terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O Gênero Homo


Todas as espécies do gênero Homo, exceto o Homo sapiens (os humanos viventes) estão extintas. Dentre as espécies descritas abaixo, embora sejam parentes próximos no gênero Homo, Neandertais, Denisovanos e Floresiensis não são da mesma linha evolutiva do Homo Sapiens.

A migração de espécies do gênero Homo teria tido início com a saída de populações de H. Erectus da África. Desde seu surgimento (aproximadamente 2 milhões de anos), a primeira localidade onde se encontraram fósseis é na Georgia, em Dmanisi (de 1,85 milhões de anos). Após isto, há a aparição de fósseis na China e na Indonésia (1,6 milhões de anos). Há ainda evidências de populações de H. Erectus em outras localidades, havendo evidências da sobrevivência de populações em Java, na Indonésia, datadas de 100 mil anos atrás. Mas um fato interessante é que os Homo Erectus não colonizaram regiões localizadas a mais de 45 Graus Norte, possivelmente por causa do frio.

Entre as espécies do Gênero Homo mais destacadas estão:

HOMO HABILIS

Espécie que viveu aproximadamente de 2,2 milhões a 780 mil anos, tendo os primeiros fósseis sido descobertos em 1964 por Louis Leakey no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, que faz parte do Grande Vale do Rift, na África oriental.

No início a espécie foi contestada, argumentando-se que se tratava de um Australopithecus africanus, o único outro hominínio primitivo que era conhecido na época. Só na década de 1980 que se propôs que o H. habilis seria um ancestral humano que evoluiu diretamente para o Homo erectus, mas este debate ainda não foi encerrado. Suas proporções corporais, baseadas em dois esqueletos altamente fragmentados, indicavam uma anatomia semelhante aos australopitecos, tendo se sugerido que fosse movido para o gênero Australopithecus, como A. habilis (os braços eram proporcionalmente muito mais longos do que nas demais espécies classificadas no gênero Homo). Entretanto, o tamanho do cérebro do Homo habilis praticamente era o dobro comparado aos dos australopitecos.

Poucos fósseis foram encontrados, o que dificulta descrever detalhes precisos da espécie. A espécie apresenta expansão craniana de cerca de 650 cm³ de cérebro, um encurtamento de neurocrânio e um achatamento da parte superior. A face apresenta estrutura achatada em relação aos hominínios anteriores, e a dentição é parecida com a do H. sapiens com caninos pequenos e dentes achatados. Apesar de bípede, o H. habilis apresentava uma bipedia facultativa.

O Homo habilis coexistiu com outros primatas bípedes, como o Paranthropus boisei, e possivelmente devido à sua inovação em ferramentas iniciais e a uma dieta menos especializada, ele se tornou o precursor de toda uma linha de novas espécies, enquanto o Paranthropus boisei e seus parentes robustos desapareceram do registro fóssil. Argumenta-se também que o H. habilis também possa ter coexistido com o Homo erectus na África durante um período de aproximadamente 500 mil anos.

Seus fósseis foram encontrados junto a ferramentas de pedra lascada e por isso essa espécie foi chamada de Homo habilis - homem fabril (ou homem com capacidade de fabricar). Entretanto, hoje sabe-se que essas ferramentas já eram utilizadas anteriormente por outras espécies de hominínios: alguns fosseis de Australopithecus garhi, que datam de há aproximadamente 2,6 milhões de anos, foram encontrados ao lado de ferramentas de pedra que seriam entre 100,000 a 200,000 anos mais antigas que os H. habilis.

O H. habilis está associado à da Idade da Pedra, à indústria de ferramentas de pedra Oldowan. Os indivíduos provavelmente usavam essas ferramentas principalmente para abater e esfolar animais e esmagar ossos, mas também às vezes para serrar e raspar madeira e cortar plantas macias. Quebradores parecem ter selecionado cuidadosamente núcleos líticos e sabiam que certas rochas se quebrariam de uma maneira específica quando atingidas com força suficiente e no local certo, e eles produziram vários tipos diferentes, incluindo objetos cortantes, poliedros e discóides. No entanto, os formatos específicos provavelmente não foram pensados com antecedência e provavelmente resultam da falta de padronização na produção de tais ferramentas, bem como dos tipos de matérias-primas à disposição dos quebradores. Por exemplo, esferóides são comuns em Olduvai, que apresenta uma abundância de grandes e quartzo macios e quartzito peças. Ao contrário da posterior cultura acheuliana inventada pelo H. ergaster e pelo H. erectus, a tecnologia Oldowan não requer planejamento e previsão para fabricar e, portanto, não indica alta cognição, embora exija um grau de coordenação e algum conhecimento de mecânica. Estas ferramentas raramente exibem retoques, o que indica que provavelmente foram descartadas imediatamente após o uso.




HOMO ERGASTER

O Homo ergaster ou Homo erectus ergaster, foi uma espécie descrita a partir de restos fossilizados encontrados em Swartkrans, na África do Sul, com uma idade estimada entre 1,8 e 1,0 milhão de anos. De acordo com outros achados no mesmo local, esta espécie teria usado instrumentos de pedra e poderia ter controlado o fogo (indícios fósseis sugerem fogueiras de acampamentos há pelo menos 1,5 milhão de anos). A espécie teria persistido por aproximadamente 1,2 milhão, até cerca de 250 mil anos atrás.

Foram os primeiros hominídeos a deixar a África, tendo fósseis sido encontrados no Oriente Médio e na Ásia oriental (Homem de Java, e Homem de Pequim). Os H. ergaster eram bípedes e tinham um cérebro estimado entre 900 e 1.100 cm³, com uma acentuada micrognatia (mandíbula recuada e "sem" mento) e supercílios bastante proeminente. É o primeiro espécime identificado a ter consigo as primeiras características verdadeiras de esqueleto que formou aos Homo sapiens. Há uma grande discussão científica, no entanto, se o Homo ergaster é de fato uma espécie diferente, ou se os fósseis deveriam ser considerados como Homo erectus, já que as diferenças entre ambos são poucas.

O mais completo fóssil do Homo ergaster encontrado até o momento foi o "Menino de Turkana", achado no Quênia, na África, às margens do Lago Turkana, e datado de 1,5 milhão de anos. A melhor tradução para o nome denominativo da espécie seria "Homem Trabalhador", já que confeccionou muitos artefatos de pedra com características mais elaboradas que seus predecessores. A análise do esqueleto do "Menino de Turkana" mostra que esta foi a primeira espécie humana a colonizar ambientes quentes e áridos na África, o que pode explicar parcialmente por que o menino tinha a formação semelhante à de um habitante da África equatorial do leste, com corpo magro e membros longos, de modo a ser eficiente na dissipação de calor.

Normalmente, Homo ergaster / Homo erectus é considerado o primeiro hominínio a viver em uma sociedade monogâmica, e todos os hominínios anteriores eram políginos. No entanto, é altamente difícil especular com alguma confiança a dinâmica de grupo dos primeiros hominínios. O grau de dimorfismo sexual e a disparidade de tamanho entre machos e fêmeas costumam ser usados para correlacionar entre poliginia com alta disparidade e monogamia com baixa disparidade, com base em tendências gerais (embora não sem exceções) observadas em primatas modernos. As taxas de dimorfismo sexual são difíceis de determinar porque a anatomia dos primeiros hominínios é pouco conhecida e é amplamente baseada em poucos espécimes.




HOMO ERECTUS

Espécie que evoluiu na África e viveu entre 1,8 milhões de anos e até aproximadamente cerca de 100 mil anos atrás, tendo deixado à África e se espalhado pela Eurásia, com uma distribuição continental de fósseis sendo encontrados desde a Península Ibérica até Java. O nome da espécie, erectus, foi dado porque o fêmur sugeria que o "Homem de Java", primeiro espécime encontrado, indicava que se tratava de um bípede que andava ereto (esta descoberta levou à crença, amplamente aceita, e que perdurou durante boa parte do início do Século XX, de que os humanos modernos teriam evoluído pela primeira vez na Ásia, posteriormente superada quando foram encontrados fósseis mais antigos do espécime na África). Entre as subespécies encontrada estão: Homo erectus erectus ("Homem de Java", fóssil mais antigo de 1,6 milhão de anos), Homo erectus ergaster (espécime africano de 1,9 milhão de anos, o mais antigo), Homo erectus georgicus (mais antigo de 1,8 milhão de anos), Homo erectus lantianensis ("Homem Latino", mais antigo de 1,6 milhão de anos), Homo erectus nankinensis ("Homem de Nanjing", de 600 mil anos), Homo erectus pekinensis ("Homem de Pequim", de 700 mil anos), Homo erectus soloensis ("Homem de Solo", de 546 mil anos), Homo erectus tautavelensis ("Homem de Tautavel", de 450 mil anos) e Homo erectus yuanmouensis ("Homem de Yuanmou"). Há uma ampla discussão se o espécime H. erectus deveria também incluir Homo rudolfensis, Homo gautengensis, Homo ergaster e, talvez, também o Homo habilis.

O Homo erectus tinha uma maneira de andar e proporções corporais semelhantes ao Homo sapiens. Tinha uma face plana, nariz proeminente e, possivelmente, cobertura escassa de pêlos no corpo. Embora o tamanho do cérebro certamente exceda o das espécies ancestrais, a capacidade encefálica variava amplamente, dependendo da população. O tamanho médio do cérebro de H. erectus asiáticos é por volta de 1.000 cm³. Espécimes significativamente menores foram encontradas em Dmanisi, na Geórgia (H. e. georgicus), e Koobi Fora e Olorgesailie, no Quênia, e também possivelmente em Gona, na Etiópia. No geral, o tamanho de seu cérebro varia de 546 a 1.251 cm³, o que é maior do que a faixa de variação observada no Homo sapiens e nos chimpanzés, mas menor do que a faixa de variação observada em gorilas. Em populações mais velhas, o desenvolvimento do cérebro parecia ser interrompido cedo na infância, sugerindo que a prole era amplamente autossuficiente ao nascer, limitando assim o desenvolvimento cognitivo ao longo da vida.

As instalações geralmente mostram o consumo de animais de médio a grande porte, e sugerem o desenvolvimento de comportamento predatório e caça coordenada. Usava ferramentas de pedra associadas com a indústria acheuliana. E se postula que tenha sido o ancestral humano mais antigo capaz de usar fogo, caçar e coletar em grupos coordenados, cuidar de membros do grupo feridos ou doentes e, muito possivelmente, realizar a navegação em embarcações rústicas e a produção de arte rupestre.

Machos e fêmeas tinham aproximadamente o mesmo tamanho (isto é, exibiam dimorfismo sexual reduzido) assim como o Homo sapiens, o que se sugere que indicava monogamia. Seu tamanho variava amplamente, desde 1,46 até 1,85 metros de altura, e entre 40 e 68 kg de peso. Não está claro se o H. erectus era anatomicamente capaz de falar, embora seja postulado que eles se comunicaram, no mínimo, utilizando alguma protolinguagem. A única evidência fóssil a respeito da composição de grupos está em quatro lugares fora da cidade de Ileret, no Quênia, onde noventa e sete pegadas, feitas há 1,5 milhão de anos, foram deixadas, provavelmente, por um grupo de pelo menos 20 indivíduos. Baseado em seu tamanho, infere-se que uma das trilhas pode ter sido deixada por um grupo composto exclusivamente por homens, o que poderia indicar que eles fossem algum tipo de grupo especializado para cumprir uma determinada tarefa, como um grupo de caça ou de patrulha. Se confirmada, a informação indicaria uma divisão de trabalho baseada em gênero, o que distingue sociedades humanas daquelas de outros grandes primatas e outros mamíferos sociais.




HOMO HEILDELBERGENSIS

Espécie que surgiu há mais de 500 mil anos e perdurou até cerca de 250.000 anos atrás. Recebeu este nome pelo local original de descoberta de seus primeiros fósseis, uma propriedade rural próxima à Heidelberg, na Alemanha. O espécime tem semelhança anatômica e sítios arqueológicos convergentes com outras espécies do gênero Homo presentes no pleistoceno médio, como o H. sapiens, o H. neanderthalensis e o H. erectus. O Homo heidelbergensis é classificado como uma cronoespécie que teria evoluído de linhagens africanas do Homo erectus, sendo classificado ainda como o ancestral comum mais recente entre o Homo sapiens (humanos anatomicamente modernos) e o Homo neanderthalensis ("Homem de Neandertal"). Logo, devido às semelhanças anatômicas dos fósseis, o H. heidelbergensis seria o último ancestral comum entre H. sapiens e H. neanderthalensis, a partir do qual teria ocorrido a divergência entre estas duas linhagens.

Os fósseis encontrados exibiam alguns caracteres arcaicos semelhantes ao Homo erectus, porém apresentando um aumento do tamanho do volume cranial. Além disso, a morfologia do nariz e do palato, do osso temporal e da região occipital era avançada em relação ao que se observa nos fósseis do Homo erectus. Houve uma convergência também nas descobertas com aqueles que eram classificados como Homo rhodesiensis, que viveu somente na África desde 600 mil até cerca de 160 mil anos atrás, e que passou a ser considerada uma variação africana do Homo heidelbergensis sensu lato, esta entendida como uma espécie polimórfica dispersa por toda a África e a Eurásia. Assim, o H. rhodesiensis e o H. heidelbergensis seriam sinônimos relativos à mesma espécie, sendo o primeiro restrito à África, e o segundo à Europa e à Ásia. Entretanto, identificações recentes e sequenciamento de material genético do "Homem de Denisova" levaram a uma proposição de que talvez os fósseis do H. heidelbergensis da Ásia pertenceriam ao grupo dos denisovanos e não ao Homo heidelbergensis. Assim, possivelmente o H. heidelbergensis seria a espécie que mostra a transição que deu origem às linhagens de H. sapiens, H. neanderthalensis e denisovanos.

Na Europa, no sítio arqueológico denominado "Sima de los Huesos", na Espanha, foram encontrados 28 fósseis datados de cerca de 400 mil anos atrás, sendo considerada a coleção mais completa de registros fósseis de Homo heidelbergensis em todo o mundo. A região de Sima de los Huesos nunca foi um local de ocupação hominídea, uma vez que não foram descobertos vestígios de habitação, nem uma rede de carnívoros, devido à falta de restos de animais herbívoros. Estas características apontam para a hipótese de que o local tenha sido ocupado apenas temporariamente pela espécie.

O continente europeu, mais especificamente as baixas latitudes, mostram sinais de ocupação pelo H. heidelbergensis, observados nos sítios arqueológicos no norte da Grécia (Petralona), na Península Ibérica (Sima de los Huesos e Gran Dolina, na Serra de Atapuerca) e em Aragon, onde diversas ferramentas de pedra e ossos foram observados, por vezes em localidades sobrepostas a outros fósseis que denotam ocupação. Sítios arqueológicos de maior latitude como na Alemanha (Mauer e Steinheim), o local de sua descoberta inicial, e nas Ilhas Britânicas (Swanscombe, Happisburgh e Boxgrove) ainda durante o período de glaciação, indicam alguma aptidão para ambientes de menores temperaturas, as quais foram mais massivamente ocupadas pelos Neandertais. Os utensílios associados com os fósseis consistiam basicamente de machados de mão e ferramentas de lascas, com o uso de lanças e o controle do fogo também sendo algumas das tecnologias dominadas.

O H. heidelbergensis possuía uma cavidade nasal completamente vertical em relação ao crânio, e a fossa nasal anterior em formato de crista ou de uma coluna proeminente, assemelha-se a uma aparência mais parecida com a humana atual. Outras características craniais eram os canais incisivos que abriam perto dos dentes e eram orientados como os de humanos atuais. O osso esfenóide apresentava uma coluna que se estendia para baixo, com tubérculo articular na parte inferior do crânio podendo se projetar proeminentemente, pois a superfície atrás da dobradiça da mandíbula era bastante plana. O osso frontal era largo, o parietal podia ser expandido e o temporal era alto e arqueado, fato talvez relacionado ao aumento do tamanho do cérebro. O volume cerebral foi estimado por um volume médio de 1.206 cm³, variando entre 1.100 cm³ e 1.390 cm³.

As evidências da linguagem podem ser vistas pelos vestígios osteológicos e fósseis do aparato fonoaudiológico. Nesse sentido, foi dada muita atenção ao osso hióide, que se localiza na parte anterior do pescoço e tem uma importante participação na projeção da fala, com grande potencial para informar sobre a evolução da fala e linguagens complexas. Foram encontrados dois hioides atribuídos ao H. heidelbergensis na Serra de Atapuerca, na Espanha, com data estimada de 530 mil anos atrás, e descrições anatômicas e antropométricas dos fósseis encontrados no sítio "Sima de los Huesos" mostram que o hióide ali encontrado tinha similaridades importantes com o mesmo osso de humanos modernos. Assim, parece que a morfologia macroscópica externa deste importante componente do aparelho vocal nos humanos modernos tinha surgido a cerca de 530 mil anos, mantendo-se em grande parte inalterada desde então. Estudos também mostraram que as características anatômicas do ouvido externo e médio associadas à percepção da fala também estavam presentes no H. heidelbergensis. A recente reconstrução do trato vocal tanto de H. heidelbergensis como da H. neanderthalensis em comparação com os humanos modernos, sugerem que este antepassado comum dos Neandertais e dos humanos modernos já poderia ter sido capaz de falar.





HOMO NEANDERTHALENSIS

É uma espécie prima da humana, já extinta, e com o qual o Homo sapiens conviveu. Seus fósseis aparecem na Europa e no Oriente Médio, os mais antigos datados de 430 mil anos, e os mais recentes com 28 mil anos. Acredita-se que ambas as espécies derivaram de um ancestral em comum da linhagem de Homo heidelbergensis.

Estudos moleculares indicam que o H. neandertalensis possui grandes porções de seu DNA similares às sequências dos humanos modernos. E mais, o sequenciamento de DNA nuclear neandertal mostrou um antigo "fluxo gênico" entre os homens neandertais e os homens modernos da Eurásia. Os humanos não africanos atuais têm entre 1,8 e 2,6% dos genes neandertais, adquiridos por hibridação há cerca de 50 mil anos, logo após sua saída da África, e mais de 30% do genoma neandertal sobrevive em toda a população atual em diferentes locais do nosso genoma.

Apesar da similaridade genética entre as duas espécies, e da ocorrência de hibridização entre elas, a classificação de H. neanderthalensis como uma espécie separada de H. sapiens possui solidez em suas evidências. As espécies apresentavam diferenças morfológicas significativas, já que os neandertais apresentavam corpos mais robustos, com mais reservas de gordura, e maiores narizes, ainda que haja discussão se não pode ter sido resultado de deriva genética. O cérebro do Homo sapiens tem um tamanho médio de 1.400 cm³, enquanto o dos neandertais chegava a ter cerca de 1.600 cm³. A cultura material do homem de Neandertal, chamada cultura "musteriense", era sofisticada em vários aspectos, já que além de ferramentas, também usavam o fogo, eram bons caçadores e já cuidariam dos doentes.

A extinção dos neandertais é um debate em andamento e há diversas possíveis causas para este fenômeno, sendo as principais hipóteses a competição com H. sapiens, a influência das condições climáticas, o contato com patógenos e a erosão genética. O quanto cada um destes processos contribuiu de fato para a extinção ainda não está estabelecido, devendo ser considerada uma influência multifatorial para essa redução populacional. A responsabilidade do H. sapiens neste processo se daria considerando-se algumas das possíveis vantagens adaptativas apresentadas pelo H. sapiens, que teriam uma melhor mobilidade devido à sua constituição óssea, uma maior fecundidade e tempo de gestação, que permitiriam um desenvolvimento de populações de crescimento mais rápido, uma possível maior resistência a patógenos e uma dieta mais abrangente, a qual permitiria a menor dependência de recursos específicos. Há também possíveis vantagens competitivas relacionadas ao comportamento e cultura de H. sapiens, tais como o desenvolvimento de técnicas de caça mais eficazes.

Os neandertais tinham nariz mais curto, mas mais largo e volumoso. Eram bem adaptados ao clima frio, tendo habitado áreas próximas do Ártico. Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume do que os dos humanos modernos. Em média, tinham cerca de 1,65 metro de altura e eram muito musculosos. Nada se conhece sobre a forma dos olhos, orelhas e lábios dos neandertais. Por analogia, teriam pele mais clara que os H. sapiens, para um melhor aproveitamento do calor nas frias latitudes da Europa. Acredita-se, por estudos de fósseis que tinham uma cor de cabelo mais avermelhada.

No crânio, destacava-se uma fossa suprainíaca (canal sobre a protuberância occipital externa do crânio), o meio da face projetado para frente, em um crânio alongado para trás, com um toro supraorbital proeminente, formando um arco sobre as órbitas oculares. Tinham queixo restrído, testa baixa, quase ausente, um espaço atrás dos molares, uma abertura nasal ampla, com protuberâncias ósseas nos lados da abertura nasal, e uma forma diferente dos ossos do labirinto no ouvido. Tinham a caixa torácica volumosa e saliente, com clavícula alongada e escápulas curtas e arqueadas, também tinham uma diferença no formato da pélvis, ossos da coxa robustos e arqueados, tíbias e fíbulas mais curtas, e dedos grandes e robustos. O tamanho dos membros inferiores é utilizado como caractere de diferenciação para linhagens de hominíneos.




HOMEM DE DENISOVA

O hominínio de Denisova é uma possível espécie de homínideo descoberta na caverna de Denisova, na Sibéria, e posteriormente numa caverna do Tibete. A Caverna Denisova está localizada no sudoeste da Sibéria, nas montanhas de Altai, perto da fronteira com a China e a Mongólia. Leva o nome de São Dinis (Dionisii), um eremita russo que morava lá no século XVIII. O clima frio da caverna preservou o DNA e uma equipe de cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, na Alemanha, conseguiu sequenciar o mtDNA extraído de um fragmento de osso proveniente do dedo de uma criança, num estrato datado de 50 a 30 mil anos atrás. Foi observado que o genoma dos hominínios de Denisova inclui um componente derivado de um hominínio desconhecido que divergiu muito antes da separação entre os seres humanos modernos, os neandertais e os denisovanos.

Pensa-se que esta nova espécie, o Homem de Denisova, viveu entre 1 milhão e 40.000 anos, em áreas onde também viviam homens de Neandertal e Homo sapiens, embora a sua origem se encontre possivelmente numa migração distinta da associada aos humanos modernos e aos homens de Neandertal. Na mesma camada em que apareceu o osso, também se encontraram vários artefatos e ferramentas.

A análise do mtDNA indicou a existência de um antepassado comum entre o hominínio de Denisova, o Homo sapiens sapiens e o homem de Neanderthal que poderá ter vivido há aproximadamente 1 milhão de anos. O DNA mitocondrial indicou que este homíninio surgiu de uma migração a partir de África distinta da que deu origem ao Homo sapiens e Homo neanderthalensis, e distinta do êxodo anterior do Homo erectus. As estimativas sugerem que os ancestrais dos humanos modernos se separaram de ambos, neandertais e denisovanos, entre cerca de 589 mil e 553 mil anos atrás, enquanto as populações de neandertais e denisovanos parecem ter se separado mais tarde, cerca de 381 mil anos atrás.

As pesquisas moleculares mostraram que os eurasianos modernos interagiram com seus antecessores neandertais e denisovanos. Os caracteres genéticos das populações de ascendência asiática possuem relação direta com eventos reprodutivos entre essas populações, garantindo impressões genéticas nas gerações futuras das diferentes linhagens. Os genes de ambas as espécies humanas arcaicas estão presentes em muitas pessoas atualmente, sendo que os dados inferem que a maioria dos indivíduos de ascendência asiática possuem em seu material genético maiores quantidades de DNA denisovano. Além disso, observa-se um aumento percentual nas populações da Melanésia, cujos genomas são compostos por até 6% de material genético proveniente de denisovanos.

Em 2014 pesquisadores estudaram os povos Xerpas, conhecidos por suas habilidades na escalada de montanhas, especialmente no Everest, e descobriram uma variante do gene EPAS1 que regula a resposta à hipoxia herdada dos denisovanos, atribuindo às populações xerpas uma maior facilidade na respiração em grandes altitudes.

Uma comparação detalhada dos genomas humanos, denisovanos e neandertais revelou provas de uma complexa teia de cruzamentos entre as linhagens. Através de tais cruzamentos, 17% do genoma do DNA de Denisova representa a população neandertalense local, enquanto a evidência foi encontrada também de um contributo para o genoma nuclear de uma linhagem antiga de hominínio ainda a ser identificado, talvez a fonte do mtDNA atipicamente antigo.



HOMO FLORESIENSIS

Apelidado de "Hobbit", é uma espécie extinta de hominínio do gênero Homo cujos primeiros ossos foram descobertos em 2003 durante uma escavação arqueológica em uma caverna em Liang Bua, Ilha de Flores, na Indonésia. O esqueleto de uma mulher com somente 1 metro de altura, e de baixa capacidade craniana. Após a primeira escavação, fósseis parciais de outros indivíduos também foram encontrados, confirmando a existência de uma população de pequenos hominínos, e não somente de um indivíduo anômalo. Desde sua descoberta, o status taxonômico do Homem de Flores causou diversas controvérsias, gerando debates se os fósseis pertenciam a uma nova espécie, ou se havia sido causado por um evento patológico. Porém, estudos filogenéticos concluíram que a linhagem do Homo floresiensis compunha efetivamente uma nova espécie.

Escavações posteriores concluíram que a extinção da espécie ocorreu cerca de 50 mil anos atrás, presumivelmente em razão de dificuldades impostas pelos novos hominíneos na região. Apesar dessa possível ligação, ainda não existem evidências que comprovem interações entre Homo floresiensis e Homo sapiens.

A anatomia do H. floresiensis é de um hominínio bípede de corpo pequeno muito reduzido, com volume e capacidade craniana de tamanho relativo ao cérebro e à estatura endocraniana (altura do corpo) semelhantes ou menores que do Australopithecus afarensis. Entretanto, apresentando o comprimento da superfície orbital parecido com o encontrado no H. sapiens. O tamanho e a morfologia dos dentes inferiores seguem o padrão encontrado em fósseis de H. erectus e H. sapiens. E a anatomia geral de seu fêmur é consistente com a ampla faixa de variação encontrada no H. sapiens, com algumas diferenças que podem ser por conta dos efeitos alométricos de um tamanho corporal muito pequeno. Apesar de seu corpo e cérebro serem menores e de possuir uma mistura de características primitivas e avançadas, esta espécie é enquadrada dentro do gênero Homo, ainda que o seu volume endocraniano seja em média de 380 a 430 cm³, abaixo da faixa aceita até então para o gênero Homo.

Muitas evidências atreladas às características anatômicas de H. floresiensis permitiram a suposição de relações com H. erectus: o pequeno neurocrânio com uma testa plana e inclinada, a presença de ossos cranianos grossos, o tamanho do cérebro, entre outras semelhanças vinculadas ao crânio. Considerando estas semelhanças, a descrição original acreditava que o H. floresiensis fosse um descendente anão de H. erectus. Uma possível explicação para a ocorrência pode estar associada ao fenômeno de "nanismo insular", que já foi documentado para diversos outros mamíferos considerados grandes, como mamutes e veados. Há, também, populações humanas que estão se tornando cada vez mais baixas, inclusive em ilhas do sudeste asiático. Constantemente, relaciona-se o nanismo insular à falta de recursos no ambiente onde tal fenômeno é observado.







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