cristo, este conceito nunca havia se manifestado na humanidade.
- É impossível organizar um exército por meio unicamente da coerção. Comandantes e soldados precisam realmente acreditar em alguma coisa pela qual lutar: Deus, honra, pátria, coragem ou dinheiro.
- Pelo menos desde a Revolução Agrícola, a maior parte das sociedades humanas foram patriarcais. Diante de quadros de conflito, a força física do corpo do homem se impôs como dominante. Ideologias de igualdade de gênero são produtos da pacificação do mundo e da redução das realidades de guerras e conflitos. Em tempos de guerra, o controle dos homens os transformou nos senhores da sociedade civil.
- Toda cultura tem crenças, normas e valores característicos, mas que estão sempre em transformação constante. Toda ordem criada pelo homem é cheia de contradições internas, assim como sua própria natureza individual o é.
- O primeiro milênio antes de Cristo testemunhou o surgimento de 3 ordens. A primeira foi a econômica: a ordem monetária. A segunda foi a política: a ordem imperial. E a terceira foi a religiosa: a ordem dos valores e crenças.
- O dinheiro foi criado muitas vezes e em muitos lugares diferentes. Seu desenvolvimento não exigiu nenhum progresso tecnológico, sendo uma revolução puramente mental, a invenção de fatores de troca que existiam apenas na imaginação coletiva das pessoas. Dinheiro é qualquer coisa que as pessoas estejam dispostas a usar para representar valor. Existiam muitos tipos diferentes de dinheiro muito antes da criação das moedas e dos papéis-moedas. O dinheiro já existia muito antes da invenção da cunhagem que inventou a moeda, uma peça padronizada de metal gravado. Foram usadas como unidades monetárias: conchas, sal, gado, couro, grãos, contas, tecidos, e notas promissórias. Conchas de cauri, também conhecidas como búzios, foram usadas como dinheiro por 4 mil anos em toda a África, no sul e no leste da Ásia, e em toda a Oceania. Sistemas comerciais complexos só funcionaram sob a crença em algum tipo de dinheiro como sistema de trocas. É um sistema de confiança coletiva mútua, o mais eficiente e universal já inventado.
- A primeira moeda forte que se tem notícia que tenha sido criada no planeta foi o denário, utilizado pelo Império Romano, e era aceita como fator de troca até mesmo em regiões que não estavam sob o controle de Roma. Elas foram imitadas no mundo muçulmano, onde foram chamadas de dinares.
- Enquanto a religião nos pede para acreditar em algo, o dinheiro só nos pede para acreditar que outras pessoas acreditam em algo. O dinheiro é o único sistema de crenças criado pelo homem que não discrimina com base em religião, gênero, raça, idade ou orientação sexual. Através do dinheiro, até pessoas que não se conhecem e não confiam umas nas outras são capazes de cooperar de maneira efetiva. Por outro lado, o dinheiro não respeita os limites de "valor inestimável", como honra, lealdade, moral e amor, corrompendo valores humanos.
- Todos os impérios na história acreditavam firmemente que trabalhavam para construir um bem-estar geral, acreditando que lidavam com bárbaros - seus dominados - a quem deveriam levar conhecimento e benefícios cultural, em prol do desenvolvimento destes povos. Todos acreditavam ter a missão de educar a humanidade.
- O comércio, os impérios e as religiões levaram o Homo sapiens a uma sociedade global. Um processo de expansão e unificação que não foi linear nem ininterrupto. Em perspectiva de longo prazo, a transição de uma infinidade de culturas menores em algumas culturas maiores foi um resultado inevitável da dinâmica da história humana.
- Forças geográficas, biológicas e econômicas, criam restrições, mas ainda assim sempre houve muito espaço para desdobramentos inesperados, que não parecem ter ligação com qualquer lei ou regras deterministas. Quando Constantino assumiu o trono do Império Romano, em 306 d.C., o Cristianismo não passava de uma seita oriental esotérica. Parecia uma ideia absurda e exótica que, bem pouco tempo depois, viria a se tornar a religião oficial de Roma. Em outubro de 1913, os bolcheviques eram apenas uma pequena facção radical russa, não parecia lógico que em apenas quatro anos dominariam o país. Em 600 d.C., a ideia de que um bando de árabes do deserto logo conquistaria uma extensa faixa de terra do Oceano Atlântico até a India parecia ainda mais absurda. E se o exército do Império Bizantino tivesse conseguido conter o ataque inicial, o Islamismo provavelmente nunca teria deixado de ser um culto restrito a poucos. A história não pode ser explicada de forma determinista porque é caótica, são muitas forças em ação e interações complexas demais para serem previsíveis. Assim como na astronomia do universo interestelar, variações extremamente pequenas na intensidade das forças que estão em ação, e na maneira como elas interagem, produzem diferenças de resultado gigantescas.
- Sistemas caóticos "nível 1" são aqueles cujas forças podem ser previstas, como o clima por exemplo. O "nível 2" é o caos que reage a previsões a seu respeito, deixando imprevisível o resultado. Se fosse criado um programa de computador que pudesse prever com exatidão o preço do petróleo num dia futuro, os negociadores imediatamente se moveriam para comprar ou vender petróleo para lucrar com a previsão, fazendo o preço variar, e assim o preço previsto muda e não se concretiza. Da mesma forma, revoluções e crises são imprevisíveis. Uma revolução ou uma crise previsível, nunca irrompe.
- 378 d.C.: a cidade de Tikal foi derrotada pelo exército de Teotihuacán, a maior cidade das Américas naqueles tempos, que tinha 250 mil habitantes.
- A maioria dos impérios só estendia seu controle à sua vizinhança imediata. Entre 350 e 300 a.C., os romanos conquistaram a Etrúria para defender Roma. Em 200 a.C., conquistaram o Vale do Pó para defender a Etrúria. Em 120 a.C., conquistaram Provença para defender o Vale do Pó. Em 50 a.C., conquistaram a Gália para defender Provença. Em 50 d.C., conquistaram a Bretanha para defender a Gália. Levaram 400 anos para ir de Roma até Londres. Nenhum romano nunca concebeu ir direto de Roma à Bretanha para conquistá-la. Não havia por que fazer isto.
- Entre 1.405 e 1433 d.C., as viagens do almirante Zheng He, da Dinastia Ming, na China, levaram 7 grandes armadas de 300 embarcações e 30 mil pessoas (muito maiores do que as portuguesas e espanholas de décadas depois) até a Indonésia, o Sri Lanka, a Índia, o Golfo Pérsico, o Mar Vermelho, e a África oriental, indo até o Porto de Melinde, no Quênia. Seus objetivos não eram de conquista. Quando o poder político na China mudou, em 1430, as viagens foram abruptamente encerradas, perdendo-se todos os conhecimentos técnicos e geográficos que tinham sido adquiridos. As expedições de Zheng He são a prova de que a Europa não desfrutava de uma vantagem tecnológica excepcional. O diferencial europeu foi a ambição insaciável e até então inigualável de explorar e conquistar o desconhecido.
- Em 1.500 havia cerca de 500 milhões de Homo sapiens no mundo, em 2.020 havia 7 bilhões. Isso equivale a um salto de 13 trilhões de calorias de energia consumidas por dia, para 1,5 quatrilhão. A população aumentou 14 vezes e o consumo de energia 115 vezes.
- 1.687 d.C.: Isaac Newton publica "Princípios matemáticos da filosofia natural", inaugurando a Teoria Geral do Movimento e da Mudança, mostrando à humanidade como prever os movimentos físicos de todos os corpos no universo sob 3 leis matemáticas simples.
- 1.744 d.C.: dois padres presbiterianos na Escócia - Alexander Webster e Robert Wallace - juntam-se a um matemático - Colin Maclaurin - e criam o primeiro fundo de pensão do mundo, o Scottish Widows.
- Entre os Séculos XVI e XVIII, 2 milhões de marinheiros morreram nos mares por causa do escorbuto. Suas dietas durante as viagens eram à base de biscoitos e carnes secas, não incluindo frutas e legumes. Em 1747, o médico britânico James Lind descobriu a causa do escorbuto: falta de vitamina C. A falta de um conhecimento simples matou milhões.
- Em 1.775 d.C., 80% da produção da economia mundial era gerada pela Ásia. O início da Era Moderna foi uma época de ouro para o Império Otomano no Mediterrâneo, para o Império Safávida na Pérsia, para o Império Mogol na Índia, e para as Dinastias Ming e Qing na China. De 1850 em diante, a dominação pelos europeus se sustentou no complexo militar-industrial-científico e na magia da evolução tecnológica, alimentada pelos fortes investimentos em pesquisas científicas.
- 1.776 d.C.: o escocês Adam Smith publicou "A Riqueza das Nações", inaugurando o conceito de conhecimento científico sobre a dinâmica da economia, inaugurando o conceito de quanto supostamente mais lucro houver, mais riqueza e prosperidade coletiva haverá.
- Dos 7 bilhões de humanos no mundo, quantos entendem realmente mecânica quântica, biologia celular ou macroeconomia? Pouquíssimas! A ciência, entretanto, desfruta de enorme prestígio por causa dos poderes que é capaz de dar. Presidentes e generais podem não entender de física nuclear, mas entendem o poder de destruição das bombas.
- A pólvora foi inventada por acidente por alquimistas taoistas que buscavam criar um elixir da vida, e foi usada pelos chineses apenas como fogos de artifício. Só 600 anos depois que os canhões se tornaram um fator decisivo nos campos de batalha.
- A ciência, a indústria e a tecnologia só se entrelaçaram com o advento do capitalismo e da Revolução Industrial, e assim que se consolidou, esta relação transformou o mundo muito rapidamente.
- Até o Século XX, entre um terço e um quarto das crianças das sociedades agrícolas morriam antes da idade adulta.
- Assim como na seleção natural, na qual os mais aptos procriam mais, multiplicando-se e prosperando, entre as inovações da humanidade, as mais atraentes recebem mais recursos - por serem consideradas as mais úteis e não necessariamente as melhores - multiplicando seus efeitos, prosperando e levando à transformação da sociedade e do modo de vida. São as ideologias dominantes na sociedade, e mais aceitas, as que justificam se os custos de pesquisas devem ser cobertos ou não, definindo quais ideias e inovações prosperarão. Para entender as conquistas físicas, químicas e biológicas, é preciso considerar as forças ideológicas, políticas e econômicas que as definiram e as definem.
- Além da tecnologia militar com canhões e metralhadoras impondo destruição, havia o diferencial das tecnologias civis: comidas enlatadas para alimentar exércitos, navios e ferrovias para transportes massivos, e medicamentos para curar.
- As tecnologias podiam ser copiadas, mas não foram. A razão é que o que lhes dava sustento eram fatores que tinham levado séculos para amadurecer e não eram facilmente copiáveis: valores, aspectos jurídicos e estruturas sócio-políticas. A forma de pensar e organizar as sociedades eram diferentes, e culturas são difíceis e complexas de serem copiadas.
- A conquista ocidental do mundo foi conseguida por meio de crédito e não de impostos, créditos estes financiados pelo setor privado capitalista.
- Para quem enxergue que o imperialismo foi uma monstruosidade que espalhou morte, opressão e injustiça pelo mundo, pode-se encher uma enciclopédia com todos os seus crimes. Para quem enxergue que o imperialismo aprimorou qualidade de vida com medicamentos, condições estruturais e maior segurança, pode-se encher outra enciclopédia com todos as suas realizações.
- Do Século XVI ao XIX, cerca de 10 milhões de escravos africanos foram importados para as Américas, 70% deles para trabalhar nas plantações e lavouras de cana de açúcar sob condições de trabalho abomináveis. Tudo para que os europeus pudessem saborear seus doces. Essa é a pedra no sapato do capitalismo de livre mercado, não há como garantir que os lucros serão obtidos de forma justa.
- A crença capitalista no crescimento econômico perpétuo desafia quase tudo que conhecemos sobre o universo. A economia, no entanto, conseguiu perdurar por um longo período de crescimento exponencial graças às inovações da ciência, sempre capaz de injetar novidades criativas para perpetuar novos fatores de multiplicação de recursos.
- O padrão de vida médio dos humanos em 2013 - expectativa de vida, mortalidade infantil e ingestão de calorias - é significativamente maior do que era em 1913, mesmo sob um crescimento exponencial da população humana, que cresceu em um século mais do que havia crescido na soma de todos os séculos anteriores. Em 1700, o mundo abrigava 700 milhões de humanos; em 1800 eram 950 milhões; em 1900 eram 1,6 bilhão; e em 2000 a humanidade chegou a 6 bilhões. Os avanços tecnológicos fizeram com que a humanidade crescesse numa escala como nunca havia acontecido na história.
- A Revolução Industrial foi a Segunda Revolução Agrícola. Nos Estados Unidos do início do Século XXI, só 2% da população trabalha na agricultura e produz não só o suficiente para alimentar 100% da população do país como gera excedente para ser exportado. Sem a industrialização da agricultura, a urbanização não teria acontecido, pois não haveria mãos e cérebros suficientes para trabalhar em fábricas e escritórios. Pela primeira vez na história humana, a oferta era maior do que a demanda. Assim, a diretriz então passou a ser uma lógica de consumo compulsivo. Já não bastava o acesso ao elementar para sobreviver. Os pobres passaram a ter problemas de obesidade e não de fome. Ainda assim, a angústia com as desigualdades sociais cresceu, e não diminuiu, todos queriam ter o mesmo acesso ao consumo compulsivo.
Obs: Durante o Grande Salto para Frente na China comunista, de 1958 a 1961, algo entre 10 e 50 milhões de pessoas morreram de fome.
- Nas economias capitalistas, o comércio e os investimentos internacionais se tornaram de suma importância. A paz se tornou mais lucrativa do que a guerra. Nunca antes a paz havia sido tão lucrativa.
- O capital, assim como os seres vivos mais adaptados dominam o processo de seleção natural, multiplica-se através das inovações mais aceitas pela maioria da sociedade, moldando a estrutura social pela seleção de escolhas coletivas.
- Fatores sociais, éticos e espirituais têm tanta influência sobre o sentimento de felicidade dos humanos quanto suas condições materiais. Por outro lado, a carência de sentido é um fator psicológico de infelicidade. Estudos psicológicos provaram que a família e a comunidade têm mais impacto sobre a felicidade do que dinheiro e saúde. Mas mais do que isto, a felicidade depende da correlação entre condições objetivas e expectativas subjetivas, isto é, entre o que se almeja e o que se conquista. Mas ainda mais do que tudo, a felicidade no final é definida pela química dentro do cérebro de cada indivíduo.
- O Budismo deu mais importância à questão da felicidade do que qualquer outro credo humano. Nele, os sentimentos seriam vibrações transitórias, e a raiz do sofrimento seria a incessante e inútil busca de sensações efêmeras, o que gera um constante estado de tensão, inquietude e insatisfação. O ser, para se libertar, precisaria focar no ir e vir de seus sentimentos e não em perseguir seus desejos, parando de ansiar por sentimentos específicos. O sentido da felicidade seria viver o momento presente sem fantasiar como poderia ou deveria ter sido de outra forma, deixando os sentimentos positivos e negativos fluírem livremente, sob uma profunda serenidade de autoconhecimento.
- Os físico definem o Big Bang como uma singularidade. É um ponto no qual todas as leis conhecidas da natureza não existiam. O tempo também não existia. Portanto, não faria sentido dizer que alguma coisa existiu antes do Big Bang.
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