quinta-feira, 7 de abril de 2022

A fascinante evolução do Mapa Mundi


A cartografia é a ciência que se dedica à representação do espaço geográfico por meio do estudo, análise e confecção de cartas ou mapas. Os seus produtos, entretanto, não se limitam aos mapas: plantas, croquis e o globo terrestre são outros resultados diretos da aplicação dos conhecimentos cartográficos.

Um dos mapas mais antigos já encontrados é um Mapa Portulano, uma carta de navegação criada no século XIII com uma precisão bastante alta para um tempo em que os cartógrafos não tinham acesso a meios fiáveis de analisar a geografia da Terra. Este mapa a seguir mostra a Península Ibérica e a costa mediterrânea da África.


Um dos mapas mais antigos e mais admiráveia é o Mapa Kangnido, feito em 1402. O Kangnido (Mapa Integrado Histórico de Países e Cidades) foi feito na Coréia, a partir de relatórios chineses. Foi confeccionado por Gim Sa-hyeong, Li Mu e Li Hoi.

O mapa descreve a totalidade do "Velho Mundo" - Europa e oeste da África, e a Ásia até a Coréiae e o Japão. O mapa precede às primeiras viagens de exploração dos europeus, e até mesmo às viagens do famoso almirante chinês Zheng He, e não é por completo compreendido, sem que se saiba ao certo quem transmitiu tal conhecimento tão detalhado.

A China havia começado a explorar viagens marítimas muito prematuramente, sobretudo após a expansão do Islamismo para a Ásia no Século VIII.

O que se sabe sobre este mapa, é que teria sido feito combinando mapas chineses antigos, um mapa de Li Tse-min criado por volta de 1330, e um outro mapa, de Ch'ing Chun produzido por volta de 1370 (ambos mapas se encontram desaparecidos, nunca tendo sido encontrados). Estes dois mapas teriam chegado à Coréia através do embaixador Gim Sa-hyeong (1341-1407), tendo sido combinados em 1402 por Li Hoi e Li Mu.




Enquanto isto, na Europa, o mapa antigo mais fascinante é o de Abraão Cresques, um cartógrafo judeu de Mallorca, na Espanha, tido como o autor deste Atlas Catalão de 1375. Ele foi o pai do também cartógrafo Jehuda Cresques, ou Jaime de Mallorca, um dos cartógrafos ao serviço do Infante Dom Henrique, em Portugal. Para além da sua produção cartográfica, construía bússolas, relógios náuticos e outros instrumentos e precisão necessários para a navegação.



O Mapa de Fra Mauro, elaborado entre 1457 a 1459, é uma apresentação muito precisa do mundo conhecido. Com quase um metro e oitenta de diâmetro, pintado em pergaminho colado em painéis de madeira, é um dos Mapa Mundi antigos mais famosos. Sua reprodução detalhada da Ásia é o primeiro reconhecimento na Europa da ilha do Japão, mostrando o Oceano Índico e que era possível navegar pela África.

Não só Veneza - onde Fra Mauro nasceu e viveu - desempenhou um grande papel na criação do mapa, mas também dois conhecidos comerciantes: Marco Polo e Niccolo da Conti. Ambos viajaram para o continente asiático, tendo Marco Polo escrito muito sobre a China, e Da Conti muito sobre o restante da Ásia, em particular sobre a Indonésia. Fra Mauro usou os relatos de viagem de ambos para dar uma representação precisa do continente asiático.




Mas foi na época dos grandes descobrimentos e da expansão marítima de Portugal e Espanha que o mundo da cartografia ganhou evolução acelerada.

Em 1482 é elaborado o famoso Mapa Mundi gravado por Johannes Schnitzer a partir das tabelas do tratado "Introdução à Geografia" - do grego Cláudio Ptolomeu, escrito entre 150 e 170 d.C. e e redesenhado em pele de cabra e embelezado por Derome Le Jeune.


Um dos mais famosos na época era o Mapa de Henrique Martelo Germano (conhrecido na época em latim: Henricus Martellus Germanus), cujo nome em alemão, onde ele nasceu, era Heinrich Hammer. Ele foi um cartógrafo alemão que esteve ativo em Florença entre 1459 a 1496. Seu famoso mapa, teria sido elaborado em 1491.


Com o Descobrimento da América por Cristóvão Colombo, rapidamente são desenvolvidos os primeiros mapas náuticos relacionados à região do Caribe, ainda antes de se saber que ali havia um continente inteiro. Mas a costa norte da América do Sul, no caso do Brasil, já aparece nos primeiros registros. Este mapa foi elaborado supostamente em 1500, por Juan de la Cosa, mais ou menos ao mesmo tempo em que os portuguesa, através da esquadra de Pedro Álvares Cabral, chegava ao Brasil.



Com a expansão marítima, o conhecimento começa a tomar forma, e os mapas vão ficando cada vez mais similares, em muito pouco tempo, à geografia real. O Planisfério de Cantino é uma das mais antigas cartas náuticas que representam os descobrimentos marítimos portugueses. Recebeu seu nome de Alberto Cantino, que o obteve clandestinamente em Portugal, em 1502, enviando-o a seu empregador, o duque de Ferrara, na Itália. O seu original conserva-se, atualmente, na Biblioteca Estense, em Módena, na Itália. O Planisfério de Cantino é, na verdade, uma cópia de uma carta de grandes dimensões, baseada no chamado padrão real, que pendia na sala das cartas na Casa da Guiné e da Mina, em Lisboa, órgão que administrava a exploração e a colonização dos novos territórios.



Para dar uma dimensão em paralelo à evolução do conhecimento geográfico, os mapas a seguir mostram os primeiros desenhos feitos sobre o Brasil, e a paulatina evolução no tempo até um desenho mais similar àquele geograficamente correto. Os mapas a seguir foram elaborados em 1502, 1519 e 1534.







A evolução do conhecimento também pode ser vista no Mapa de Waldseemuller - Universalis Cosmographia - um mapa impresso pelo cartografo alemão Martin Waldseemuller, originalmente publicado em abril de 1507. É o primeiro mapa do mundo a utilizar o termo "América", já que pouco antes o livro de Américo Vespúcio se tornara um best-seller na Europa. Foi desenhado baseando-se no Mapa de Ptolomeu, expandido para acomodar as Américas e as altas latitudes. Uma cópia deste mapa ainda existe na Biblioteca do Congresso em Washington DC, nos Estados Unidos.



Outro Mapa Mundi famoso foi confeccionado em Nuremberg, na Alemanha, por volta de 1507. Segundo Henry Newton Stevens em seu livro "The First Delineation of the New World and the First use of the Name America on a Printed Map", publicado em 1928, este sim teria sido o primeiro mapa em que o nome América foi impresso. O mapa foi descoberto em 1893 e pertencia ao acervo da John Carter Brown Library, nos Estados Unidos. Stevens adquiriu uma versão deste mapa em um leilão, em 1893, pensando se tratar de uma cópia imperfeita da Geografia de Ptolemeu, publicada em Strassburg em 1513. No entanto, em 1899, ao examinar a publicação adquirida, ele verificou que o mapa era diferente do usual daquela publicação e tinha impresso o nome América, não existente na versão publicada em 1513. Skelton, depois de uma revisão das evidências de Stevens, concluiu que este mapa - que foi impresso, mas nunca publicado - havia sido feito em Nuremberg por volta de 1507. especula-se também que ele também teria sido confeccionado por Martin Waldseemuller. Entretanto, é possível se notar que o conhecimento geográfico sobre a América do Sul já é um pouco mais aprofundado.


Entre 1515 e 1520 foram elaborados os primeiros mapas contemplando o Oceano Pacífico. Os Globos de Johannes Schoner foram uma série de mapas esféricos, o primeiro datado de 1515, também contempla mistério, pois englobaria partes do mundo ainda não conhecidas na época pelos europeus, como o Estreito de Magalhães e a Antártida.​

Sabe-se que Schoner conhecia o mapa elaborado em Nuremberg por Martin Behaim em 1492.​ No seu mapa se pode observar um estreito entre o extremo sul de América e a terra situada mais ao sul ainda antes de seu "descobrimento oficial", feito por Fernando de Magalhães em 1520. Na realidade, o estreito está a 53 graus sul, enquanto no mapa de 1515 aparece a 40 graus sul. O tratado, publicado em 1515 foi intitulado "Uma muito lúcida descrição de todas as terras".​ No exemplar republicado em 1520 por ele, um exemplar manuscrito, aparece o continente antártico, que não havia sido explorado ainda naqueles tempos.​ Em ambos, a América aparece mostrada como uma ilha.





Outro importantíssimo trabalho foi o Mapa Mundi de Domingos Teixeira, realizado por este cartógrafo português em 1573, pintado à mão sobre uma peça de pergaminho, e conservado até os dias de hoje na Bibliotheque Nationale de France. É um dos primeiros mapas-mundi completo, mostrando as rotas das especiarias, tanto a rota portuguesa de Vasco da Gama quanto a espanhola de Fernando de Magalhães (mostra a terra magalânica, ainda não circum-navegada por Ramírez de Arellano, a qual batizou como ilha de Xativa). Pode-se observar o alcance do meridiano de Tordesilhas, tanto pelo lado da América (Brasil) quanto pelo lado das Filipinas, as quais, atendendo a direito, seriam de Portugal.





É bastante interessante notar também as limitações dos trabalhos de cartografia desta época em desenhar à América do Sul. Os mapas abaixo são de 1630. E interessante notar a reprodução de um mito da época, de que os Rio Amazonas e Da Prata se encontravam numa lagoa no meio do Brasil (muito provavelmente confusão feita com o Pantanal em época de inundações), de forma que o Brasil seria praticamente uma ilha, que poderia ser circunavegada.



Outro Mapa Mundi famoso foi o desenvolvido por Abraham Ortelius, que nasceu em Antuérpia, que à época pertencia às Dezessete Províncias governadas pela dinastia dos Habsburgos. Membro da influente família Ortelius, da cidade de Augsburg, ele viajou extensamente pela Europa, ficando especialmente conhecido por ter viajado por todas as Dezessete Províncias. Em 1575, Ortelius foi designado geógrafo do rei de Espanha, Filipe II, por recomendação de Arias Montanus. Em 1578, ele lançou a base para o tratamento crítico da antiga geografia com o seu "Synonymia Geographica", editado por Plantin Press na Antuérpia e republicado em formato expandido como "Thesaurus Geographicus" em 1587, e novamente expandido em 1596. Na última edição, Ortelius considerou a possibilidade da existência da deriva continental, hipótese que foi comprovada somente séculos mais tarde.



Com a evolução do conhecimento geográfico e a evolução tecnológica, os Mapas Mundi foram evoluindo no tempo, até ganhar a cara moderna:













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