Os laços sociais humanos de convivência na coletividade são todos baseados numa expectativa generalizada de reciprocidade como forma essencial de sustentação à nossa capacidade de sobrevivência diante da imprevisibilidade. Isto está nas raízes mais profundas de nossa humanidade, fazendo parte do meio pelo qual buscamos a obtenção de paz e de harmonização de nossas vidas.
Vivemos e evoluímos à base de exploração do nosso racional e do equilíbrio entre isto e a nossa estrutura sentimental, ambos construídos à base da busca por uma boa convivência humana. Estes aspectos dependem de algumas virtudes, como respeito, empatia e afeto frente à diversidade de personalidades humanas, assim como depende também de um compromisso de responsabilidade perante a coletividade social humana.
Todos estes fatores são vitais para que possamos evoluir individualmente como pessoas, pois é a partir disto que construímos convivências saudáveis com as outras pessoas e com todo o mundo que está à nossa volta - a natureza como um todo, o planeta - fatores que são vitais para a nossa saúde emocional e assim, para a formação do nosso ser. A nossa evolução como indivíduo está associada à nossa capacidade de aprender a sentir a vida que nos cerca, tanto em termos naturais como humanos.
A nossa humanidade nos mostra que vivemos à base da reciprocidade perante toda a nossa espécie. As trocas não são somente físicas, são sobretudo emocionais. A nossa humanidade, assim como tudo na natureza, está relacionada à harmonização das diferenças, onde o convívio coletivo faz com que as qualidades se complementem e os problemas se corrijam uns aos outros através destas trocas, elevando a nossa consciência individualmente e coletivamente como um bando de humanos.
No cerne de nossa evolução como espécie está a construção de elos sociais à base de expectativas em torno de trocas. A simbologia da troca de presentes é tão só uma materialização desta essência, que está encrustrada em nossa estrutura emocional. Oferece-se algo e espera-se que em algum momento haja retribuição. Esta lógica de presentes se esconde nos traços de todo e qualquer laço humano: não receberá de volta quem parar de oferecer. Quem fornece amor, carinho e outras energias positivas, receceberá de volta positividade em suas relações humanas. Quem oferece ódio, rancor e outras energias negativas, receceberá de volta negatividade nas suas relações.
A fluidez de energias nos laços humanos respeita esta lógica essencial. Há que se ter consciência apenas de que as relações são humanas, não são exatas e matemáticas. A intensidade deste ir e vir varia, e temporalmente os retornos também oscilam. Cada pessoa tem seu tempo. Ao mesmo tempo, a reação do coletivo em relação a você também tem expectativa própria em relação ao seu tempo de fluidez. Reações que demoram a fluir podem vir a ser interpretadas como se não fluíssem.
Também há estoques em torno das expectativas formadas, isto é, se por muito tempo as energias que estavam fluindo de você para o mundo eram negativas, a medida que passem a ser positivas o acolhimento não será imediato. Por outro lado, no caminho oposto, na nossa natureza animal como espécie o istinto de autodefesa faz com que as energias negativas, quando manifestadas, tendam a descontruir de maneira muito mais rápida qualquer histórico de energias positivas que se tenha acumulado. Se você, no geral, sente que não está recebendo dos outros o que esperava cabe, primeiro, buscar entender o que você está oferecendo nas suas relações e, em segundo, o que as pessoas com quem você se importa esperavam receber de você. Esta é a natureza de fluidez das energias emocionais nas relações humanas.
Esta nossa humanidade nos indica que construir laços afetivos é o fator mais fundamental de todos! A isto se condiciona o nosso potencial de felicidade. E isto exige uma combinação de prudência e de observação, ambos tanto em relação aos outros como em relação a si mesmo. Isto é, está relacionada à capacidade de autoconhecimento para, a partir dele, elevar a sua potencialização como pessoa.
No Século XX, Sigmund Freud, no campo da psicologia, classificou a psique humana em três partes: id, ego e superego. Segundo a sua definição, o id se refere à natureza animal humana, o lado mais primitivo de nossa estrutura mental. O superego seria o nosso sistema próprio de julgamento, instalado em nós pela sociedade na qual estamos imersos, ou seja, justamente pela força que a nossa humanidade exerce sobre nós; isto é, a força do coletivo sobre a essência do que cada um de nós somos como indivíduos.
Por fim, a terceira parte definida por Freud é o ego, que é onde é construída a identidade efetiva de cada um, o "eu" que se esforça para manter um equilíbrio entre as nossas duas poderosas forças do id e do superego.
Como visto, o processo de lidar com a nossa natureza, e assim se encontrar como ser, está associado a ter o conhecimento das causas e a consciência das consequências em relação a tudo. Este caminho de entendimento é a evolução, seja como indivíduo, como grupo social ou como civilização. Entender a nossa humanidade e o que nos trouxe coletivamente até aqui, e a partir disto entender a si próprio, é o poder libertador de transformação deste conhecimento em consciência.
Individualmente, a consciência é a percepção de si próprio, a noção intuitiva da própria existência, de percepção do seu ser. A cada estágio da vida, há pensamentos, objetos, fatos e coisas passando por sua vida, um mundo inteiro que entra pelos seus sentidos para dentro de você. Evoluir é ter consciência de você estar ciente sobre tudo, e nunca esquecendo da lição nos dada por nosso universo: nada é estado definitivo, tudo é passível de ser transformado.
De nossa natureza animal, o fluxo de energia mais primitivo que detemos é o de sobrevivência, a luta cotidiana de autoproteção. Dentro do contexto de mudanças evolutivas de nossa humanidade, alinhada à característica dos seres humanos de viver em estruturas sociais cooperativas, atualmente vivemos num contexto civilizatório em que as ausências de comida, água, roupas ou abrigo já não são tão marcantes como foram no passado remoto de nossos ancestrais distantes, como consequência disto a nossa energia de proteção se adaptou para defender a nossa imagem, tanto aquela que temos de nós mesmos, quantos aquela que os outros têm de nós.
Hoje, tendemos a nos esforçar em defender mais à nossa imagem do que ao nosso próprio corpo. Assim, nossos maiores temores e inseguranças pessoais passaram a girar mais em torno dos padrões de comportamento e menos em torno das forças externas. Nosso interior como pessoa se tornou um desafio maior do que a física que cerca ao nosso corpo.
Uma pessoa consciente não está imersa passivamente nos acontecimentos ao seu redor, mas vivencia tanto todos os acontecimentos quanto a todos os pensamentos e emoções correspondestes a eles. Isto é lucidez em relação a seu ser.
A importância de termos a consciência sobre as forças de nossa natureza e de nossa humanidade, que cercam os porquês de como somos, existe porque, em meio a tudo que nos cerca, nosso centro de consciência tem que ser forte o suficiente para saber de quais forças externas devemos nos afastar e a quais devemos nos conectar.
Estas são as escolhas que escrevem seus passos nesta vida e determinam as consequências que construirão ao seu futuro por aqui. Esta autoconsciência de se conhecer e saber o que verdadeiramente deseja em sua caminhada é o que o protege do sofrimento de danos psicológicos e lhe permite seguir adiante livre para explorar a tudo que o cerca.
Nossa humanidade nos impõe que nossa evolução na vida esteja condicionada à relação que nós temos com tudo. Construímos não só a forma como lidamos com o coletivo, como também a forma através da qual o coletivo se relaciona conosco, porque ele refletirá a forma como escolhemos lidar com ele. Nossa vida está condicionada a que passemos o tempo fazendo escolhas nesta relação. Em cada momento vivido, temos que escolher de que nos desapegaremos e em que nos embrenharemos, tanto física quanto emocionalmente. Trata-se de escolher a quais lutas enfrentar e a quais relevar.
Em cada escolha feita, ganhamos algumas coisas e ao mesmo tempo perdemos outras. Não há escolhas que só deem ganho, assim como não há as que só nos tragam perdas. Leva algum tempo após cada escolha para que possamos entender quais ganhos ou quais perdas cada uma delas nos proporcionou. Quando então as entendemos, temos que voltar a escolher se seguimos no caminho desta escolha, ou se o abandonamos e revisitamos a escolha feita em prol de seguir por outro caminho, revendo nossa posição. É disto que se trata a vida e a relação entre você e tudo.
Nosso universo, nossa natureza e nossa humanidade convergem justamente neste ponto: a capacidade de tomada de consciência das consequências de cada uma de nossas escolhas. Se nosso universo nos sinaliza que a transformação é uma constante na nossa jornada espiritual, para crescer é preciso abrir mão da luta para permanecer igual, e aprender a acolher mudanças o tempo todo. E isto tem total relação tanto com a nossa natureza de construção constante de laços sociais para um convívio como bando, como com a nossa humanidade de encontrar equilíbrio entre as explorações de nossa racionalidade e de nossa sentimentalidade.
Unindo estes fatores, a área na qual mais devemos adotar esta ideia é no modo de resolver os nossos contratempos pessoais. Normalmente tentamos resolver as nossas inquietações interiores nos protegendo, mas a nossa real transformação começa e se torna evolução, quando aceitamos os problemas como agentes do nosso crescimento. Precisamos fracassar e entender os nossos fracassos para a partir disto edificar os nossos alicerces. Trata-se de aprendizagem constante em cima dos erros que sejam cometidos. É o que nos leva adiante e nos fortifica.
Passamos cada um dos dias de nossas vidas fazendo escolhas, algumas simples outras complicadas, e absolutamente todas têm consequências para nós, as mais simples terão consequências pueris e as mais complexas serão aquelas que definirão o nosso futuro.
A vida não é simples porque as consequências das escolhas mais complexas não são imediatamente perceptíveis. Algumas delas sequer serão completamente percebidas, mas elas existem, são um fato e nos deixam consequências. É a história das coisas que estão acontecendo ao nosso redor sem a gente tomar consciência (a "mão invisível" operando no universo). Mas as marcas estão sendo deixadas, por isso precisamos estar constantemente refletindo sobre as nossas decisões, e estar constantemente aberto a transformações, a revisões de nossas caminhadas. Para isto temos que entender, analisar e refletir sobre todo o universo de coisas que chegam aos nossos sentidos, e sobre os ambientes dos quais tais coisas estão chegando até nós.
Devemos constantemente estar escolhendo, revisitando e fazendo novas escolhas frente a quais caminhos trilhar, a que se manter apegado, e do que se desapegar. Isto é estar sempre buscando um equilíbrio racional e sentimental do que nos está fazendo bem.
Os elementos que compõem a nossa humanidade, no entanto, vão além daqueles que definem a nossa capacidade de controlar os elementos de nossa natureza animal através da forma de organização coletiva do crescimento de nossa espécie. Estes elementos também são influenciados pelos elementos geográficos característicos da terra onde nascemos e onde crescemos, assim como pelas crenças e elementos culturais que formam os meios para tentar entender o que compõe este mundo à nossa volta. Parte expressiva do que somos como humanidade nos foi dado pela terra onde vivemos e pelas crenças que nos foram apresentadas nela, fatores sobre os quais necessitamos mergulhar mais fundo para nos entender.
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