terça-feira, 10 de setembro de 2024

A nossa natureza nos diz que nossa vida não pode ser guiada apenas pela razão, tendo que ser guiada também pela emoção

O entendimento da dualidade entre nossos instintos animais elementares e a força e habilidade intelectuais que nos diferenciam de todos os demais animais com os quais compartilhamos o planeta está bem registrado desde os primórdios do desenvolvimento intelectual da raça humana.

Onde talvez tenha sido melhor expressado este entendimento tenha sido na mitologia grega, na qual havia toda uma simbologia em torno de seres metade homem e metade animal. Entre estes seres mitológicos simbólicos, havia aqueles na qual a capacidade física humana era comandada pela cabeça - símbolo do intelecto - de um animal em um corpo humano, e em contra-ponto havia aqueles que usavam a força de seu instinto animal em prol de sua potencialização mental como ser humano (tinham cabeça humana em corpos animais). Era a sintetização de capacidade de todos nós, os seres humanos, pois em um caso o domínio e o controle eram dados pelo instinto animal, enquanto em outro, era o intelecto humano quem tinha o controle sobre seu lado animal.

Se não fossemos capazes de domar aos nossos instintos animais, jamais teríamos rumado a ser uma civilização. E uma coisa é fundamental de ser entendida: domar não significa ignorar, muito pelo contrário, significa entender e usar este instinto a nosso favor em nosso desenvolvimento como indivíduos. Porém, tendo que haver a consciência de que não são nossos instintos que nos controlam, somos nós quem controlamos os nossos instintos. É isto o que nos faz ser humanos. É isto que nos diferencia de todas as outras espécies com as quais convivemos. Há que se aprender a entender e lidar com o fato de que nunca conseguiremos nos livrar dos nossos instintos animais, e nem devemos! Temos que conviver e lidar com eles em busca de encontrar o caminho que desejamos seguir em nossas vidas. Isto é a guia que devemos seguir em busca de pegar a melhor trilha que nos conduzirá às melhores escolhas para encontrar os nossos propósitos de vida.

A característica mais marcante que sustentou a sobrevivência de nossa espécie neste planeta e a trouxe até os dias atuais foi a força instintiva que os seres humanos trazem em sua matriz de comportamento animal que favorece àqueles que detém uma maior capacidade de formação de laços sociais. Este é o cerne do que nos construiu como humanidade.

Antes de sermos seres humanos, somos animais, e de uma espécie cujo comportamento viabilizou a nossa sobrevivência ao longo da história frente a forças físicas e ferocidades maiores do que a nossa, com um comportamento todo voltado para viver em bando, com uma capacidade de aprendizagem cultural diferenciada, a qual teve importantes consequências sobre nosso tempo de maturação e de aprendizagem social coletiva. O que realmente fez os Homo sapiens se diferenciaram na história deste planeta foi a sua capacidade de cooperação em grupo.

E o que nos fez evoluir foi a nossa capacidade de inovar para encontrar soluções que potencializavam coletivamente a esta nossa capacidade instintiva de cooperação, transformando as nossas inovações e o aumento de nossa capacidade de conhecimento em meios que viabilizaram que nosso bando neste planeta chegasse a se aproximar da dezena de bilhão.

Uma capacidade ditada por um senso prático e pragmático, pois o que realmente sempre importou não foi quem tinha ideias novas, mas sim quem conseguia construir as relações sociais necessárias para tirar a iniciativa do campo das ideias e materializá-la no campo das ações, em soluções que gerassem benefício coletivo.

Entretanto, o propósito de entender a nossa capacidade de se envolver nesta engrenagem de mobilização social coletiva envolve nossa capacidade de se autoconhecer, de entender quem somos como indivíduos. A força instintiva de nossa natureza animal nos delineia de uma forma ampla e profunda, sendo ela o que nos fornece um pacote de sentimentos elementares que formam toda a nossa essência como pessoas: vigilância, extasia, admiração, ira, terror, assombro, repugnância e angústia. Estes oito sentimentos são o cerne do leque de todas as emoções que nos formam como pessoas, todos os nossos demais sentimentos derivam deste pacote elementar. O nosso autoconhecimento passa por entender como reagimos, e em qual intensidade, diante de cada um deles, assim como de todos os demais sentimentos destes oito derivados.

Esta guia que forma os nossos sentimentos e emoções se manifesta de diferentes formas na nossa formação humana como indivíduos. É a nossa natureza animal aquela que nos faz passar - todos nós como indivíduos - por ciclos similares ao longo de nossa jornada de crescimento e desenvolvimento. Esta nossa natureza animal não é estática, ainda que tenha elementos que nos delineiam, definindo nossas características e forças de caráter. Somos seres com força mutável, oscilando de acordo a cada etapa de nossas vidas, em movimentos que devemos entender para nos conhecermos melhor e assim explorar nossas individualidades em prol do máximo desenvolvimento de cada um de nós.

A partir do momento em que nascemos, em nossos primeiros anos de vida a nossa consciência está em processo de formação, uma fase na qual há o encontro entre o nosso corpo espiritual (nosso "eu") e o nosso corpo físico. É a fase de nossas vidas na qual está havendo o amadurecimento de nosso sistema nervoso, sendo, portanto, tão importante que esta formação seja cercada pela "proteção do bando". Esta fase primordial de nossas vidas, na qual ainda não temos consciência, e por isso da qual teremos poucas lembranças em nossas memórias, é crucial para o estímulo às três faculdades humanas: erguer-se e andar (espaço físico), falar (espaço social) e pensar (espaço espiritual). É crucial também para o desenvolvimento dos quatro sentidos básicos: o tato, o vital, o movimento e o equilíbrio. Herdamos da nossa natureza animal a característica de ser esta uma fase de desenvolvimento na qual a referência psicológica de formação está quase toda ela associada à figura materna, pois na nossa era animal antepassada era a mulher (a mãe ou uma avó, geralmente) quem detinha a imagem de dar proteção emocional no núcleo de convivência do bando.

Por volta dos seis ou sete anos de vida se inicia a fase de formação de temperamento, quando costuma haver a migração do ambiente conhecido e protegido de núcleo familiar para as situações de confronto e desafio do mundo exterior a este núcleo. Somos forçados à individualização de nosso corpo vital, quando há um "acordar do eu" no plano sentimental. Novamente herdamos de nossa natureza animal que esta fase tenha como característica de desenvolvimento uma referência psicológica de formação que costuma passar a ser a figura paterna, pois na nossa era animal antepassada era um homem (o pai geralmente) quem detinha a imagem da força física que enfrentava os desafios fora da proteção do bando.

As nossas características de formação de temperamento costumam combinar pré-disposições genéticas herdadas dos progenitores com aprendizagens culturais e sociais com o grupo de convívio, ou seja, os "demais integrantes do bando". A psicologia organizou estas características temperamentais em quatro grupos de temperamentos: os associados ao fogo, considerados coléricos, os associados ao ar, considerados sanguíneos, os associados à água, considerados fleumáticos, e os associados à terra, considerados mais melancólicos. Todos temos combinações de todas estas tendências temperamentais, mas claramente com algumas predominando sobre outras em cada indivíduo. Como desenvolvimento pessoal ao longo de nossa vida, devemos buscar equilibrar estas características de temperamento em nossas personalidades.

Pré-formados como indivíduos, a fase seguinte na qual todos entramos é a adolescência, na qual somos jovens almas em busca do entendimento de si mesmo, fase na qual todos buscamos entender: "quem sou eu?", "qual a essência de minha origem?", "qual o meu papel neste mundo?", entre tantos outros autoquestionamentos. É uma importante fase de amadurecimento do "eu social", fase da vida na qual os psicólogos costumam dizer que nasce a nossa alma, com o nosso corpo astral sendo individualizado. É a fase da rebeldia, porque o jovem quer entender e encontrar o seu lugar no mundo externo, longe das amarras familiares que conduziram sua vida até ali. É a fase em que todos costumamos testar os limites da aceitação social coletiva.

Superada esta etapa, chegamos à nossa "maior idade", quando enfim a sociedade - o "nosso bando" - nos cobra que assumamos as responsabilidades individuais perante a coletividade. Porém, ao mesmo tempo, é a nossa fase de sentimento de um "ser invencível", sentindo-nos no máximo de nossa potencialidade física. O "eu" quer se posicionar no mundo, assim nos sentimos como sendo a pessoa mais importante, cujo ponto de vista sempre tem que prevalecer. Estamos cheios de ideias e temos que trazê-las para a realidade, sendo uma fase na qual o objetivo principal é o aprimoramento de desenvolvimento das nossas habilidades técnicas. Costuma ser a fase na qual há a preparação do terreno para a construção daquilo que viremos a ser na vida. É geralmente por volta dos 28 anos que atingimos o ápice de capacidade de nossas energias físicas, o que nos dá um ápice de sentimento de poder, que nos faz sentir quase indestrutíveis.

Passada tal fase, a partir da virada para os trinta anos costumamos viver uma época de muitas dúvidas e questionamentos pessoais, com muita autorreflexão e com uma pergunta em nossas cabeças: "será que estou no caminho certo?". É uma fase na qual pessoas bem-dotadas intelectualmente e brilhantes durante a fase de início da maioridade, correm o risco de se apagarem se não acharem as suas respostas interiores. Na construção de nossa pessoa, costuma ser a fase quando são postos os pilares de nossos fundamentos e erguidas as paredes da construção de nosso caminho nesta vida, quando mais devemos refletir se estamos construindo pilares e paredes realmente sólidos em nossas trajetórias.

Depois vem a fase de aproximação de virada dos quarenta anos, que costuma ser um ciclo de "novas visões", sendo uma nova fase de maior interiorização, porque geralmente, se tenha havido até então um desenvolvimento emocional saudável, é quando se encontra o âmago da própria alma, desta vez buscando-se a própria essência: "o que eu sou realmente?". É a fase de sedimentação do trampolim para os anos de manifestação de nosso cerne espiritual, de encontro ao que realmente semeamos em nossas trajetórias. Para aqueles que tem tal perfil, é geralmente depois de passar por este processo que uma pessoa costuma estar pronta para liderar e gerenciar outras pessoas.

A entrada nos quarenta anos de vida costuma ser uma fase em que temos a capacidade de entender melhor a paisagem da nossa vida e todas as suas diversas correlações, sendo ao mesmo tempo uma etapa de "crise existencial", pois representa a preparação para a entrada de cada um de nós na fase mais espiritual da vida, pois o rumar dos quarenta aos cinquenta anos é a hora de manifestar a contribuição única de cada um, aquela exclusiva de cada ser. A ampliação da consciência nos faz ascender e crescer em nosso desenvolvimento e em nosso crescimento pessoal (contraposto a nosso decrescimento biológico e físico vivido neste momento), o que representa um desafio crescente quanto ao autoconhecimento e ao pleno desenvolvimento. É uma fase de decaimento de nosso corpo físico e de nossa criatividade. Espiritualmente costuma haver um sentimento de reencontro com a adolescência, uma busca de recuperação pela perda da beleza física que está decaindo. A beleza desta fase está na harmonia interior, quando a experiência se torna vivência. É a nossa preparação individual para o momento de atingir o ápice de nossa montanha, de nossa escalada nesta vida.

A partir de então, ao se cruzar os cinquenta anos, entra-se numa fase da sabedoria, na qual se deve aprender a obedecer aos sentimentos, a desenvolver a paciência e a ter uma atividade mais contemplativa perante o que acontece com nossa vida. Costuma ser a época mais altruísta da vida, quando começamos a entender que estamos rumando em aceleração do decaimento de nossa energia física, rumando à velhice, fase na qual então enfim encontraremos a nossa vertente mais mística, de irradiação da luz espiritual que a vida de cada um tenha acumulado.

Todas estas características comuns de nosso amadurecimento e evolução como pessoas são herdadas da nossa natureza humana ligada à raiz animal que há em nós. A raça humana não teria sobrevivido se puramente racionalizasse todas as suas decisões. Nossos instintos animais guiam fortemente as nossas emoções, e são fundamentais quando somos jovens a manter uma chama reprodutiva que sustenta a sobrevivência de nossa espécie. Nossas emoções e nossas características pessoais derivadas delas são guiadas por forças corporais interiores, determinadas por inundações químicas hormonais jorradas em nosso sangue.

Para uma trajetória saudável nesta jornada, precisamos entender em cada fase para qual direção queremos seguir. Sabendo que as respostas nunca são definitivas, e os rumos podem sempre ser reajustados quando entendemos que assim se faz necessário. Mas temos que saber que uma jornada para ser saudável precisa de perseverança e constância, sempre visando encontrar as motivações que nos façam superar as apatias nos impostas por nossa natureza animal. Nossa caminhada precisa ser um processo contínuo de educação do corpo físico, das emoções, da mente e das emoções. Sempre com perseverança, ou seja: construindo um trajeto rumo ao que queremos, fazendo sempre o que precisamos, sem pressa e sem pausa. E sempre com constância, ou seja: relembrando-se sempre e continuamente porque se está fazendo o que se está sendo feito. A ordem é o que abre caminho para que a nossa vontade chegue ao mundo, e a disciplina é fundamental para a obtenção de ordem em nossas vidas!

A vida é um processo complexo exatamente porque viver coletivamente em bandos imensos, como nossa natureza animal nos levou a viver, é algo árduo e cheio de variantes. Mas ao mesmo tempo é a energia de nossa própria natureza animal o que nos guia. Precisamos tão só refletir e entender como estas forças instintivas estão nos guiando. É a nossa natureza quem nos diz que nossa vida não é nem pode ser guiada apenas pela razão, havendo que ser guiada também pela emoção!

Por exemplo: se tivéssemos desde sempre a consciência plena do quão é difícil combinar características diferentes de duas pessoas para resultar numa união de convívio prolongado dividindo responsabilidades sob um mesmo lar, os seres humanos jamais teriam constituído famílias. Se não fossem as chamas químicas que trazemos em nossos instintos animais que nos fazem impulsivamente buscar parceiros na juventude, não haveria núcleos familiares. Se fossemos plenamente racionais e calculássemos a finco todo o esforço de geração de recursos exigidos de nós quando temos filhos, jamais teríamos estímulo a nos procriarmos. Mas trazemos um pacote institivamente emocional em nossos processos químicos interiores que nos fazem sentir emoções mais intensas do que a razão, em prol de que espermatozoides e óvulos se encontrem para gerarem aqueles embriões que são os únicos responsáveis pela perpetuação da raça humana.

Jamais devemos nos esquecer que o nosso universo indica para a nossa vida que a prosperidade dela só é encontrada em tudo e em todos quando há equilíbrio e harmonização entre as oposições, neste caso aqui manifestadas entre a emoção e a razão. Se é a emoção o que institivamente nos guia a encontrar parceiros na vida, é a razão na hora de equilibrar emoções o que nos permite dar longevidade aos relacionamentos estabelecidos. Qualquer convívio entre pessoas é um encontro de turbilhões de pacotes de emoções e sentimentos levados por cada um dos atores para dentro deste convívio. E na natureza o conflito acaba sendo uma derivada incondicional neste encontro entre turbilhões. Se ambos os lados não estiverem racionalmente dispostos a ceder em parte às posições institivamente colocadas nos relacionamentos, estes não se sustentam no tempo. É o encontro entre a nossa natureza e a nossa humanidade.


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