terça-feira, 5 de novembro de 2024

Princípios morais: primeiro passo de nossa humanidade para fortalecer comportamentos virtuosos que sustentassem nossa formação como civilização

A nossa essência humana passa pela nossa natureza animal, mas o que nos definiu e diferenciou perante todas as demais formas de vida que já viveram ou vivem neste planeta foi a construção de nossa humanidade pelo diferencial de nossa racionalidade.

A caminhada até a nossa espécie construir uma civilização foi longa e árdua, e durante a maior parte dos um pouco mais ou um pouco menos de 6 milhões de anos desde que nossos ancestrais mais antigos em comum com nossos parentes mais próximos na natureza tomaram rumos diferentes - quando houve a diferenciação entre protohumanos e protochimpanzés - as sociedades humanas não tiveram metal, escrita, estado ou força militar, que somente surgiram nos últimos 11 mil anos - por volta de 9.000 a.C. - período ao redor do qual foi paulatinamente havendo a passagem - levou séculos, com idas e vindas - de um estilo de vida caça-coleta para aquele que passou a girar em torno da agricultura.

Além da arqueologia, outros campos também endossam evidências de que esta mudança de comportamento da nossa espécie se iniciou há aproximadamente 11 mil anos: estudos de biólogos moleculares demonstram que os micróbios responsáveis por muitas (a maior parte) das "doenças de multidão" confinadas a humanos, surgiram pela contaminação de doenças de animais domesticados, como porcos e bois. E eles conseguem mapear molecularmente que estes contágios foram iniciados por volta de 11 mil anos atrás, confirmando que foi mais ou menos por volta de 9.000 a.C. que nossos ancestrais estreitaram o convívio cotidiano com estas espécies animais. Bandos humanos foram aos poucos deixando de vagar pela terra em busca de alimento, e passaram a se estabelecer fixamente num território para criar o seu próprio alimento, fosse de origem animal ou vegetal.

Esta transição da caça-coleta para o plantio e o cultivo da terra trouxe à humanidade alguns fatores específicos no que se trata de comportamento coletivo. Analisando-se os moldes em culturas humanas com padrões de vida similares que chegaram ao Século XXI - que tem a organização de sobrevivência seja pela caça-coleta seja por pequenos assentamentos isolados - alguns destes fatores são claramente visíveis.

Sociedades de pequena escala lidam de diversos modos com períodos de falta de suprimentos alimentares: mudam de acampamento, armazenam alimentos, fazem acordos entre grupos locais e produzem alimentos em faixas de terra situadas em diferentes áreas, dispersando suas áreas de cultivo e diminuindo assim seu risco de perda de safra por causas naturais. Esta reciprocidade generalizada foi essencial para a capacidade de sobrevivência em ambientes imprevisíveis.

Quando grupos dispunham de excedentes, convidavam vizinhos para um banquete, esperando a devolução do favor quando os outros estivessem com excedentes e eles não. A reciprocidade, pontuada por hostilidades ocasionais, é o comportamento mais comum entre pequenos grupos humanos. É o reforço da característica de forte constituição de laços sociais que trouxemos de nossa natureza animal.

Foi a partir desta mudança de comportamento que aceleramos os meios que nos propiciaram uma evolução mais contundente: as primeiras ferramentas de metal foram produzidas há aproximadamente 7 mil anos, a escrita e os primeiros governos organizados surgiram há cerca de 5.400 anos, e o primeiro estado teria sido formado há 3.400 anos. São todos períodos de tempo que representam uma minúscula fração na longínqua jornada da história humana neste planeta.

A partir de então, é assombrosa a velocidade na qual uma sequência de inovações revolucionárias aconteceu na história humana! Mas por que organizamos a nossa coletividade da forma que a ordenamos?

As evidências arqueológicas indicam que a organização em bandos passou a formar tribos há 13 mil anos. As primeiras chefaturas surgiram há cerca de 5.500 anos. Os estados começaram a surgir há 3.400 anos. As mudanças na estratificação política foram impulsionadas pelo aumento da densidade populacional. A medida que a humanidade crescia, surgia a necessidade de ser ordenado o convívio coletivo para viabilizar esta proliferação de nossa espécie.

Para compreender o processo de como este movimento aconteceu, é preciso entender as diferenças de convívio entre grupos humanos pequenos, médios, grandes e enormes. Mesmo estando no Século XXI, ainda existem estruturações humanas em todas estas escalas de ajuntamento coletivo. Assim como também convivemos com seres humanos vivendo em estado plenamente primitivo, alguns sob condições de sobrevivência similares àquelas em que viviam nossos ancestrais mais longínquos a terem vivido unicamente sob uma natureza animal, pois por todas as metrópoles construídas pela humanidade é possível encontrar pessoas em estado de mendicância, com corpos completamente tomados por sujeira e dormindo nas ruas, em um pleno estado o mais puramente animal possível. Os registros escritos mais longínquos no tempo que temos de nossos antepassados indicam que indivíduos vivendo sob tal estado sempre existiram, incapazes de gerar seus próprios meios de subsistência e vivendo exclusivamente de contribuições alheias para se manterem vivos, usufruindo da igualmente capacidade instintivamente animal humana de gerar uma rede de proteção a seus semelhantes. Tudo sendo fruto das características que essencialmente nos definem como humanos.

Igualmente, no Século XXI também existem ainda organizações sociais menores e mais rústicas, similares às primeiras que existiram. Para entender de onde viemos e o que construímos, é preciso avaliar estas diferentes escalas de agrupamento humano por uma ótica de aproximação. O ponto de referência de partida é o de tentar analisar estes grupos humanos que mesmo milênios depois do surgimento da civilização ainda vivem sob o estilo de caça-coleta, e entender suas diferenças perante aqueles pequenos grupos assentados e isolados. É uma avaliação que ajuda a entender como aconteceu esta transição, que se iniciou há aproximadamente onze mil anos, e a partir da qual se pode entender porque houve a necessidade de ordenamentos e comandos morais, os quais foram os que viabilizaram o homem ao hábito de ser gentil com estranhos, pois no mundo de caçadores-coletores, encontros com estranhos eram na maioria das vezes perigosos e tendiam a se tornar violentos.

Nas rotinas de vida dos grupos de caça-coleta, era raro que sociedades muito pequenas e isoladas encontrassem com estranhos, porque era muito perigoso viajar sem companhia em uma área não familiar. Ao se encontrar um estranho, era presumível que fosse alguém explorando um terreno com intenção de conquistá-lo para si, ou fosse alguém com a intenção de sequestrar uma jovem em idade de casamento e reprodução. Em qualquer caso de uma destas possibilidades, havia uma ameaça presente. Foi para superar tal ameaça que desenvolvemos a habilidade que nos define de construir laços sociais, buscando-os e descartando-os da forma que entendemos ser mais agradável e útil à nossa vida.

À medida que a nossa habilidade de construir laços e conviver em grupos maiores se desenvolveu, a nossa capacidade de viver em grupos ainda maiores aumentou. E novos dilemas se manifestaram. Os territórios foram sendo demarcados e defendidos quando dispunham de alguns recursos diferenciados pelos quais as sociedades primitivas julgavam que valia a pena morrer para fazer tal defesa. E os interesses e alianças em torno destes territórios foram deixando as relações humanas cada vez mais complexas, deixando que ficasse cada vez mais complicada a construção destes laços sociais que detemos como principal característica de diferenciação de nossa natureza.

As relações espaciais entre sociedades tradicionais vizinhas abrangem todo um espectro de soluções, indo desde territórios excludentes não superpostos, com fronteiras definidas, patrulhadas e sem qualquer uso partilhado, até o livre acesso a todas as terras, sem um território excludente. Sociedades que se aproximavam de territórios defendidos e mutuamente excludentes surgiram a partir de populações suficientemente densas e grandes para que alguns de seus indivíduos pudessem ser designados como patrulheiros. Observar sociedades similares em tamanho nos tempos modernos igual nos ajuda a entender a evolução deste processo. Nestes casos, geralmente é preciso haver um território produtivo gerando recursos suficientes para gerar um sustento de longo prazo, com melhorias a serem defendidas (como currais, pomares ou canais de irrigação) que justifiquem um esforço de proteção de acesso e usufruto. Ou ao menos que haja uma ameaça iminente, como um grupo adversário territorialmente muito próximo e não amigável.

Esta característica nasce sobretudo em regiões onde há escassez de recursos, e não onde há abundância pois, nestes casos, defender o acesso ao usufruto pode significar o limiar entre viver e morrer. Onde havia excesso de recursos naturais e não havia risco de faltar para ninguém, o custo de lutar pelo acesso era muito alto e não valia a pena ser corrido, afinal, em caso de abundância, as chances de morrer guerreando em conflitos eram maiores do que as de morrer pela fome.

À medida que os grupos humanos foram se adensando ainda mais, houve um amplo espectro de uso tradicional da terra, indo desde territórios bem demarcados, patrulhados e defendidos, dos quais estranhos eram excluídos sob ameaça de morte, passando por imprecisas áreas em torno de habitações sem fronteiras claras, que estranhos podiam usar mediante acordo mútuo, e chegando até áreas de habitação mantidas separadas de forma que fossem evitadas de maneira mútua e informal.

O aumento na capacidade de conviver em grupos cada vez maiores nos levou a testar os limites em que as relações poderiam ser construídas, politicamente harmonizando o emocional e o racional. A humanidade se construiu através de sequenciais laboratórios para testar a convivência. Isto fica explícito a partir das nossas referências de conhecimento mais antigas, as quais nos mostram que os grupos humanos sempre tenderam a viver próximos e a se relacionar entre si, e que eventualmente alguns, pelos mais diferentes motivos que possam ser imaginados, desgarravam-se para se aventurar e explorar lugares desconhecidos.

Os registros arqueológicos demonstram que já na Era Glacial, os humanos tinham dezenas de anos de experiência com comércio. Sítios arqueológicos em Cro-Magnon, onde hoje está a França, continham âmbar marinho do Mar Báltico, conchas do Mar Mediterrâneo transportadas por 2 mil quilômetros, além de obsidianas, sílex e outras pedras duras encontradas a centenas de quilômetros dali. Pelo estudo de algumas sociedades mais tradicionais contemporâneas, podemos entender esta natureza comum de realização de negociações com trocas explícitas (escambo), com os itens mudando de mãos ao mesmo tempo entre grupos distintos.

Em muitos casos, uma das partes dá um presente e o recebedor assume a obrigação de devolver o presente em valor equivalente e comparável em algum tempo indeterminado no futuro. Assim ainda acontece em agrupamentos humanos menores nos dias de hoje, e é muito provável que as primeiras trocas comerciais na humanidade tenham seguido este mesmo padrão, sempre com um propósito de construção de laços sociais, a característica mais forte e marcante da natureza animal humana. Assim como tendo semeado eventuais discórdias e conflitos a partir do momento que a expectativa de retribuição, fosse implícita ou explicita, era rompida.

Nas sociedades de pequena escala, todos transacionam. Os indícios nos estudos de crescimento destas sociedades menores comprovam que é só à medida que surgem as chefaturas e os estados incipientes, que surgem comerciantes especializados como facilitadores das trocas realizadas. Antes disto não havia tal especialização.

Em todas as sociedades humanas, tanto nos registros deixados em sítios arqueológicos como em sociedades de caçadores-coletores que sobreviveram até o Século XXI, os itens de troca podem ser divididos ente objetos de uso para sobrevivência na vida diária - desde matérias-primas até objetos manufaturados -, objetos de luxo e decorativos sem uso imediato para sobrevivência, e objetos intermediários, de uso prático, mas também capazes de conferir status social. É um padrão humano.

Inúmeros casos servem como exemplificação. O povo daribi, da Nova Guiné, vive em áreas de baixa densidade populacional na extremidade de vales densamente povoados e desflorestados das terras altas. Os daribi exportavam penas de aves do paraíso, abundantes em suas florestas, em troca de sal e machados de pedra polida. O povo pigmeu, das florestas africanas, trocava mel, carnes de caça e cogumelos com os agricultores bantos vizinhos, em troca de hortaliças, potes, ferro, tabaco e álcool. No Estreito de Vitiaz, os ilhéus trocam presas de porco, sagu, noz de bétele, contas, obsidianas e ocres vermelhos com os povos do continente, de quem recebiam porcos, dentes de cachorro, tabaco, potes, redes, arcos e flechas, e tinta preta. O povo inuíte, do litoral e do interior do Alasca, trocava produtos de mamíferos marinhos, como carne, pele e óleo de focas, gordura de baleias e marfins de morsas, por couro, chifres de caribu, piche e carne seca. Tais mecanismos provavelmente operavam de forma similar ao longo de toda a pré-história humana.

São muitos os entendimentos sobre a formação de nossa humanidade que nos são permitidas pelo exercício de analisar estas estruturas de agrupamentos sociais menores contemporâneos a nós, e eles nos permitem construir os paralelos com a nossa história evolutiva mais longínqua. Entre caçadores-coletores nômades e outros pequenos grupos móveis, disputas dentro do grupo podem ser resolvidas com o grupo se dividindo e os disputantes se afastando para outro local. Esta opção é difícil para agricultores assentados em aldeias ou vilarejos, que fizeram grandes investimentos em suas plantações, e por isto não as abandonam facilmente. Então, à medida que a humanidade se assentou e aumentou a sua capacidade de produção alimentícia, também fez crescer os estados de conflito.

A ausência de guerra foi documentada em um bom número de bandos pequenos de caçadores-coletores nômades de muito baixa densidade populacional, em ambientes inóspitos e improdutivos, com grande distância entre as habitações e pouca ou nenhuma posse que merecesse ser defendida. Ao que parece, as sociedades recorrem (ou não) à guerra depois de avaliarem o quanto lucrariam se iniciassem um conflito e qual a necessidade de se defenderem de ataques de outros. Mas também sempre houve outros fatores envolvidos: estudos antropológicos calcularam a partir de genealogias do povo ianomami, na Floresta Amazônica, que quando comparados homens que mataram ou não mataram pessoas, os que haviam matado tinham, em média, 2,5 vezes mais esposas e mais de 3 vezes mais filhos.

Isto é um exemplo da humanidade em seu estado mais puro e natural, afinal antes do ajuntamento em grandes aglomerados civilizatórios, tanto saber se defender quanto ter quem te defendesse, a si e à sua família, tinham um grande valor prático. Em sociedades de não-estados, processos de compensações geralmente envolvem escaladas de violência, pois estas sociedades carecem de mecanismos formais para impedir que indivíduos descontentes busquem atingir seus fins por meios violentos. Como um ato de violência tende a acarretar outro, a violência aumenta e se torna uma ameaça endêmica à paz nestes lugares. Daí que emergiu o fato de uma das preocupações principais de um governo estatal ser impedir que cidadãos usem a força uns contra os outros. Foi assim, a fim de manter a paz, que a autoridade política central demandou o monopólio de uso da força.

Em pequenas sociedades tradicionais, a forma mais disseminada de guerra documentada é composta por ataques surpresa, nos quais um grupo de guerreiros suficientemente pequeno para conseguir se esconder, avança furtivamente, faz uma incursão no território inimigo com o objetivo limitado de matar alguns indivíduos ou de destruir uma propriedade, e depois se retira. Outra estratégia muito comum são as emboscadas, nas quais os guerreiros, ao invés de uma movimentação furtiva, escondem-se à espera da passagem do inimigo para atacá-lo.

Quando guerras tribais são encerradas pela intervenção de chefaturas ou estados, os integrantes das tribos geralmente sentem uma melhoria de qualidade de vida. O aspecto mais vantajoso de estar sob um governo é a sua capacidade de instaurar a paz. Um estudo antropológico realizado com uma tribo da Nova Guiné assim que lhe foi imposto um controle governamental, registou o relato de um homem que explica tais razões: "A vida ficou melhor desde que o governo chegou, porque um homem não podia comer sem olhar sobre os ombros, nem sair para urinar de manhã sem o receio de ser alvejado. Todos os homens sentiam medo e tinham pesadelos nos quais ficavam isolados de seu grupo no campo de batalha durante uma luta". Portanto, o principal motivo de organização e formação da nossa humanidade sempre esteve associado à busca de obtenção de paz. É o que nos trouxe a sermos como somos.

É por causa disto que costumamos associar o estado animal mais primitivo da nossa natureza à guerra, e o estado social mais evolucionado de nossa humanidade à paz. Mas falaremos em mais detalhe disto mais adiante e veremos que há fatores mais complexos e mais profundos entre a paz e a guerra em nossa civilização que precisam ser explorados para serem perfeitamente entendidos. Por hora, vamos nos concentrar nesta visão mais simplificada sobre quais foram as implicações que nos levaram a construir a nossa humanidade como a construímos.

A nossa natureza animal, herdada de nossos antepassados distantes, deu-nos as características de vida em bando, de construção de laços sociais e de defesa dos mais vulneráveis. Observar tais comportamentos em sociedades menores nos ajuda a entender como tais características evoluíram na formação de nossa humanidade. Neste contexto, a escolha entre viver em guerra ou em paz nos trouxe outras características para a formação dos nossos laços humanos coletivos.

Em todas as formas de estado social conhecidas, há o desejo de que as crianças se tornem adultos úteis e obedientes como cidadãos - independente se sejam soldados ou trabalhadores - cooperando pela harmonia de convívio social coletivo. Isto tende a ser uma essência de nossa humanidade. Mas os meios desta formação foram se modificando ao longo do tempo. Os estudos antropológicos nos indicam que a média de idade do desmame de filhos nas sociedades caçadoras-coletoras que viviam no Século XX era de 3 anos, e em sociedades de pequenos agricultores esta média caía para 2 anos. O envolvimento do pai no cuidado dos bebês é menor do que o da mãe em todas as sociedades humanas conhecidas. Ainda assim, na ampla maioria destas sociedades, o pai sempre desempenhou um papel significativo na provisão de alimentos, na proteção e na educação das crianças. Também é interessante notar que as brincadeiras infantis nas sociedades de pequena escala costumam envolver partilha e comunhão, desencorajando competição, contagem de pontos, e inclusão de ganhadores e perdedores. Foi a escolha entre viver em estado beligerante ou em estado pacífico o que afetou as formas como este convívio e estas relações foram permitidos.

A forma como o convívio social se construiu também foi se moldando a partir das escolhas feitas durante este processo de multiplicação do adensamento demográfico. Partindo da natureza de formação de bando germinada pela nossa natureza animal, ao analisarmos os grupos de caça-coleta contemporâneos, entendemos como orginalmente nós nos agrupávamos. Observando os núcleos de convívio, as formas de viver mais comuns nas sociedades tradicionais consistem em uma família extensa dentro de uma mesma habitação ou abrigo comunal, em que todos dormem juntos. É a forma mais prática de construir unidade a partir das diferenças individuais, assim como de proteger o bando.

Outra característica essencialmente humana que evoluiu a partir de nossa natureza animal foi a capacidade de resguardar e dar proteção às pessoas mais velhas. Hoje os idosos desfrutam vidas muito mais longas, uma saúde muito melhor, e estão sujeitos a muito menos perdas de filhos do que em qualquer outra época da história humana. Mas nem sempre foi assim.

Os programas de aposentadoria financiados por recursos públicos surgiram na Alemanha com o chanceler Bismarck em 1.880, espalhando-se primeiramente pela Europa e Estado Unidos nas décadas seguintes, até se espalharem por todos os continentes. A expectativa de vida humana duplicou pela melhoria da saúde pública, com fornecimento de água potável e vacinação no combate a doenças infecciosas, pela melhor distribuição de alimentos, e pela existência de mais segurança pública. No passado remoto, entretanto, esta realidade era muito distinta. Antes que governos estatais começassem a reduzir o impacto das fomes generalizadas, a cerca de 400 anos, e, especialmente, antes das medidas de saúde pública adotadas que venceram as doenças infecciosas, a cerca de 200 anos, a expectativa de vida nas sociedades de estado da Europa e da América do Norte não era mais alta do que as de sociedades tribais tradicionais. Em meio a tal exposição, a busca de zelo pelos mais vulneráveis sempre foi uma preocupação característica que nos moldou.

Não é possível aprofundar tal reflexão, no entanto, sem antes abrir um parêntesis para falar de nossas identidades culturais, nossas crenças, e na evolução de nosso conhecimento, pois entender tais dinâmicas é fundamental para amadurecer esta reflexão. Por hora, o importante é entender qual foi a necessidade central que se tornou o padrão organizacional de nossa humanidade: em toda sociedade humana politicamente complexa nas quais as pessoas encontram outros indivíduos com quem não têm vínculo familiar ou relacionamento de clã, a regulamentação do governo foi criada justamente por ser necessária para o cumprimento de princípios morais, um primeiro passo principal de nossa humanidade, necessário para buscar fortalecer a evocação de comportamentos virtuosos que sustentassem a nossa formação como civilização. Tudo com um único objetivo final: zelar por um convívio social coletivo o mais pacificado possível.


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